Topo

Bolsonaro e Lula iniciam campanha mais polarizada em décadas no Brasil

16/08/2022 10h14

O Brasil entrou oficialmente nesta terça-feira (16) em campanha eleitoral com Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como protagonistas da disputa presidencial mais polarizada em décadas.

O presidente Bolsonaro, 67 anos, discursou na mesma esquina em que foi esfaqueado na campanha de 2018, em Juiz de Fora, Minas Gerais: "A cidade onde renasci", disse na abertura de um discurso carregado de declarações patrióticas e alusões a Deus e à Bíblia.

Com um casaco preto fechado até o pescoço, Bolsonaro reforçou sua promessa de lutar contra a inflação de dois dígitos, o aborto, as drogas e defender a propriedade privada, alertando para uma ameaça "comunista" caso perca as eleições.

"Mito, mito, mito!", cantaram centenas de apoiadores. Sua esposa, Michelle Bolsonaro, expressou ainda mais entusiasmo.

Bolsonaro se referiu à esposa como a pessoa mais importante do local. A fervorosa evangélica se apresentou ativamente na pré-campanha.

Michelle, vestida com uma camisa amarela, convidou o público a rezar o 'Pai Nosso' e comoveu a multidão, constatou a AFP.

Está em jogo nessas eleições "o nosso futuro, o futuro das nossas crianças, o futuro das coisas que a gente defende como certo, que é a família, a pátria, a maioria ou a totalidade das pessoas que estão aqui é temente a Deus, são religiosos", afirmou Márcio Bargiona, um policial reformado de 55 anos.

- Lula volta a suas origens -

O ex-presidente, que lidera as pesquisas, visitará a fábrica de uma montadora de carros em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, onde se tornou líder sindical nos anos 1970 e seu berço político.

"Foi aqui que tudo aconteceu na minha vida: foi aqui que aprendi a ser gente, foi aqui que adquiri consciência politica e foi por causa de vocês que eu fui um bom presidente da Republica", discursou o líder do PT, vestindo uma camisa branca, de uma pequena plataforma cercada por centenas de metalúrgicos.

Apesar de seus 76 anos, Lula afirmou estar com "a energia de 30" e que voltará ao poder para "recuperar o país". Ao mesmo tempo, criticou Bolsonaro, que chamou de "genocida" e "negacionista" pela gestão da pandemia, que no Brasil já deixou mais de 680 mil mortos.

"Se tem alguém que é possuído pelo demônio, é Bolsonaro", acusou o ex-presidente, levando os apoiadores ao delírio.

"Lula é a esperança da volta de condições melhores para os brasileiros. Eu me identifico com ele como metalúrgico, ele representa o poder dos trabalhadores", disse à AFP o soldador Maurício Souza, de 48 anos, que recebeu seu candidato tocando trompete.

- Disputa de legados -

Lula, que recuperou seus direitos políticos em 2021 após a anulação de suas condenações na Lava Jato, segue liderando as pesquisas, embora Bolsonaro pareça diminuir a distância.

Na segunda-feira, o instituto Ipec indicou que Lula tem 44% das intenções de voto no primeiro turno em 2 de outubro, contra 32% para Bolsonaro.

"Temos em 2022 a eleição presidencial mais polarizada desde a redemocratização. Isso porque é a primeira vez que teremos uma disputa de legados, entre um presidente e um ex-presidente", explicou à AFP Adriano Laureno, analista político da consultora Prospectiva, classificando a eleição como a mais "polarizada" desde a redemocratização, em 1985.

Bolsonaro definiu a campanha como uma batalha entre "o bem e o mal", afirmando que a volta de Lula ao poder poderia significar a instalação do "comunismo" no Brasil.

Já Lula promete restaurar as conquistas sociais das classes mais vulneráveis que caracterizaram seu governo.

A principal preocupação dos brasileiros, segundo as pesquisas, é a situação econômica, marcada nos últimos anos por altos níveis de desemprego e uma inflação crescente que enfraqueceu a popularidade de Bolsonaro.

Embora a tendência seja o presidente fortalecer sua popularidade com os recentes cortes nos preços do combustível, o aumento do auxílio social e a maior aparição da primeira-dama Michelle Bolsonaro na campanha, a grande incógnita dos analistas é se há tempo para uma reviravolta eleitoral.

Mais de 156 milhões de brasileiros estão registrados para votar no dia 2 de outubro, primeiro turno de uma eleição em que também serão disputados cargos de deputados, senadores e governadores.

- Voto eletrônico, "orgulho nacional" -

A pré-campanha foi marcada pelo constante questionamento de Bolsonaro -sem provas- sobre a confiabilidade do sistema de votação eletrônica, levantando temores de que o presidente poderia não reconhecer uma eventual derrota.

Bolsonaro e Lula se encontraram à noite em Brasília, na posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Sentados quase cara a cara, Bolsonaro no pódio e Lula na primeira fila da plateia, os dois candidatos não trocaram uma palavra, pelo menos na frente das câmeras.

"Somos uma das maiores democracias do mundo (...) mas somos a única que conta e divulga os resultados no mesmo dia, com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional", disse Moraes, alvo frequente das críticas de Bolsonaro.

mel/app/am

© Agence France-Presse