Topo

Lula, a fênix de volta à corrida presidencial

16/08/2022 09h57

Ex-metalúrgico e sindicalista convertido no presidente mais popular do país antes de ser preso, Luiz Inácio Lula da Silva está de volta à arena política, para tentar reconquistar o poder em outubro contra seu arquirrival, Jair Bolsonaro, de extrema direita.

Favorito nas pesquisas, Lula, líder do Partido dos Trabalhadores (PT), inicia sua campanha nesta terça-feira, em uma fábrica de automóveis no sudeste de São Paulo, "uma volta às suas origens" operárias, segundo sua equipe de comunicação.

O ex-presidente (2003-2010) aspira ao terceiro mandato presidencial com a promessa de repetir as conquistas sociais entre as classes mais vulneráveis. Durante sua gestão, cerca de 30 milhões de brasileiros saíram da pobreza.

Mas esse "jovem de 76 anos", como ele se define, que casou-se em maio pela terceira vez - com a socióloga Rosângela da Silva, 55 -, retorna de muito longe. 

Em março de 2021, recuperou seus direitos políticos com a anulação de suas condenações judiciais, após ser alvo da Lava Jato, maior operação anticorrupção da história do país, sobre uma gigante rede de subornos envolvendo a Petrobras.

Em 2017, o juiz Sergio Moro condenou Lula a nove anos e meio de prisão pela obtenção de um triplex da construtora Odebrecht em troca de contratos públicos. 

Ele foi preso em abril de 2018, por corrupção e lavagem de dinheiro, após um entrincheiramento midiático no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. 

Mas nem por isso Lula perdeu influência no partido, nem na política nacional, apesar de o escândalo tê-lo tornado um líder repudiado por boa parte da população.

Lula sempre se declarou inocente e se considera vítima de uma conspiração política para favorecer Bolsonaro, que o usou para ganhar o apoio da classe média e vencer as eleições de 2018 com um discurso anticorrupção.

Lula foi solto em novembro de 2019. 

Após se tornar novamente elegível, o ex-sindicalista manteve sua candidatura em suspense por um tempo, enquanto cuidava de sua imagem internacional com viagens ao exterior.

Com o passar do tempo, Lula aumentou suas aparições públicas com tom eleitoral, e fez declarações polêmicas sobre a polícia e a guerra na Ucrânia, pela qual responsabilizou tanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, quanto seu par russo, Vladimir Putin.

Lula também criticou duramente Bolsonaro, que chamou de genocida, pelas 680 mil mortes causadas pela pandemia no Brasil.

- O sobrevivente -

Lula, que o ex-presidente americano Barack Obama descrevia como "O Homem", somou tragédias pessoais a seus reveses políticos e judiciais desde a morte de sua segunda esposa, Marisa Letícia, em fevereiro de 2017. 

Já preso, perdeu um irmão e um neto de 7 anos. Antes, em 2011, enfrentou um câncer de laringe.

Mas Lula conseguiu superar tudo, como fez desde que nasceu, no árido e carente Nordeste. Sétimo filho de um casal de analfabetos nordestinos, ele foi abandonado por seu pai, antes de a família emigrar para São Paulo.

Lula trabalhou como vendedor ambulante e engraxate. Aos 15 anos, iniciou sua formação de torneiro mecânico e perdeu um dos dedos ao manipular uma máquina. 

No fim da década de 1970, como líder do sindicato dos metalúrgicos, liderou uma greve histórica, que desafiou a ditadura (1964-1985).

- Milagre econômico -

Em 2003, Lula tornou-se o primeiro chefe de Estado brasileiro saído da classe trabalhadora, após três tentativas frustradas, e conquistou um enorme prestígio internacional como piloto do "milagre econômico brasileiro" empurrado pelos ventos favoráveis dos altos preços das matérias-primas.

Lula conseguiu ser reeleito após superar o escândalo do "mensalão", uma contabilidade ilegal milionária montada pelo PT para comprar o apoio de congressistas.

"Travamos contra a fome a maior de todas as batalhas e vencemos. Hoje sei que preciso cumprir novamente a mesma missão", declarou Lula ao oficializar sua candidatura para 2022.

Lula coroou seu duplo mandato conquistando a sede da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos Rio-2016. Deixou o poder com 87% de aprovação. 

Sua sucessora, Dilma Rousseff, governou até 2016, quando foi alvo de um impeachment que pôs fim a 13 anos de governos de esquerda.

jm-app/mel/lb

© Agence France-Presse