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Filhos menores de opositores presos na Nicarágua sofrem 'traumas', denunciam famílias

18/08/2022 19h22

Os filhos menores de opositores presos na Nicarágua estão sofrendo de ansiedade e depressão, afastados há um ano de seus pais e sem permissão para visitá-los, afirmaram familiares nesta quinta-feira (18).

Ao menos 19 filhos menores de idade enfrentam a ausência de seus pais ou mães, que estão na prisão, de diversas formas, mas a maioria tem "traumas" e transtornos de "ansiedade", além de "medo da polícia", disse em coletiva de imprensa virtual Ana Álvarez, parente de Tamara Dávila, uma das presas.

"Mamãe, não me lembro do seu rosto, já são muitos dias sem te ver (...) Penso em você todos os dias (...) Aprendi as letras para escrever seu nome", diz uma carta atribuída à filha de seis anos de Dávila, lida por um familiar.

A família compartilhou ainda um vídeo com desenhos feitos pela menina. As autoridades não permitiram que a mãe receba nada de sua filha, denunciaram.

Em um comunicado, os familiares pedem que sejam permitidas imediatamente a visita da criança e de todos os filhos dos opositores detidos, e que sejam garantidas chamadas telefônicas semanais.

Alguns opositores, incluindo Dávila, haviam anunciado medidas extremas, como uma greve de fome, em protesto pelo impedimento de ver seus filhos.

Outro que adotou a medida foi o jornalista Miguel Mora, cujo filho, que tem deficiência, pede sua presença, de acordo com denúncia anterior de sua esposa Verónica Chávez.

Em 2021, foram presos 46 opositores nos meses que antecederam as eleições em que o presidente Daniel Ortega, um ex-guerrilheiro de 76 anos, obteve seu quarto mandato consecutivo.

Eles foram posteriormente condenados pela justiça a até 13 anos de prisão, acusados de crimes como violação da soberania e lavagem de dinheiro.

A filha de Tamara Dávila, que presenciou a captura de sua mãe dentro de casa, padece de "um estado de ansiedade permanente e de medo constante" da polícia e de que outros familiares "desapareçam de sua vida", afirmou Álvarez.

Enquanto isso, no caso de Alejandra, filha do ex-aspirante à presidência preso Félix Maradiaga, "a ansiedade a levou a desenvolver gastrite", contou a mãe da menina, Bertha Valle.

"Para nós, como pais, é devastador. Há problemas de aprendizagem, de crescimento e outros prejuízos, ainda que não sejam aparentes", declarou Valle.

Organizações de direitos humanos contabilizaram 190 opositores presos na Nicarágua nos últimos anos.

Durante a coletiva, a presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez, alertou que fazer greve de fome nas condições em que estão esses presos representa "um risco muito grande", além de que pode gerar "mais repressão contra eles".

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© Agence France-Presse