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Assembleia Geral da ONU começa em meio a uma 'tempestade perfeita'

20/09/2022 11h37

"Fraturas", mundo "paralisado", "solidariedade". Os dirigentes que se sucederam nesta terça-feira (20) na tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, alertaram para as divisões perigosas de um mundo assolado pelas crises no que o líder da ONU chamou de "tempestade perfeita".

"A crise do poder aquisitivo se deflagra, a confiança desmorona, as desigualdades disparam, nosso planeta queima, o povo sofre, sobretudo, os mais vulneráveis" e, apesar disso, "estamos bloqueados por uma disfunção global colossal", lamentou Guterres.

"Essas crises ameaçam o próprio futuro da humanidade e o destino do planeta", advertiu. 

"Não tenhamos ilusões. Estamos em um mar agitado. Um inverno de descontentamento se anuncia no horizonte", insistiu Guterres. 

Apesar dos perigos, a comunidade internacional está "paralisada", lamentou o secretário-geral da ONU, que alertou para o "risco de divisão entre o Ocidente e o Sul".

Em seu longo discurso, cheio de pessimismo sobre o futuro do planeta, Guterres reconheceu sua impotência diante das "divisões políticas que minam o trabalho do Conselho de Segurança, o direito internacional, a confiança e a fé das pessoas nas instituições democráticas".

"Não podemos continuar assim", acrescentou, ressaltando que é necessária "uma ação coordenada ancorada no respeito do direito internacional e na proteção dos direitos humanos".

Aos estragos da pandemia, soma-se agora a invasão russa da Ucrânia, que agravou a escalada dos preços dos alimentos e da energia, provocando a insegurança alimentar de milhões de pessoas no mundo.

- "Novo contrato Norte-Sul" -

"Não vamos nos resignar à fratura do mundo", disse o presidente francês, Emmanuel Macron, em um discurso muito aplaudido, no qual instou todos os dirigentes a rechaçarem a "nova ordem" de divisão que a Rússia "imperialista" tenta impor com a guerra na Ucrânia.

"A situação do nosso planeta aumenta nossas exigências", disse, desejando uma "sacudida coletiva" para "construir um novo contrato entre o norte e o sul".

Isto se tornou mais urgente depois da guerra na Ucrânia, iniciada pelo presidente russo, Vladimir Putin. "Todos temos um papel a desempenhar para dar-lhe um fim já, que todos pagamos o preço", disse em um discurso às vezes inflamado.

Na tribuna da ONU, a maioria dos países em desenvolvimento, entre eles os latino-americanos, pediram uma saída negociada para o conflito, que agravou os estragos causados por dois anos de pandemia.

"Cessar-fogo imediato" e "diálogo" foram alguns dos desejos e demandas mais ouvidos na tribuna da ONU, assim como críticas às sanções impostas pela comunidade internacional para dobrar a determinação de Putin de sujugar a Ucrânia.

"Estas medidas prejudicaram a retomada da economia e afetam direitos humanos das populações vulneráveis", lembrou o presidente Jair Bolsonaro, antes de advertir que a estabilidade, a segurança e a prosperidade estão em sério risco se o conflito persistir e se propagar.

Ante a intenção da Europa de que a América Latina se some à sua cruzada contra a Rússia, o presidente colombiano, Gustavo Petro, pediu: "Não nos pressionem para nos alinharmos nos campos de batalha (...) Que os povos eslavos falem entre si".

Petro, assim como seu colega chileno, Gabriel Boric, participou pela primeira vez da Assembleia Geral da ONU.

Está prevista para esta quarta-feira a intervenção, excepcionalmente por vídeo, do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, após a autorização especial votada na semana passada pelos Estados-membros. Na quinta-feira, haverá uma reunião em nível ministerial do Conselho de Segurança.

- O clima, vítima colateral -

Os países do Sul temem que a luta contra as mudanças climáticas possam ser outra vítima colateral do conflito na Ucrânia.

A dois meses da conferência sobre o clima da ONU, a COP27, no Egito, os países pobres, na primeira linha do impacto devastador do aquecimento do planeta que não provocaram, lutam para que os países ricos cumpram suas promessas de ajuda financeira.

Neste sentido, Guterres, que fez da luta por reduzir as emissões de gases de efeito estufa uma prioridade, instou os países ricos a taxar os lucros extraordinários gerados pelas energias fósseis para ajudar os países vítimas dos impactos das mudanças climáticas e as populações afetadas pela inflação.

E propôs "redirecioná-los de duas formas: aos países que sofrem perdas e danos causados pela crise climática, e às populações em dificuldade pelos preços dos alimentos e da energia".

Tradicionalmente, os Estados Unidos são os segundos a se manifestar no primeiro dia da semana de alto nível da ONU, depois do Brasil. Mas o presidente americano, Joe Biden, adiou sua intervenção para esta quarta-feira, devido à sua presença nos funerais da rainha Elizabeth II, em Londres.

As grandes ausências deste ano no evento são os presidentes da Rússia, Vladimir Putin; da China, Xi Xinping; e do México, Andrés Manuel López Obrador.

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© Agence France-Presse