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Bolsonaro autoriza transição sem fazer referência à derrota nas urnas

01/11/2022 18h39

O presidente Jair Bolsonaro (PL) autorizou, nesta terça-feira (1º), o início do processo de transição com a equipe do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e prometeu "cumprir" a Constituição, em seu primeiro pronunciamento após perder as eleições para o petista, a quem sequer mencionou.

"Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição", declarou Bolsonaro em um breve discurso na residência oficial do Palácio da Alvorada, em Brasília.

Antes do pronunciamento, os microfones captaram palavras do presidente em fim de mandato: "Vão sentir saudade da gente". Durante o discurso, Bolsonaro não mencionou diretamente a derrota nas urnas ou seu adversário, o ex-presidente Lula. 

Cercado por ministros e aliados, Bolsonaro falou por pouco mais de dois minutos antes de dar lugar ao ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que revelou que o presidente me fim de mandato "autorizou" o início do "processo de transição" com a equipe de Lula.

Bolsonaro manteve o país em suspense por dois dias ao se calar após a derrota na eleição presidencial para Lula, que venceu por uma margem estreita de 50,9% dos votos contra 49,1%.

A vitória de Lula foi reconhecida pela comunidade internacional e por vários aliados do governo.

- Reunião com o STF -

Bolsonaro, 67 anos, sempre afirmou ter "todo o sistema" contra ele, uma referência ao Judiciário e até mesmo à imprensa.

E, durante meses, questionou sem apresentar provas o sistema de urnas eletrônicas, despertando temores de que não aceitaria uma possível derrota.

Mais tarde, o presidente se reuniu com vários ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo Alexandre de Moraes, que conduz várias investigações envolvendo o líder de extrema direita e seus aliados.

Bolsonaro "disse 'acabou'" ao se referir à eleição, revelou o ministro Luiz Edson Fachin, ao final da reunião, que não estava na agenda oficial.

O STF enfatizou em uma nota a "importância" de Bolsonaro "determinar" o início da transição e "reconhecer o resultado final das eleições".

"Tratou-se de uma visita institucional, em ambiente cordial e respeitoso, em que foi destacada por todos a importância da paz e da harmonia para o bem do Brasil", afirmou a nota.

- Protestos devem ser "pacíficos" -

O pronunciamento do presidente em fim de mandato coincide com o segundo dia de bloqueios rodoviários por caminhoneiros e manifestantes bolsonaristas em todo o país em protesto contra o resultado da eleição.

A polícia dispersou 460 atos nas últimas horas, embora 194 bloqueios parciais ou totais permaneciam ativos, segundo o balanço da noite desta terça-feira.

Em seu pronunciamento, Bolsonaro disse que os protestos devem ser pacíficos.

"As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir", afirmou.

Nas redes bolsonaristas, essas palavras foram interpretadas como um impulso para manter as mobilizações. "O sonho segue vivo", dizia uma mensagem compartilhada no Telegram. "Encham as ruas amanhã".

Bolsonaro agradeceu aos 58 milhões de brasileiros -um em cada dois eleitores- que votaram nele no domingo. Também lembrou dos resultados das legislativas de 2 de outubro, que garantiram ao seu Partido Liberal a maioria na Câmara dos Deputados.

"A direita surgiu de verdade em nosso país. Nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade", comemorou.

- Transição em andamento -

Enquanto isso, Lula, 77 de anos, organiza a transição do governo.

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, companheiro de chapa de Lula, será o responsável por coordenar o processo de transição com o governo em fim de mandato, anunciou o PT nesta terça-feira.

Alckmin teve na segunda-feira o primeiro contato com o governo Bolsonaro, uma conversa por telefone com o atual vice-presidente Hamilton Mourão.

Na agenda internacional, Lula participará da conferência sobre o clima COP27, no Egito, segundo o PT.

O presidente egípcio, Abdel Fatah al Sisi, convidou Lula para o evento climático em Sharm el Sheikh, que reunirá mais de 90 países entre 6 e 18 de novembro.

O petista prometeu combater o desmatamento na Amazônia, que disparou durante o mandato de Bolsonaro, um cético em relação ao aquecimento global.

Lula tomará posse em 1º de janeiro.

bur-mel/app/lbc/am/mvv

© Agence France-Presse