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2022 em dez grandes acontecimentos

05/12/2022 11h52

A guerra na Ucrânia, os protestos no Irã e o questionamento do aborto nos Estados Unidos são alguns dos dez grandes acontecimentos que marcaram o ano de 2022 no mundo.

- Putin invade a Ucrânia - 

Em 24 de fevereiro, o presidente russo, Vladimir Putin, ordena a invasão da Ucrânia e abre uma crise sem precedentes desde o fim da Guerra Fria. 

Ante os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que manifestam seu apoio à Ucrânia, o chefe do Kremlin ameaça usar arma nuclear, e diz estar disposto a empregar "todos os meios".

O conflito provoca o maior fluxo de refugiados na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial e custa a vida de milhares de soldados e civis. 

Putin, que diz querer "desnazificar" a Ucrânia, encontra-se diplomaticamente isolado. União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos impõem sanções a Moscou, as quais endurecem, sucessivamente, e fornecem armas à Ucrânia. Kiev consegue obter o "status" de candidato à UE.

Os testemunhos contra o Exército russo se multiplicam, com acusações de assassinato de civis, torturas e estupros.

No início da invasão, as tropas russas desistem de cercar a capital, Kiev, de onde o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, dirige-se, diariamente, aos líderes mundiais para pedir apoio econômico e militar. 

A guerra deflagra o medo de uma crise alimentar mundial, devido ao bloqueio marítimo imposto pela Rússia no Mar Negro. Em julho, um acordo permite à Ucrânia retomar suas abundantes exportações de grãos. 

Em setembro, Putin decreta a mobilização de cerca de 300 mil reservistas e assina a anexação de quatro territórios ucranianos total, ou parcialmente, ocupados, após "referendos" denunciados pela comunidade internacional. Ao mesmo tempo, o Exército russo acumula um revés atrás do outro no terreno. 

Depois de abandonar a região de Kharkiv, Moscou ordena a retirada de suas forças de Kherson, no sul da Ucrânia, no início de novembro. 

A Rússia lança centenas de ataques de retaliação à rede de energia ucraniana, deixando milhões de ucranianos no escuro, às vésperas do inverno (hemisfério norte, verão no Brasil). 

- Inflação alimentada pela crise energética - 

Iniciada em 2021 por problemas nas cadeias de abastecimento juntamente com a forte demanda em meio à recuperação pós-pandemia, a alta de preços se acelera em 2022 e atinge níveis inéditos em décadas. 

A inflação pode chegar a 8% no quarto trimestre nos países do G20, um obstáculo para o crescimento, que também eleva os custos de produção das empresas. 

A inflação se acentua pela guerra na Ucrânia, que mergulhou a Europa em uma profunda crise energética. Em resposta às sanções ocidentais, Moscou multiplicou as represálias, atingindo, em particular, o ponto fraco da UE: sua dependência do gás russo. Suas exportações de gás, principalmente para Alemanha e Itália, estão em queda livre.

"A economia mundial está sofrendo a mais grave crise energética desde os anos 1970", destaca a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). 

A guerra também provocou a disparada dos preços dos cereais e, por extensão, da ração animal. 

Para conter a inflação, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) elevou suas taxas de juros de maneira significativa desde março, o que também encareceu o crédito. O Banco Central Europeu (BCE) também endureceu sua política monetária. 

- Guinada na questão do aborto nos EUA - 

Em junho, a Suprema Corte dos Estados Unidos devolveu a cada estado da União o poder de proibir o aborto em seu território, enterrando, assim, sua decisão de 1973 no caso "Roe v. Wade", que o havia estabelecido como um direito constitucional. 

Depois da mudança, cerca de 20 estados proíbem totalmente ou limitam seriamente o direito ao aborto. O assunto se impõe entre os temas mais importantes da campanha das eleições de meio de mandato ("midterms") de novembro. 

Os resultados das eleições não geram a onda conservadora que os simpatizantes do ex-presidente Donald Trump esperavam. Os democratas mantêm o controle do Senado e os republicanos conseguem uma apertada maioria na Câmara de Representantes. 

Apesar de tudo, Trump anuncia sua candidatura à eleição presidencial de 2024. A disputa pela indicação dos republicanos deve ser dura, em particular com o governador da Flórida, Ron DeSantis, uma nova estrela da direita americana.

A candidatura do ex-presidente pode ser impedida pela justiça, que em novembro designou um procurador especial para conduzir duas investigações contra ele. O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a  invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 afirma que Donald Trump não deveria ocupar cargos públicos novamente, após incitar seus apoiadores à "insurreição".

- Instabilidade política no Reino Unido -

Após uma sucessão de escândalos e de demissões em seu governo, o primeiro-ministro britânico, o conservador Boris Johnson, apresenta sua renúncia em julho. Liz Truss foi oficialmente nomeada para sucedê-lo em Downing Street, em uma cerimônia com a rainha Elizabeth II dois dias antes da morte da monarca em 8 de setembro, após um reinado de 70 anos. 

No dia 10, Charles III foi proclamado rei. 

Primeira-ministra mais efêmera da história moderna do país, Liz durou apenas 44 dias no cargo. Ela renunciou após causar uma crise política e financeira com seu programa econômico. 

Rishi Sunak chegou ao poder no final de outubro, em um período de instabilidade sem precedentes no Reino Unido. É o quinto chefe de Governo britânico desde o referendo do Brexit em junho de 2016. 

O ex-banqueiro e ex-ministro das Finanças, de 42 anos, enfrenta desafios gigantescos. Entre eles, uma inflação de 10%, greves pelo aumento do custo de vida e um sistema de saúde pública em crise. 

- Fenômenos climáticos extremos - 

Em 2022, os desastres ligados à mudança climática se multiplicaram. 

O verão (inverno no Brasil) foi o mais quente já registrado na Europa, com recordes de temperatura e ondas de calor que provocam secas e incêndios. Mais de 660.000 hectares de florestas queimaram entre janeiro e meados de agosto na UE, um recorde. As geleiras dos Alpes sofrem, por sua vez, uma perda de massa histórica.

Pelo menos 15.000 mortes são diretamente atribuíveis a este calor extremo na Europa, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

A China também bate recordes de calor em agosto, e a seca ameaça a região do Chifre da África com fome. 

Incêndios e desmatamento também atingem níveis máximos na Amazônia brasileira.

No Paquistão, inundações históricas, devido a monções de proporções anormais, matam mais de 1.700 pessoas e obrigam oito milhões a se deslocarem. Um terço do país se vê inundado.

Se as projeções para este ano se confirmarem, os oito anos de 2015 a 2022 serão os mais quentes já registrados, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). 

Após duras negociações, a conferência do Clima da ONU no Egito (COP27) termina em 20 de novembro com um acordo político para criar um fundo para compensar os países mais vulneráveis pelas perdas e pelos danos sofridos como resultado da mudança climática. 

- Tumultos no Irã - 

Em 16 de setembro, a curdo-iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, morre em um hospital três dias depois de ser detida pela polícia da moralidade. Ela foi acusada de violar o código de vestimenta do Irã para mulheres, que as obriga a cobrir o cabelo em público e usar roupas discretas. 

Sua morte provocou uma onda de manifestações em todo país, a maior desde a Revolução Islâmica de 1979.

As jovens lideram os protestos. Muitas delas tiram e queimam seus véus, como mostram vários vídeos que viralizaram nas redes sociais.

As manifestações pela liberdade das mulheres se transformam, progressivamente, em um movimento mais amplo dirigido contra o regime islâmico e se estendem às universidades e escolas, apesar da repressão. 

As autoridades relatam mais de 300 mortes, enquanto uma ONG com sede na Noruega contabiliza pelo menos 469.

No início de dezembro, o regime anuncia a dissolução da polícia da moralidade. Mas, ao mesmo tempo, a justiça iraniana executa dois jovens condenados por atos relacionados às manifestações.

- Terceiro mandato de Xi e protestos contra "covid zero" na China - 

O presidente chinês, Xi Jinping, conquista um terceiro mandato consecutivo à frente do Partido Comunista em outubro e se cerca de figuras leais para se tornar o líder mais poderoso da China moderna.

No poder por uma década, Xi demonstrou grande desejo de controle, interferindo em quase todos os mecanismos do Estado. No caminho, recebeu críticas internacionais por seu balanço na política de direitos humanos. Ao mesmo tempo, mantém uma rivalidade exacerbada com os Estados Unidos.

As tensões no Estreito de Taiwan atingem o nível mais elevado em décadas, após a visita à ilha da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, em agosto. 

Em represália, a China faz manobras militares terrestres e marítimas de uma amplitude sem precedentes desde meados dos anos 1990. E o presidente americano, Joe Biden, diz que suas tropas defenderão a ilha autônoma, se esta for invadida pela China comunista, que a considera parte de seu território.

A estratégia "covid zero" do país, que implica confinamentos de bairros, ou cidades, inteiras logo que um caso aparece, provoca manifestações no final de novembro de uma magnitude inédita há décadas. 

As autoridades reagiram e reprimiram os protestos, mas também decidiram acabar com a política de "covid zero". Desde então, os casos de coronavírus dispararam no país e os hospitais enfrentam dificuldades com o elevado número de pacientes.

- Avanços da extrema direita na Europa - 

Depois de quatro anos no poder, o líder de extrema direita do Brasil, Jair Bolsonaro, é derrotado por estreita margem pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno da eleição presidencial em 30 de outubro. 

Lula voltará ao poder no Brasil, em 1º de janeiro de 2023, e será um grande impulso para a esquerda latino-americana, que, em 2022, teve ainda a vitória histórica do ex-guerrilheiro Gustavo Petro na Colômbia. 

Já na Europa, os ultraconservadores conquistaram vitórias importantes nas eleições legislativas de vários países, a começar pela quarta vitória consecutiva do partido do líder nacionalista húngaro Viktor Orban, em abril. 

Na França, o Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, conseguiu um avanço histórico em junho, tornando-se a primeira sigla da oposição na Assembleia Nacional, onde o presidente Emmanuel Macron perdeu a maioria absoluta.

Na Suécia, o partido nacionalista e anti-imigração Democratas Suecos foi o grande vencedor nas eleições legislativas de setembro, das quais saiu como a segunda força política do país. 

Na Itália, Giorgia Meloni conquistou uma vitória histórica em setembro com seu partido pós-fascista Irmãos da Itália ("Fratelli d'Italia") e assumiu como chefe de Governo em outubro. 

- Esperança de paz na Etiópia - 

Após dois anos de conflito, o governo federal etíope e as autoridades rebeldes da região do Tigré (norte) assinam, em 2 de novembro, em Pretória, um acordo de "fim das hostilidades". A expectativa é que o pacto acabe com uma guerra descrita por ONGs como "uma das mais sangrentas no mundo". Os combates haviam recomeçado no final de agosto, após cinco meses de cessar-fogo. 

Desde novembro de 2020, o conflito opõe o governo etíope, apoiado por forças da vizinha Eritreia, e os rebeldes do Tigré. O conflito é marcado por possíveis crimes contra a humanidade cometidos por "todas as partes", segundo a ONU, e forçou o deslocamento de mais de dois milhões de etíopes.

Além do desarmamento dos rebeldes, o acordo de paz deve permitir a chegada de ajuda humanitária ao Tigré, quase isolado do mundo. Há mais de um ano, seus seis milhões de habitantes sofrem com a grave escassez de alimentos e de remédios. O primeiro comboio de ajuda humanitária desde agosto chegou à região em 16 de novembro. 

- Catar, criticado anfitrião da Copa do Mundo - 

A organização da Copa do Mundo de 2022 no Catar, de 20 de novembro a 18 de dezembro, rendeu ao país-sede uma enxurrada de críticas. 

O primeiro país árabe a organizar este grande evento foi criticado por seu tratamento aos trabalhadores estrangeiros, à comunidade LGBTQ e às mulheres, assim como pelo uso de climatização em seus estádios, nestes tempos em que se multiplicam os apelos para se poupar energia no âmbito da luta contra a mudança climática.

Boa parte das críticas está relacionada com a situação dos trabalhadores imigrantes, um fator essencial em um país onde os emiradenses representam apenas 10% de uma população de três milhões de habitantes. Algumas ONGs falam em milhares de mortos em acidentes nas obras para o Mundial, número que o governo de Doha nega.

Para piorar a situação, a eurodeputada grega Eva Kaili foi acusada em um escândalo de corrupção que envolve o Catar. No dia 18 de dezembro, após 36 anos de espera, 120 minutos de jogo e uma disputa de pênaltis, a Argentina de Lionel Messi conquista sua terceira Copa do Mundo na final contra a França.

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© Agence France-Presse