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Mundo chora a morte de Pelé, o 'Rei' do futebol

29/12/2022 16h44

O mundo do futebol lamentou a perda de seu 'rei' nesta quinta-feira: Pelé, único jogador a vencer três Copas do Mundo, faleceu aos 82 anos no hospital Albert Einstein em São Paulo onde se tratava de um câncer. 

Edson Arantes do Nascimento morreu "às 15h27, em decorrência da falência de múltiplos órgãos, resultado da progressão do câncer de cólon associado à sua condição clínica prévia", informou em boletim médico o hospital onde o ex-jogador estava internado desde 29 de novembro.

"Te amamos infinitamente. Descanse em paz", postou mais cedo a filha de Pelé, Kely Nascimento, em sua conta no Instagram.

Fora do hospital, um grupo de torcedores se reuniu após o anúncio de sua morte, alguns deles exibindo uma faixa: "Eterno Rei Pelé". 

O lendário jogador será velado em público de segunda a terça-feira no estádio Vila Belmiro em Santos, onde Pelé jogou durante quase toda sua carreira. 

Na terça-feira será levado num cortejo fúnebre que passará pelo local onde vive a sua mãe, Dona Celeste, de 100 anos, até um mausoléu. 

Lá, sua família se despedirá dele em particular, informou o Santos em um comunicado. 

Na casa do 'Peixe', já havia um buquê de flores em homenagem ao lendário camisa 10.

O presidente Jair Bolsonaro decretou três dias de luto oficial. O prazo termina à meia-noite de 31 de dezembro, véspera da posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

- "Pelé mudou tudo" -

Sua morte causou uma enxurrada de mensagens pelo mundo, desde personagens da bola até artistas e políticos.

"Antes de Pelé, o futebol era apenas um esporte. Pelé mudou tudo. Transformou o futebol em arte", escreveu no Instagram o atacante Neymar, atual 'camisa 10' da Seleção.

O argentino Lionel Messi postou uma foto em que aparece junto ao ex-craque e outra do astro brasileiro comemorando um gol com a legenda: "Descansa em paz, Pelé".

O atacante português Cristiano Ronaldo se juntou às reações. "Uma inspiração para tantos milhões".

O ex-jogador alemão Franz Beckenbauer também homenageou Pelé, com quem jogou no Cosmos de Nova York: "O futebol perdeu hoje o maior de sua história e eu perdi um amigo único". 

O craque francês Kylian Mbappé tuitou: "Seu legado nunca será esquecido".

A Fifa, por sua vez, afirmou que 'O Rei' é "imortal".

O presidente Jair Bolsonaro enviou condolências à família de "um dos maiores atletas de todos os tempos", enquanto o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva disse que "nunca houve um camisa 10" como o 'Rei'.

Nas ruas de São Paulo, a notícia se espalhou rapidamente.

"Ele sempre foi nosso maior ídolo no futebol, é uma perda irreparável", disse à AFP o porteiro Josevânio Alves da Silva, de 46 anos. 

A estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, vai homenageá-lo na noite desta quinta-feira com iluminação verde e amarela. Já o estádio do Maracanã ganhou uma luz dourada.

Pelé estava afastado dos eventos públicos há anos por problemas no quadril que afetaram sua mobilidade, e por outras enfermidades. Em setembro de 2021, foi diagnosticado com um câncer depois da retirada de um tumor no cólon.

No entanto, em suas limitadas aparições, na maioria das vezes em entrevistas ou em vídeos nas redes sociais, manteve intactos seu carisma e humor.

E continuou torcendo pela Seleção, como no Mundial de 2022, em que o Brasil foi eliminado nas quartas de final pela Croácia.

Como havia ocorrido com a repentina morte de Diego Maradona em novembro de 2020, o falecimento de Pelé é um choque para todos os fãs do futebol.

"Ele foi o maior jogador de todos os tempos", afirmou à AFP Antônio Pereira, de 46 anos, que correu para o hospital junto com o filho assim que soube da notícia.

- O maior -

Seu incrível faro de gol, sua técnica apurada e um currículo invejável fizeram com que Pelé fosse considerado por muitos o maior jogador da história.

Em 2000, Pelé, que jogou praticamente toda a carreira pelo Santos, clube que defendeu por 18 anos, recebeu o prêmio de melhor jogador do século XX por especialistas da Fifa, enquanto Maradona obteve o mesmo título na votação popular.

"Espero que um dia possamos jogar bola juntos no céu", disse Pelé quando o craque argentino morreu.

- Ícone global -

Boa parte da fama do Rei, nascido em 23 de outubro de 1940 em Três Corações, Minas Gerais, foi construída pelos feitos que alcançou em Copas do Mundo.

Pelé é o único jogador a ter conquistado três Copas, embora tenha se lesionado no início do Mundial do Chile-1962, quando Garrincha assumiu o protagonismo.

O Rei estabeleceu nesses torneios alguns recordes e protagonizou jogadas e gols inesquecíveis, como o de cabeça na final contra a Itália no México-1970, a cereja no bolo daquela que muitos consideram a melhor seleção da história, na qual jogou ao lado de craques como Tostão, Rivelino, Jairzinho, Gérson, entre outros.

Também deixou sua marca na Copa da Suécia-1958, com 17 anos, tornando-se o jogador mais jovem a disputar uma final, a marcar um gol na decisão e a ganhar o Mundial, o primeiro dos cinco títulos brasileiros.

Pelé também marcou gols para dar e vender: foram 1.281 em 1.363 jogos em 21 anos de carreira, na qual vestiu apenas três uniformes, do Santos (1956-1974), do Cosmos (1975-1977) e da Seleção (1957-1971).

- Muitos talentos -

O Santos, clube em que estreou profissionalmente aos 15 anos, deve a Pelé seis de seus oito títulos brasileiros, duas de suas três Libertadores e dois Mundiais de Clubes.

O Rei também é o maior artilheiro da história da Seleção com 77 gols, ao lado de Neymar, que igualou sua marca na Copa do Catar.

Apesar de se esforçar para mostrar uma boa imagem, ao longo de sua carreira muitos o criticaram por sua proximidade com a ditadura militar (1964-1985) e seu tênue apoio à luta antirracista no Brasil.

Ele próprio admitiu diversas relações amorosas e a existência de dois filhos extraconjugais, uma das quais foi obrigado a reconhecer por ordem judicial.

Seu sucesso transcendeu outras esferas. Foi compositor, cantor, ator e ministro dos Esportes (1995-1998). Foi casado três vezes e teve sete filhos.

"Dizer que me faltou algo para fazer seria de uma ingratidão muito grande. Só me falta ir à Lua", afirmou à Fifa em outubro de 2020.

Sua morte deixa o futebol com dez jogadores em campo.

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© Agence France-Presse