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Aproximação entre Arábia e Irã terá consequências no Oriente Médio, dizem analistas

10.mar.23 - Wang Yi, membro do Comitê Central do Partido Comunista da China, Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã e Ministro de Estado e o conselheiro de segurança nacional da Arábia Saudita, Musaad bin Mohammed Al Aiban, posam para fotos após reunião em Pequim, China - CHINA DAILY/via REUTERS
10.mar.23 - Wang Yi, membro do Comitê Central do Partido Comunista da China, Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã e Ministro de Estado e o conselheiro de segurança nacional da Arábia Saudita, Musaad bin Mohammed Al Aiban, posam para fotos após reunião em Pequim, China Imagem: CHINA DAILY/via REUTERS

11/03/2023 12h29Atualizada em 11/03/2023 13h20

A retomada das relações entre Arábia Saudita e Irã terá repercussões em todo Oriente Médio e outras regiões, da guerra no Iêmen até o aumento da influência da China, afirmam os analistas.

Os países rivais anunciaram na sexta-feira (10) o restabelecimento das relações diplomáticas dentro de dois meses, após negociações na China.

A Arábia Saudita, sunita, e o Irã, xiita, romperam as relações há mais de sete anos, depois que manifestantes iranianos atacaram as missões diplomáticas sauditas na República Islâmica após a execução em Riad do clérigo xiita Nimr Al Nimr.

As duas potências regionais apoiam lados diferentes em vários conflitos na região, como no Iêmen.

O anúncio da aproximação foi totalmente inesperado, afirma a analista Dina Esfandiary, do International Crisis Group.

"O sentimento geral (...) era que os sauditas estavam particularmente frustrados e tinham a impressão de que restaurar as relações diplomáticas era sua melhor cartada", explica, e parecia que era algo "com o que não queriam ceder".

"É muito bom que tenham feito isso", afirma.

O analista Hussein Ibish admite que também não esperava tal anúncio, "um grande avanço para a diplomacia do Oriente Médio".

Estratégia saudita

As repercussões do acordo serão sentidas no Iêmen, onde o governo - apoiado por uma coalizão militar liderada por Riad - luta desde 2015 contra os rebeldes huthis, apoiados por Teerã.

Neste sábado começam negociações entre o governo iemenita e os rebeldes em Genebra, Suíça, sobre uma possível troca de presos.

Em troca da retomada de relações com a Arábia Saudita, "é provável que o Irã tenha se comprometido a pressionar seus aliados no Iêmen para que sejam mais cooperativos visando uma resolução do conflito neste país", considera Ibish.

"Mas ainda não sabemos quais compromissos assumiram nos bastidores", destaca.

Com a iniciativa, a Arábia Saudita parece dar prosseguimento à estratégia diplomática que levou o país a aproximar-se do Catar e da Turquia.

De acordo com analistas, a ausência de avanços nas negociações sobre o programa nuclear iraniano - o acordo de 2015 está moribundo desde a saída unilateral dos Estados Unidos em 2018 - estimulou Riad a a adotar uma posição para assegurar que Teerã não ultrapassem algumas linhas vermelhas.

"Como as tensões entre Irã e Estados Unidos não diminuem, a Arábia Saudita sabe que vai precisar ter um papel mais proativo na gestão de suas relações com Irã", afirma Torbjorn Soltvedt, da consultoria de análise de risco Verisk Maplecroft.

A Síria pode ser a próxima etapa na estratégia saudita, de acordo com Aron Lund, do centro de pesquisas Century International.

O reino rompeu as relações com Damasco em 2012, um ano depois do início da guerra civil na Síria, devido em particular aos laços estreitos entre o regime de Bashar al Assad e o Irã.

A retomada das relações entre Riad e Teerã pode levar a uma "aproximação entre Arábia Saudita e Síria", prevê Lund.

"Vitória diplomática"

O anúncio também significa um passo adiante da influência diplomática da China no Oriente Médio, segundo os analistas. Até então, o país era visto como relutante ao abordar as questões mais delicadas na região.

Mas o acordo entre Teerã e Riad, alcançado com a mediação de Pequim, revela que o gigante asiático está disposto a ter um papel de protagonista.

"É uma vitória diplomática da China e uma ruptura significativa com a posição regional que havia adotado até agora", destaca Jonathan Fulton, do Atlantic Council.

"É uma mudança paradigma, em parte para contra-atacar o domínio dos Estados Unidos no Oriente Médio", acrescenta.