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Bancos regionais, um elo essencial da economia americana

23/03/2023 18h55

Abalados pela crise bancária e a preocupação de seus clientes, os bancos regionais dos Estados Unidos são um elo essencial da economia ao financiarem pequenas empresas e particulares.

"Meu gerente facilita a minha vida", resume Barrett Hill, agricultor na região central de Illinois (nordeste de Estados Unidos).

Se precisa de crédito para terra ou novos equipamentos, basta um simples telefonema. "Só preciso [ir ao banco para] preencher os formulários", explicou à AFP.

Barrett Hill cresceu com quem é hoje o seu gerente no Peoples State Bank of Newton, que tem apenas oito agências. "Jamais mudaria de banco", garantiu.

"As relações humanas estão no foco" dos bancos regionais, considera Brad Bolton, presidente do Community Spirit Bank, que gerencia 195 milhões de dólares em ativos e tem seis agências em Alabama e Mississippi (sul). "Meus clientes me conhecem, e eu os conheço, conheço sua situação financeira", detalhou.

Nos Estados Unidos, os bancos regionais são fonte de 60% dos créditos a pequenas empresas e de 80% para os agricultores, segundo a federação que representa o setor de bancos regionais independentes (ICBA).

Os bancos gigantes americanos com projeção internacional, como JPMorgan Chase e Citigroup, são os mais conhecidos. Mas os Estados Unidos contam com 4.706 bancos e 4.760 caixas econômicas, com depósitos garantidos por um seguro federal, até um determinado montante.

Os bancos pequenos e médios oferecem todos os serviços básicos, mas, às vezes, não podem oferecer taxas tão competitivas em crédito imobiliário, por exemplo, assinalou Julie Hill, especialista do setor bancário na Universidade do Alabama.

Essas entidades são fortes em empréstimos para pequenas empresas, "aqueles cujos riscos não podem ser analisados por computadores", enquanto os grandes bancos baseiam seus modelos "em economia de escala e financiam as empresas maiores", explicou Hill.

- Abertos a experimentar -

Outra força dos bancos regionais, segundo a especialista, é que as autoridades podem permitir-lhes experimentar, como acontece com as criptomoedas.

"Se houvesse apenas um punhado de grandes bancos, o governo hesitaria a permitir que eles experimentassem coisas novas potencialmente arriscadas", destacou.

O outro lado da moeda é que os bancos regionais não são considerados tão importantes para o sistema para que o governo os salve em caso de dificuldades.

"Embora pensem que seu banco tem boa saúde financeira, que está bem gerido, os clientes com depósitos importantes podem sim se preocupar", exemplificou Julie Hill.

Após a falência de três bancos de porte médio em menos de uma semana nos Estados Unidos - Silvergate, Silicon Valley Bank e Signature Bank -, o temor de que alguns clientes fizessem saques maciços dos bancos menores pesou muito para entidades de perfil similar com ações cotadas em Wall Street.

Assim, os papéis do First Republic perderam 88% de seu valor desde 8 de março, e seu futuro ainda é incerto, apesar das ajudas aportadas pelas autoridades e grandes bancos com depósitos.

No mesmo período, o PacWest perdeu 62% na bolsa, o Western Alliance 55%, enquanto o Zions caiu 35%. 

Scott Anderson, presidente do Zions, um banco que ocupa o 36º lugar no ranking bancário dos Estados Unidos por ativos, reconheceu na terça-feira, durante uma conferência da Associação de Banqueiros Americanos (ABA), que esteve "muito ocupado" na semana passada com conversas com funcionários e clientes, e a implementação de planos de financiamento de emergência.

O Silicon Valley Bank, por outro lado, concentrava-se em uma clientela particular: os empresários do setor tecnológico. Nesse sentido, era uma "exceção", argumentou Scott Anderson. 

"Tivemos alguns telefonemas, mas não foi para tanto", destacou Dan Robb, diretor-geral do Jonesburg State Bank de Missouri. "Acho que as pessoas consideram realmente que o sistema é sólido e que somos resilientes", acrescentou.

"De todos os bancos regionais com os quais conversei, ninguém registrou saques importantes", garantiu Brad Bolton, do Community Spirit Bank. "De fato, em nosso caso, registramos entrada de depósitos", assinalou. "Existimos há 115 anos, e tenho a intenção de existir por mais 115 anos. E meus clientes sabem disso", frisou.

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© Agence France-Presse