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TikTok perdeu a batalha, mas EUA terão dificuldade em banir app mega popular

Shou Zi Chew, CEO do TikTok, testemunha diante do congressistas dos Estados Unidos - Evelyn Hockstein/Reuters
Shou Zi Chew, CEO do TikTok, testemunha diante do congressistas dos Estados Unidos Imagem: Evelyn Hockstein/Reuters

25/03/2023 09h53

O TikTok perdeu uma batalha em Washington e sua proibição nos Estados Unidos é cada vez mais provável, embora o governo vá precisar de cautela para banir a popular plataforma, que tem 150 milhões de usuários no país.

Shou Zi Chew, CEO do TikTok, um aplicativo de vídeos curtos que pertence à empresa chinesa ByteDance, enfrentou uma enxurrada de ataques de um poderoso comitê do Congresso americano na quinta-feira sem realmente ter a chance de responder.

Os legisladores, tanto republicanos quanto democratas, acusam o TikTok de ser usado como uma ferramenta para que Pequim espione e manipule os americanos.

A audiência no Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes terminou em um "desastre" para o TikTok, opinou Dan Yves, da Webdush Securities, que espera um aumento de "pedidos de legisladores e da Casa Branca para proibir o TikTok nos Estados Unidos se o aplicativo não se desvincular da ByteDance".

"O TikTok provavelmente estará proibido até o fim do ano" nos Estados Unidos, a menos que a ByteDance encontre um comprador americano em "três a seis meses", avaliou.

Karine Jean-Pierre, porta-voz da Casa Branca, falou na quinta-feira à noite sobre "as negociações em andamento com a ByteDance" e explicou que o governo Joe Biden "apoia firmemente" o RESTRICT Act, um dos projetos de lei que pedem a proibição do TikTok no país.

O texto, debatido pelos senadores este mês, dá ao Departamento de Comércio novos poderes para proibir tecnologias que ameaçam a segurança nacional.

"Erro de cálculo"

Na manhã desta sexta-feira, o jornal New York Post colocou o debate sobre a plataforma no Congresso na primeira página, com uma foto dos pais de um adolescente morto, presentes na audiência de quinta-feira.

Os pais processaram recentemente o TikTok, acusando a plataforma de bombardear o filho com vídeos sobre suicídio.

"Sua empresa destruiu a vida desses pais", acusou o congressista Gus Bilirakis, dirigindo-se a Shou Zi Chew.

Confidencialidade dos dados do usuário, moderação de conteúdo liderada pelo Partido Comunista Chinês (PCC), desinformação, vícios, desafios perigosos, riscos à saúde mental e física de crianças e adolescentes: a lista de reclamações dos legisladores sobre o TikTok é longa.

A plataforma tentou antecipar-se à pressão política e midiática lançando uma campanha, antes da audiência, destacando sua popularidade nos Estados Unidos, como um "erro de cálculo" que "reforçou o argumento" dos congressistas, segundo a analista Jasmine Enberg, da Insider Intelligence.

Os 150 milhões de usuários do TikTok nos Estados Unidos "são americanos sobre os quais o PCC pode coletar informações confidenciais para, no fim, controlar o que veem, ouvem e acreditam", disse Cathy McMorris Rodgers, presidente do comitê.

O TikTok também convocou os influenciadores a defender o serviço que os fez famosos.

Mas, "destacar o impacto econômico do TikTok também é uma estratégia complicada, já que seu crescimento ocorreu em parte às custas de empresas americanas como a Meta. Instagram e YouTube seriam os primeiros beneficiários" de uma proibição nos EUA.

Cálculo político

Os Estados Unidos já tentaram americanizar ou banir o TikTok: o ex-presidente Donald Trump (2017-2021), irritado principalmente com o conteúdo dos usuários que o ridicularizam, procurou banir o aplicativo em nome da segurança nacional, sem sucesso.

Desta vez, as fortes tensões atuais com a China unem republicanos e democratas. Mas ONGs de defesa da liberdade, alguns legisladores e muitos especialistas argumentam que o TikTok apresenta essencialmente os mesmos problemas do Facebook, Twitter e outras redes sociais.

"Do ponto de vista da segurança, certamente poderíamos encontrar uma solução que minimizasse os riscos percebidos", disse à AFP Michael Daniel, diretor da Cyber Threat Alliance, uma ONG de segurança cibernética.

"Mas isso seria satisfatório para os políticos? Essa é outra questão", acrescentou.

Uma proibição significaria que "os Estados Unidos, uma democracia, estão tomando medidas que restringem a capacidade dos jovens eleitores (usuários do TikTok) de se expressar e ganhar a vida", analisou Sarah Kreps, professora de direito e diretora do Tech Policy Institute na Universidade de Cornell.

"Em função dos custos de tal decisão e seus benefícios limitados, os legisladores devem primeiro considerar leis eficazes de proteção de dados e estratégias de controle de risco, como o 'Projeto Texas'", promessa proposta pelo TikTok para proteger os dados americanos.

"Estamos comprometidos em fornecer uma plataforma segura e inclusiva", tuitou na quinta-feira Vanessa Pappas, diretora de operações do TikTok. "É uma pena que a conversa de hoje pareça emanar da xenofobia".

© Agence France-Presse