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Putin denuncia 'traição' do líder do grupo Wagner e promete punição

24/06/2023 07h29

O presidente russo,  Vladimir Putin, prometeu, neste sábado (24), punir a "traição" do líder do grupo paramilitar Wagner, cuja rebelião contra o comando militar de Moscou representa uma "ameaça mortal" e o risco de uma "guerra civil" para o país em pleno conflito com a Ucrânia. 

Putin, diante de seu maior desafio desde que chegou ao poder, no fim de 1999, se dirigiu em tom marcial à nação para afirmar que a rebelião do líder do Wagner, Yevgeny Prigozhin, a quem ele nunca mencionou explicitamente, representava uma "punhalada pelas costas" da Rússia.

"O que enfrentamos é exatamente uma traição. Uma traição provocada pela ambição desmedida e os interesses pessoais" de um homem, acrescentou, prometendo uma "punição".

Em mensagem de áudio, Prigozhin reagiu, afirmando que Putin "está profundamente equivocado" ao acusar a ele e seus combatentes de traição, descartando uma rendição.

"Nós somos patriotas", afirmou Prighozin. "Ninguém planeja se render a pedido do presidente, dos serviços de segurança ou de quem quer que seja", acrescentou. 

Nas redes sociais espalharam-se rumores de que Putin teria saído de Moscou, mas o seu porta-voz, Dmitri Peskov, citado pela agência Ria Novosti, garantiu que o presidente está "no Kremlin".

Anteriormente, o líder do grupo Wagner havia anunciado a ocupação do quartel-general do exército russo em Rostov, centro nevrálgico das operações na Ucrânia, e assegurou que controla várias instalações militares, incluindo o aeródromo.

As autoridades regionais de Rostov e Lipetsk (400 km ao sul de Moscou) pediram que a população permaneça em casa.

À tarde, combatentes do Wagner foram vistos na região de Lipetsk.

Em seu discurso, Putin afirmou que a situação em Rostov é "difícil".

No meio do caminho entre Rostov e Moscou, o governador da região russa de Voronezh disse que o Exército estava executando operações de "combate" no âmbito de uma "operação antiterrorista" para combater o levante. Um depósito de combustíveis pegou fogo, afirmou.

As autoridades reforçaram as medidas de segurança em Moscou, onde foi instaurado um "regime de operação antiterrorista."

"Todos nós estamos prontos para morrer. Todos os 25.000 e depois mais 25.000", afirmou Prigozhin pelo Telegram. 

"É preciso frear quem tem responsabilidade militar no país", afirmou o líder do grupo Wagner, pedindo que os russos se unam a suas forças e não oponham resistência.

Para apoiar Putin, o líder da república russa da Chechênia (no Cáucaso), Ramzan Kadirov, anunciou que enviaria seus combatentes às "zonas de tensão" para "preservar a unidade da Rússia".

- "Com o presidente" -

O presidente da Câmara baixa, Viacheslav Volidin, instou a população a apoiar o "presidente Vladimir Putin, comandante-em-chefe" russo, e sua colega da Câmara Alta, Valentina Matvienko, reforçou que a força da Rússia reside na "unidade [...] e na nossa intolerância histórica às traições e às provocações".

O patriarca Kirill, líder da igreja ortodoxa russa e aliado de Putin, também pediu "unidade" frente às "tentativas de semear a discórdia".

Os responsáveis pela ocupação russa nas regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk (leste) e de Zaporizhzhia e Kherson (sul) também manifestaram apoio a Putin.

Na Ucrânia, o presidente Volodimir Zelensky afirmou que a rebelião dos mercenários demonstra "a evidente" fragilidade da Rússia e que seu país "é capaz de proteger a Europa de uma contaminação do mal e do caos russos".

- Investigação -

O Ministério Público russo abriu uma "investigação criminal em relação à tentativa de organizar um motim armado", anunciou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Em várias mensagens de áudio transmitidas na quinta-feira, o líder do grupo Wagner afirmou que seus homens foram bombardeados pelo Exército russo perto da linha de frente com a Ucrânia e acusou o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, de ter ordenado estes ataques.

As acusações "não correspondem à realidade e são uma provocação", reagiu, em nota, o Ministério da Defesa.

As forças de segurança russas (FSB) pediram que os combatentes do grupo Wagner detenham seu líder. Um influente general russo, Sergei Surovikin, instou os milicianos do Wagner a renunciar à rebelião.

- Ajudar até mesmo "o diabo" -

Estados Unidos, França, Alemanha e Reino Unido, assim como a União Europeia, informaram que acompanham a situação na Rússia de perto.

Os ministros das Relações Exteriores do G7 "trocaram pontos de vista" sobre a situação na Rússia, informou o chefe da diplomacia da UE, Josep Borell.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, defendeu uma "solução pacífica" da crise.

Belarus, aliado da Rússia, considerou que a rebelião do Wagner é um "presente" para as potências ocidentais.

O empresário opositor russo no exílio Mikhail Khodorkovski pediu neste sábado que a população apoie a rebelião de Prigozhin, após assinalar que é importante apoiar "até mesmo o diabo" para enfrentar o Kremlin.

Horas antes do início desta crise, Prigozhin havia dito que o exército russo estava se "retirando" no leste e no sul da Ucrânia, contradizendo informações do Kremlin, segundo o qual a contraofensiva de Kiev está fracassando.

O Exército russo anunciou que nas últimas 24 horas repeliu nove ataques no sul e leste da Ucrânia, uma informação que a AFP não pôde verificar.

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© Agence France-Presse