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Efeito teflon: por que com quanto mais acusações, mais Trump sobe nas pesquisas?

Trump quer se candidatar à próxima eleição dos EUA Imagem: REUTERS/Jonathan Drake

01/08/2023 14h00

À medida que as crescentes investigações criminais ameaçam suas ambições políticas e sua liberdade, Donald Trump tem conseguido se manter ileso e com uma tendência encorajadora: ele segue muito bem nas pesquisas.

Isso, na política, é chamado de efeito teflon. Isto é, mesmo com sua imagem sofrendo golpes, parece que nenhuma repercussão negativa "adere" ao ex-presidente, como em uma panela antiaderente. O fenômeno já foi ligado a diversos nomes, como Jair Bolsonaro e Lula.

"Sou a única pessoa que foi indiciada e se tornou mais popular", vangloriou-se recentemente em Iowa o ex-presidente, que aparece como favorito nas primárias republicanas de 2024 e que acrescentou essa linha discursiva à campanha nos últimos meses.

Trump foi acusado em dois processos criminais e enfrenta duas investigações com acusações de crimes que parecem iminentes. Apesar disso, a popularidade entre suas bases ultraleais não sofreu um arranhão sequer.

Na segunda-feira (31), uma pesquisa da Siena College em parceria com o jornal The New York Times com potenciais eleitores mostrou Trump esmagando o governador Ron DeSantis, com uma vantagem impressionante de 37 pontos.

Esse termômetro não é um caso isolado. A liderança do ex-presidente subiu de 16 para 36 pontos na média das pesquisas do site RealClearPolitics desde que foi indiciado em Manhattan, há quatro meses, por falsificação de registros empresariais.

Durante este período, um júri em um julgamento civil considerou-o culpado de abusar sexualmente de uma escritora em Nova York e ele foi acusado de outros 40 crimes federais por estar de posse de documentos ultrassecretos de segurança nacional e também por suposta obstrução da Justiça.

"No momento em que entrarmos na fase de debate em 23 de agosto, o favorito estará solto sob fiança em (...) jurisdições diferentes: Flórida, Geórgia e Nova York", disse no domingo ao canal CNN o também pré-candidato republicano Chris Christie.

Elite arraigada

Embora as manchetes sobre DeSantis possam ter ajudado a aumentar a diferença nas pesquisas, o índice a favor de Trump (39,4%) é o mesmo do primeiro dia em que ele foi indiciado.

Uma mudança ainda é possível até as primeiras votações do país, que acontecerão em Iowa, em janeiro, mas uma guinada tão dramática não tem precedentes nas primárias recentes.

Analistas ouvidos pela AFP afirmam que o teflon duradouro de Trump se deve à sua mensagem populista entre os trabalhadores americanos.

"Os acordos comerciais multilaterais, as fronteiras abertas, as guerras sem fim e a globalização deixam muitos trabalhadores americanos sem emprego e com poucas perspectivas de futuro", diz Michael J. O'Neill, conselheiro na conservadora Fundação Landmark Legal.

"Trump dá voz a esse grupo demográfico. Seus apoiadores veem Trump como alguém disruptivo que não deve nada à elite arraigada e dá ao americano comum a chance de uma vida melhor", acrescentou O'Neill.

Para David Greenberg, professor de jornalismo e história da Rutgers University, o republicano de 77 anos e seus partidários ferrenhos conseguiram encontrar um "grupo de inimigos comuns", que atingiu inclusive o sistema judiciário.

"Então, quando acusam Trump, para eles é apenas mais uma prova de que seu homem, seu campeão, está sendo alvo de forças, das quais eles desconfiam fundamentalmente", explica Greenberg.

Controlando a narrativa

Trump deixou o cargo em 2021, após um único mandato repleto de escândalos, no qual perdeu a reeleição e ambas as Casas do Congresso, além de enfrentar duas vezes um processo de impeachment.

Muitos de seus colaboradores foram considerados culpados de crimes, incluindo o diretor e o vice-diretor de sua campanha de 2016, seu chefe de estratégia, seu conselheiro de Segurança Nacional, seu advogado pessoal e dois conselheiros de política externa.

Sua empresa, a Trump Organization, foi condenada por várias acusações de fraude fiscal, e o diretor financeiro da empresa, Allen Weisselberg, admitiu furto, fraude fiscal e falsificação de registros comerciais.

O próprio Trump foi considerado culpado em um processo civil aberto em maio, no qual era acusado de ter violentado a escritora E. Jean Carroll nos anos 1990 em Nova York. Também foi acusado por outras 20 mulheres de má conduta sexual.

Alguns democratas culpam Trump por convencer milhões de republicanos de que uma interminável "caça às bruxas" armada por um "Estado profundo" é a culpada pela série de escândalos em torno de seu mandato.

"Trump fez um excelente trabalho não apenas controlando a narrativa, mas também se posicionando acima dela", disse à AFP o estrategista eleitoral democrata Amani Wells-Onyioha.

"Ele sempre disse a seus seguidores que está sendo atacado injustamente e que qualquer acusação é uma tentativa de derrubá-lo. Acreditam nele, porque suas acusações apenas alimentam essa narrativa", completou.

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