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Iranianos sofrem com restrições de Internet após protestos do último ano

14/09/2023 08h01

O Irã impôs restrições de acesso à Internet desde a explosão dos protestos pela morte da jovem curda Mahsa Amini há um ano, obrigando as pessoas a buscarem outras formas de se comunicar ou de fazer negócios. 

Amini, de 22 anos, morreu em 16 de setembro após ser presa em Teerã por supostamente violar o rígido código de vestimenta para as mulheres. 

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Meses depois, sua morte desencadeou protestos em todo o país com centenas de mortos, incluindo dezenas de agentes de segurança, ante de as autoridades terem tomado medidas para conter o que qualificaram como "motins", incluindo restrições às redes sociais. 

Alma Samimi, que vende bolsas de couro online, disse que o negócio enfrenta problemas com o apagão cibernético. 

"O dano é irreversível", afirmou Samimi, ao explicar que as receitas geradas por sua conta no Instagram, com  milhares de seguidores, caíram 80%. 

"As interações online caíram dramaticamente desde o ano passado", assegurou. 

As restrições, que afetam redes sociais como Instagram e WhatsApp, são aplicadas no momento em que milhões de iranianos lutam para sobreviver em meio a uma crise econômica marcada pela inflação disparada e a desvalorização da moeda local. 

As dificuldades econômicas têm sido agravadas pela decisão americana de impor novamente sanções contra Teerã em 2018, depois de que o então presidente Donald Trump retirou unilateralmente os Estados Unidos de um acordo nuclear. 

"Não podemos mais planejar o futuro", lamentou Samimi

- Custo adicional -

Desde então, cerca de 1.200 donos de comércio apelam ao presidente iraniano, Ebrahim Raisi, para que suspenda as restrições, segundo meios de comunicação locais. 

Para manter seu negócio de pé, Samimi recorreu às redes virtuais privadas e ferramentas 'antifiltro' para driblar a censura. 

A demanda diária por serviços de VPN disparou no Irã "3.082% mais do que antes dos protestos", segundo o Top10VPN, um grupo de defesa da segurança digital sediado na Grã-Bretanha. 

Mohammad Rahim Pouya, um psicólogo de 32 anos que realiza sessões de terapia pela internet, afirma que perdeu 50% dos seus clientes com o início do apagão. 

Disse que pôde manter linhas de comunicação com seus clientes no Irã, mas que isso é mais difícil com os que estão no exterior. 

Para ele, as ferramentas 'anticensura' foram "um custo adicional, e provavelmente têm falhas de segurança (...) Mas quais são as opções?". 

Tornou-se comum a busca por como esquivar as restrições de Internet no Irã, onde as autoridades têm bloqueado a rede paulatinamente em tempos de instabilidade. 

Em 2009, o acesso a redes sociais foi bloqueado durante os protestos multitudinários conhecidos como o Movimento Verde, após eleições presidenciais disputadas, vencidas pelo populista Mahmoud Ahmadinejad.

Redes sociais populares como Facebook e X, antes Twitter, foram bloqueadas desde então. 

Uma década depois foram impostas restrições mais severas quando os manifestantes tomarem as ruas após a decisão do governo de aumentar os preços dos combustíveis em 200%. 

- Bloqueio caro -

Em março, o ministro iraniano das Comunicações, Issa Zarepour, urgiu empresas estrangeiras a estabelecer escritórios de representação no Irã, ao afirmar que "ninguém quer limitar a internet e podemos ter plataformas internacionais".  

Mas a Meta, gigante americana dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, afirmou que não pretende estabelecer um escritório na República Islâmica, que permanece sob sanções americanas. 

O bloqueio da internet tem sido caro para o governo. 

Apenas em 2022, o governo gastou 773 milhões de dólares (quase 3,4 bilhões de reais na cotação da época) para impô-las,. O país é o segundo país que mais gasta em restrições depois da Rússia, segundo o Statista, um site de coleta de dados com sede na Alemanha. 

Em fevereiro, o jornal reformista iraniano Shargh informou que os provedores locais de internet sofreram perdas de 40% pelas restrições. 

Com a proibição dos aplicativos ocidentais, os iranianos dependem dos aplicativos liberados pelo Estado. 

Mas as alternativas locais às redes sociais e aplicativos de mensagem, como Bale, Ita, Rubika e Soroush, não se tornaram tão populares tal como as opções ocidentais. 

Samimi disse que não tem "encontrado alternativas" ao seu minguante negócio pelo Instagram.

Pouya também insiste em utilizar plataformas internacionais com ferramentas 'anticensura', mas teme um apagão total. 

"Não saberia o que fazer se apagassem completamente a internet", admitiu. 

rkh/mz/dv/mas/zm/dd/fp

© Agence France-Presse

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