Socialistas e extrema esquerda da Espanha fazem acordo para repetir governo de coalizão
Após longas negociações, os socialistas espanhóis assinaram nesta terça-feira (24) um acordo de coalizão com o movimento de extrema esquerda Sumar, representando um passo fundamental para uma nova posse de Pedro Sánchez como chefe do governo, que agora depende dos partidos separatistas catalães.
"Governamos por cinco anos e faremos mais quatro", disse Sánchez ao assinar, junto com Yolanda Díaz, atual ministra do Trabalho e líder da Sumar, o "acordo programático" destinado a servir como quadro para a próxima legislatura.
O texto contém 230 medidas, incluindo o aumento do parque público de moradias, o aumento das metas climáticas da Espanha e uma reforma fiscal destinada a aumentar a contribuição dos grupos bancários e energéticos para o gasto público.
- Redução da jornada de trabalho -
O acordo inclui, também, um plano de combate ao desemprego entre jovens, um aumento do salário mínimo e uma redução da jornada de trabalho "sem redução salarial" - um ponto reivindicado pelos sindicatos espanhóis e defendido pela Sumar, nas últimas semanas.
O porta-voz da Sumar, Ernest Urtasun, citou que "queríamos uma redução" da jornada de trabalho "para 37 horas e meia", diante das atuais 40 horas, "e isso ficará muito claro no acordo".
Em sua aparição no canal público RTVE, mostrou seu desejo em alinhar-se com os países que "melhor conciliam e são mais produtivos".
O acordo, negociado desde o final de julho, permitirá que a Espanha "continue progredindo", explicou Sánchez, que está no poder desde 2018 e que, a partir de 2020, começou a governar em coalizão com a extrema esquerda - na época representada pelo Podemos, partido agora integrado na Sumar.
O porta-voz do Partido Popular (PP), Borja Sémper, de direita, minimizou o alcance o acordo.
"Todos nós sabíamos" que o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e a Sumar "continuariam juntos", mas essa aliança não terá valor sem o "sinal verde" dos separatistas, especialmente os catalães, lembrou.
O PSOE de Pedro Sánchez ficou em segundo lugar nas eleições legislativas de 23 de julho, atrás do PP, de Alberto Núñez Feijóo.
No entanto, o Partido Popular, por não possuir maioria absoluta, não conseguiu o apoio necessário de outras formações para conseguir tomar posse como presidente, abrindo caminho para um novo governo de esquerda.
Para alcançar isso, Sánchez deve obter o apoio de vários partidos separatistas, entre eles o EH Bildu basco, uma formação herdeira da organização armada ETA - hoje dissolvida -, que já comunicou que votará nele para evitar um governo de direita.
- Críticas à "transparência" -
No entanto, as negociações parecem mais complicadas com os partidos separatistas catalães, especialmente com o 'Junts per Catalunya' (JxCat), uma das formações-chave na tentativa fracassada de separação dessa região do nordeste da Espanha, em 2017 - cujo líder Carles Puigdemont fugiu para a Bélgica para escapar da justiça espanhola.
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Quero receberTanto esse partido, que possui sete deputados, quanto a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), impuseram condições para apoiar Sánchez, como a aprovação de uma anistia para os separatistas com processos judiciais devido à tentativa fracassada de separação.
A negociação de um possível perdão legal é fortemente criticada pela direita, extrema direita e alguns setores do próprio partido socialista, e resultou em várias manifestações contrárias durante as últimas semanas.
Ao contrário da Sumar, que se manifestou abertamente a favor da anistia para "superar" a crise de 2017, Sánchez evitou pronunciar-se ao longo da semana sobre o tema, que também não aparece explicitamente no documento assinado nesta terça.
"Como é possível que o acordo entre os socialistas e a Sumar não fale de anistia?", questionou Borja Sémper, criticando a falta de "transparência" de Sánchez, que ainda não tem data para seu debate de investidura no Parlamento - outro tópico também fortemente criticado pelo PP.
O líder socialista tem até 27 de novembro para tentar ser investido pelos deputados. Se não conseguir, novas eleições serão convocadas automaticamente para meados de janeiro.
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© Agence France-Presse
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