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Venezuela: o que explica o fim da 'petro', criptomoeda criada por Maduro

O presidente venezuelano Nicolás Maduro gesticula durante evento de lançamento da criptomoeda Petro, em Caracas, Venezuela Imagem: Federico Parra/ AFP

12/01/2024 13h24

A Venezuela põe fim ao 'petro', criptomoeda que o presidente Nicolás Maduro lançou há seis anos para evitar sanções financeiras dos Estados Unidos, mas que teve uso muito limitado e acabou envolvida em um gigantesco escândalo de corrupção.

A partir de segunda-feira, 15 de janeiro, "a Plataforma Patria fechará bolsas e carteiras em criptomoedas", anunciou uma mensagem do site que administra bônus e subsídios do governo venezuelano, único canal em que esse criptoativo questionado era resgatável.

Os fundos da carteira virtual de 'petro' estão sendo convertidos em bolívares, a desvalorizada moeda local. O governo se recusou a comentar à AFP sobre o encerramento iminente do programa.

O que era o 'petro'?

Maduro anunciou no final de 2017 a criação desta criptomoeda estatal, apoiada pelas vastas reservas de petróleo e recursos minerais da Venezuela.

Devido às restrições impostas pelas sanções de Washington, 'petro' iria "permitir novas formas de financiamento internacional", prometeu o presidente socialista.

Taxada pela Venezuela a 60 dólares (198 reais na cotação da época) por unidade, valor do barril de petróleo venezuelano naquela época, a criptomoeda foi lançada em 2018, mas atrasos devido a problemas no blockchain - o registro das transações da criptomoeda - levantaram dúvidas, que rodearam o plano desde o início.

"Não há confiança no petro, porque não há confiança no emissor", disse na época à AFP o economista Henkel García, diretor da empresa Albus Data.

Unidade de conta

O uso de 'petro' sempre foi escasso e, embora Maduro inicialmente tenha descrito a iniciativa como "um sucesso", ela se restringiu basicamente a operações com o Estado, como o pagamento de impostos.

Mais do que uma criptomoeda, 'petro' funcionou na prática como uma referência de valor em meio à inflação crônica e à constante desvalorização do bolívar.

As multas de trânsito, por exemplo, foram estabelecidas em 'petros', embora não pudessem ser pagas em 'cripto'; e o governo forçou os bancos a apresentar saldos em bolívares e 'petros'.

Na Plataforma Pátria, os usuários recebiam transferências em 'petros' e podiam trocá-las por bolívares por meio de um sistema de leilão, o único disponível.

Maduro chegou a anunciar a "ancoragem" dos salários à criptomoeda estatal. Mas essa promessa nunca foi cumprida e o salário mínimo atualmente mal ultrapassa o equivalente a 3 dólares por mês (14,63 reais, na cotação atual).

Corrupção, o impulso

"O petro (PTR) morre oficialmente", publicou a plataforma privada de criptoativos CryptoLand Venezuela na quarta-feira na rede social X. "A diretoria de reestruturação da Sunacrip (a estatal Superintendência Nacional de Criptoativos) decide encerrar definitivamente o pouco que sobrou deste ecossistema."

'Petro' recebeu um golpe fatal com o escândalo de corrupção que eclodiu em maio do ano passado na estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), no qual estiveram envolvidos funcionários da Sunacrip.

O caso provocou a demissão do outrora poderoso ministro do Petróleo, Tareck El Aissami, que desde então desapareceu da vida pública.

A Sunacrip ficou sob o controle de um conselho de reestruturação após a prisão de seu superintendente, Joselit Ramírez, e do chefe das operações de mineração digital da instituição, Rajiv Mosqueda, por denúncias de irregularidades com recursos provenientes de operações petrolíferas realizadas com criptoativos.

A sede da Sunacrip foi fechada após a prisão de Ramírez.

Refúgio

Sem dar mais explicações, Maduro deixou de se referir à criptomoeda estatal em suas aparições públicas.

O uso de criptomoedas era alto na Venezuela muito antes do compromisso do governo com o 'petro', já que os criptoativos eram vistos como um refúgio da inflação. De acordo com uma pesquisa apresentada em 2022 na Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, 10,3% dos venezuelanos possuem criptos, em comparação com 8,3% dos americanos e 5% dos britânicos.

A "mineração" - processo pelo qual novas unidades de criptomoedas são criadas por meio de algoritmos gerados por computador - também está em alta neste país, devido aos baixos custos da energia elétrica.

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