Lula ficou 'assustado' com declarações de Maduro sobre eleições na Venezuela
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta segunda-feira (22), que ficou "assustado" com as advertências do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que afirmou que uma vitória da oposição nas eleições do próximo domingo (28) resultaria em um "banho de sangue".
"Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue", afirmou o presidente sobre o seu aliado.
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"O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição", declarou Lula durante coletiva de imprensa com agências internacionais em Brasília.
"Então eu estou torcendo [para] que aconteça isso pelo bem da Venezuela e pelo bem da América do Sul", acrescentou.
O país caribenho realizará no próximo domingo eleições presidenciais que representam o maior desafio para o chavismo em seus 25 anos no poder, com uma oposição que pela primeira vez aparece como favorita.
- Respeitar as eleições -
Maduro, de 61 anos, presidente desde 2013 e aspirante a um terceiro mandato de seis anos, apresentou essa votação como uma escolha entre "paz e guerra", e disse que uma vitória da oposição levaria a um "banho de sangue".
"Já falei com o Maduro duas vezes, [...] e o Maduro sabe que a única chance da Venezuela voltar à normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todo mundo", afirmou Lula.
"Se o Maduro quiser contribuir para resolver a volta do crescimento na Venezuela, a volta das pessoas que saíram da Venezuela, estabelecer um estado de crescimento econômico, ele tem que respeitar o processo democrático", defendeu o presidente.
Lula subiu o tom recentemente ao criticar uma série de obstáculos à oposição por parte da autoridade eleitoral venezuelana, de viés governista, e pedir uma maior observação internacional, depois que a União Europeia (UE) foi impedida de acompanhar as eleições.
O presidente confirmou nesta segunda que o governo brasileiro enviará dois representantes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e seu assessor de assuntos internacionais, Celso Amorim, para observar o processo no país vizinho.
Lula também pediu a suspensão das sanções internacionais que pesam sobre a Venezuela.
No início de julho, disse esperar que os resultados do próximo domingo sejam reconhecidos por todos e que isso permita o rápido retorno de Caracas ao Mercosul, do qual foi suspensa em 2017.
- Eleição "civilizada" nos EUA -
Após a desistência do presidente americano, Joe Biden, de sua candidatura à reeleição, Lula afirmou esperar que as eleições nos Estados Unidos ocorram da "forma mais civilizada possível".
"Seja um candidato democrata, seja o Trump, a nossa relação vai ser uma relação civilizada de dois países importantes [...] Espero que a disputa se dê da forma mais civilizada possível, espero que não tenha baixo nível, espero que não tenha nada que possa colocar o símbolo da democracia em risco", disse o petista.
As dúvidas sobre a saúde de Biden, de 81 anos, e sua capacidade de derrotar novamente o ex-presidente republicano Donald Trump nas urnas fizeram-no jogar a toalha a pouco mais de três meses do pleito.
A favorita para ocupar o lugar de Biden como candidata do Partido Democrata é a vice-presidente Kamala Harris.
- Relação turbulenta com Milei -
Lula também indicou que espera ter uma relação "civilizada" com a Argentina.
O presidente ultraliberal Javier Milei recentemente chamou Lula de "esquerdista" com o "ego inflamado" e se recusou a se desculpar por declarações anteriores a sua posse, ocasião em que classificou o brasileiro como "canhoto selvagem", "comunista" e "corrupto".
"Não é uma relação pessoal, não é uma questão de amigo, amizade, não existe isso entre dois chefes de Estado", disse Lula nesta segunda.
"É isso que eu espero da Argentina, uma relação civilizada, uma relação crescente, e obviamente que vai depender muito do comportamento do governo da Argentina com relação ao Brasil", acrescentou.
O Brasil também acompanha de perto a situação na Bolívia, marcada por uma tentativa de golpe de Estado em junho.
Lula planeja convidar o ex-presidente boliviano Evo Morales (2006-2019) para discutir em Brasília a situação de seu país, segundo fontes do Palácio do Planalto, que não deram mais detalhes.
O golpe fracassado aprofundou ainda mais a divisão no seio da esquerda boliviana entre Morales e o presidente Luis Arce, seu ex-aliado.
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