Boxeadora Khelif, envolvida em polêmica de gênero, conquista ouro em Paris

A argelina Imane Khelif, uma das duas boxeadoras dos Jogos de Paris-2024 envolvidas em uma polêmica de gênero, conquistou nesta sexta-feira (9) a medalha de ouro no peso meio-médio (-66 kg) diante de um público entusiasmado com sua vitória no ringue de Roland Garros.

Khelif conquistou seu primeiro título olímpico ao derrotar a chinesa Yang Liu por decisão unânime e comemorou andando pela icônica quadra de tênis carregada nos ombros de um membro de sua equipe.

"Fui alvo de ataques e de uma campanha feroz, e esta é a melhor resposta que poderíamos dar", declarou Khelif após a sua vitória. "Sou uma mulher forte com poderes especiais. Do ringue mandei uma mensagem para aqueles que estavam contra mim".

"Trabalhei oito anos sem dormir. Oito anos cansada, mas agora sou campeã olímpica", comemorou a boxeadora de 25 anos.

Depois de competir sem alarde em Tóquio-2020, tanto Khelif quanto a boxeadora taiwanesa Lin Yu-ting se viram em Paris no centro de uma onda de críticas de alguns rivais e políticos conservadores como Donald Trump, assim como de numerosos usuários das redes sociais, que questionaram se são mulheres porque no ano passado não passaram num teste de gênero no Mundial feminino.

Ambas foram desclassificadas desse torneio pela Associação Internacional de Boxe (IBA), organização que está em conflito com o Comitê Olímpico Internacional (COI).

O COI retirou da IBA a organização do boxe nos Jogos por problemas éticos e de transparência e defendeu a presença tanto de Khelif quanto de Lin, que no sábado lutará pelo ouro do peso pena (-57kg).

- A melhor resposta ao "bullying" -

Depois de ser parabenizada por telefone pelo presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, Khelif disse à beIN Sports: "Fui alvo de assédio e de uma campanha feroz, e esta é a melhor resposta para eles".

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"Estou plenamente qualificada para participar [do torneio olímpico feminino]. Sou uma mulher como qualquer outra. Nasci mulher, vivi como mulher e competi como mulher", insistiu. "Meu sucesso tem um sabor especial devido aos ataques".

Do outro lado da polêmica, Khelif emergiu nestes Jogos como uma nova heroína desportiva na Argélia.

A boxeadora deu ao país africano o segundo ouro em Paris-2024 e também é a primeira boxeadora argelina a vencer num ringue olímpico.

Com suas camisetas e bandeiras, os torcedores argelinos praticamente lotaram as arquibancadas de Roland Garros, com capacidade para 15 mil espectadores.

- Heroína na Argélia -

Khelif, de 25 anos, foi ovacionada ao entrar enquanto sua adversária foi recebida com vaias por parte do público.

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Durante os três rounds, ela dominou completamente a experiente rival, campeã mundial do ano passado.

Khelif, que desta vez não tinha vantagem de envergadura, conseguiu explorar sua maior força física desferindo uma série de golpes em Yang, tomando a iniciativa do combate desde o início.

No último assalto, a argelina só precisou defender a vantagem e, quando o gongo soou pela última vez, pulou de alegria antes de cumprimentar a adversária e levantar seu braço em reconhecimento.

A boxeadora chinesa aceitou a saudação de Khelif ao contrário de outras adversárias derrotadas, como a italiana Angela Carini em sua estreia.

A italiana abandonou aquela luta aos prantos após apenas 46 segundos, em que recebeu vários golpes fortes no rosto.

As imagens rapidamente se espalharam nas redes sociais com figuras do esporte, como Martina Navratilova, e da política conservadora, desde a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, até Donald Trump, criticando a autorização do COI para a participação de Khelif.

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"Tentei ao máximo, mas minha adversária foi muito melhor. Ela é uma excelente lutadora e muito forte", reconheceu Yang.

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© Agence France-Presse

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