Nobel de Química premia avanços na previsão da estrutura de proteínas com IA
Os americanos David Baker e John Jumper e o britânico Demis Hassabis ganharam, nesta quarta-feira (9), o Prêmio Nobel de Química, por seu trabalho capaz de prever a estrutura das proteínas por meio da Inteligência Artificial (IA).
Baker, um bioquímico de 62 anos, ganhou metade do prêmio por seus avanços no "design computacional de proteínas", enquanto Hassabis e Jumper dividiram a outra metade pela "previsão de estruturas proteicas", disse o júri.
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Baker "realizou a façanha quase impossível de construir proteínas completamente novas", explicou o júri. "Entre uma infinidade de aplicações científicas, os pesquisadores agora podem compreender melhor a resistência aos antibióticos e criar imagens de enzimas que podem decompor o plástico", acrescentou.
"Eu estava dormindo quando o telefone tocou, peguei e ouvi o anúncio, então minha esposa começou a gritar", contou Baker.
- "Métodos mais poderosos" -
O pesquisador explicou que está muito impressionado com "todas as formas em que o design de proteínas pode agora tornar o mundo um lugar melhor", em áreas como saúde, medicina, tecnologia e sustentabilidade.
"Nossos novos métodos de IA são muito mais poderosos" do que os tradicionais, explicou.
A outra metade do prêmio foi para a dupla Demis Hassabis, de 48 anos, e John Jumper, nascido em 1985 e que dirige o Google Deepmind, responsável por "desenvolver um modelo de inteligência artificial para resolver um problema de 50 anos: prever as estruturas complexas das proteínas", segundo o júri.
Seu modelo de IA, Alphafold, pode prever a estrutura tridimensional das proteínas com base em seus aminoácidos.
"Com a ajuda desta IA, conseguiram prever a estrutura de quase todas as 200 milhões de proteínas identificadas pelos pesquisadores", acrescenta.
Em entrevista coletiva em Londres, Hassabis disse que passou a vida inteira trabalhando com IA e "sonhando com esse tipo de impacto de coisas como o AlphaFold, onde podemos usá-lo para o benefício da sociedade".
"Sempre soube e senti que seria provavelmente uma das tecnologias mais transformadoras da história da humanidade", disse Hassabis.
A IA também foi destaque no prêmio de Física de terça-feira, que reconheceu os principais avanços no desenvolvimento da tecnologia, e foi concedido ao americano John Hopfield e ao britânico-canadense Geoffrey Hinton, conhecido como o "Padrinho da IA".
No entanto, tanto os premiados de Física como de Química alertaram para os riscos da IA, que promete revolucionar a sociedade, mas também suscita temores apocalípticos. "Estou preocupado que a consequência geral disso possa ser que sistemas mais inteligentes do que nós acabem assumindo o controle", disse Hinton, de 76 anos, à imprensa após o anúncio.
Hassibis mencionou o mesmo receio. "Temos que pensar muito seriamente, à medida que estes sistemas e técnicas se tornam mais poderosos, sobre como permitir e aproveitar todos os benefícios incríveis e bons casos de uso, ao mesmo tempo que mitigamos os maus casos de uso e os riscos", disse ele.
"Todos os setores da sociedade devem participar deste debate porque afetará a todos", frisou.
- "Uma conquista monumental" -
O Google DeepMind parabenizou os dois pesquisadores na rede social X.
"Esta é uma conquista monumental para a IA, a biologia computacional e a própria ciência", afirmou o laboratório de pesquisa.
Em 2023, os três receberam o prêmio Fronteiras do Conhecimento em Biomedicina da Fundação BBVA.
No ano passado, o Prêmio Nobel de Química foi para um trio por suas pesquisas em nanopartículas chamadas pontos quânticos: Moungi Bawendi (Estados Unidos-França-Tunísia), Louis Brus (Estados Unidos) e Alexei Ekimov (Estados Unidos, nascido na URSS).
Na terça-feira, o prêmio de Física foi para o americano John Hopfield e o britânico-canadense Geoffrey Hinton por seu trabalho pioneiro em aprendizagem automática, uma ferramenta usada no desenvolvimento da Inteligência Artificial.
Na segunda-feira, os americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun receberam o Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta do microRNA e seu papel na regulação genética.
A temporada Nobel continua esta semana com o anúncio dos aguardados prêmios de Literatura, na quinta-feira, e da Paz, na sexta-feira. O de Economia encerrará a série na segunda-feira, 14 de outubro.
Para os vencedores de 2024, o cheque que acompanha o prêmio é de 11 milhões de coroas suecas, o equivalente a um milhão de dólares ou 5,5 milhões de reais.
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