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Organização japonesa antiarmas atômicas Nihon Hidankyo vence Prêmio Nobel da Paz

11/10/2024 07h46

O Prêmio Nobel da Paz foi entregue nesta sexta-feira (11) à organização japonesa Nihon Hidankyo, que reúne sobreviventes dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki em 1945. 

O grupo, fundado em 1956, recebeu o prêmio "por seus esforços em favor de um mundo sem armas nucleares e por ter demonstrado, através de testemunhos, que as armas nucleares nunca mais deveriam ser utilizadas", afirmou o presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Jørgen Watne Frydnes. 

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O copresidente da Nihon Hidankyo, Tomoyuki Mimaki, ficou surpreso ao saber que sua organização recebeu o Prêmio Nobel da Paz. "Nunca sonhei que isso pudesse acontecer", disse ele com entusiasmo em uma conferência de imprensa em Tóquio. 

O presidente do Comitê do Nobel considerou "alarmante" que o "veto ao uso de armas nucleares", declarado em resposta aos bombardeios atômicos de agosto de 1945, esteja agora "sob pressão". 

"O prêmio deste ano é um prêmio que se concentra na necessidade de defender este veto nuclear. Todos nós temos uma responsabilidade, especialmente as potências nucleares", disse Frydnes aos jornalistas.

Quase 80 anos depois dos bombardeios atômicos das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, os últimos sobreviventes da dupla tragédia continuam a luta pela perpetuação da memória e pela proibição das armas nucleares.

- Gaza está "como Japão há 80 anos" -

Mimaki considerou que a situação atual na Faixa de Gaza, cenário há um ano de uma guerra entre Israel e o movimento palestino Hamas, é semelhante à do Japão devastado pelas bombas no final da Segunda Guerra Mundial. 

"Em Gaza, (os pais) tomam em seus braços as crianças ensanguentadas. É como no Japão há 80 anos", disse ele, acrescentando que a ideia de que as armas nucleares trazem a paz é uma falácia. 

"Foi dito que graças às armas nucleares o mundo mantém a paz. Porém, as armas nucleares podem ser usadas por terroristas", disse ele. 

"Por exemplo, se a Rússia as usar contra a Ucrânia, ou Israel contra Gaza, não terminará aí. Os políticos deveriam saber dessas coisas", insistiu Mimaki. 

Moscou tem utilizado repetidamente a ameaça das armas nucleares para tentar dissuadir os países ocidentais de apoiarem a Ucrânia, que enfrenta a invasão russa desde fevereiro de 2022.

Para os países ocidentais, a ameaça chega também vem da Coreia de Norte, que multiplica os disparos de mísseis balísticos, e do Irã, que supostamente busca se munir com a bomba atômica, o que Teerã nega.

O chefe da ONU, António Guterres, pediu a "eliminação" das bombas nucleares, que descreveu como "dispositivos mortais". 

Estas armas representam o "mal absoluto", comentou o prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui.

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, classificou o prêmio a Nihon Hidankyo como "extremamente significativo". 

Para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, representa uma "mensagem poderosa". 

"O fantasma de Hiroshima e Nagasaki ainda paira sobre a humanidade. Isto torna a ação de Nihon Hidankyo inestimável", disse no X. 

Em 2025 completarão 80 anos desde que as duas bombas atômicas americanas mataram cerca de 120 mil habitantes de Hiroshima e Nagasaki. Um número semelhante morreu posteriormente devido a queimaduras e lesões por radiação. 

- "Destruiria a nossa civilização" -

O presidente do Comitê Nobel destacou que "as atuais armas nucleares têm um poder destrutivo muito maior". "Uma guerra nuclear destruiria a nossa civilização", alertou Frydnes. 

Em janeiro, havia 12.121 ogivas nucleares no mundo, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo. 

Atualmente, nove países possuem armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, China, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e, de forma não oficial, Israel.

Não é a primeira vez que ativistas ou organizações a favor do desarmamento recebem o Nobel da Paz. 

Em 1975, foi atribuído ao dissidente soviético Andrei Sakharov e em 1985 à Associação Internacional de Médicos para a Prevenção da Guerra Nuclear. Em 1995, Joseph Rotblat e seu movimento Pugwash foram laureados. 

Em 2005, a Agência Internacional de Energia Atômica e seu diretor, Mohamed ElBaradei, ganharam o prêmio, que em 2017 foi atribuído à Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN, na sigla em inglês).

O prêmio a Nihon Hidankyo foi "muito merecido e um reconhecimento extremamente importante", declarou a ICAN.

No ano passado, a ativista iraniana dos direitos das mulheres, Narges Mohammadi, presa em seu país, foi condecorada por sua luta contra a opressão das mulheres no Irã. 

O prêmio será entregue em uma cerimônia formal em Oslo, no dia 10 de dezembro, aniversário da morte de seu criador, em 1896, o sueco Alfred Nobel. 

O Prêmio Nobel da Paz é o único concedido em Oslo, enquanto os demais são anunciados em Estocolmo. 

A premiação vem acompanhada de uma medalha de ouro, um diploma e um cheque no valor de um milhão de dólares (5,58 milhões de reais). 

Nesta semana, foram entregues os prêmios de Medicina, Física, Química, Literatura e Paz. A temporada terminará na segunda-feira com o Nobel de Economia.

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© Agence France-Presse

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