Lula e Xi urgem solução política na Ucrânia em meio a nova escalada
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e seu contraparte, Xi Jinping, urgiram, nesta quarta-feira (20), uma solução política para o conflito na Ucrânia, durante uma visita do mandatário chinês a Brasília, que evidenciou a boa sintonia entre os dois líderes do Sul Global.
"Em um mundo assolado por conflitos armados e tensões geopolíticas, China e Brasil colocam a paz, a diplomacia e o diálogo em primeiro lugar", disse Lula ao lado de Xi, após uma reunião no Palácio da Alvorada.
Relacionadas
Xi, por sua vez, convocou "mais vozes comprometidas com a paz" para buscar uma "solução política" na Ucrânia, segundo a agência oficial de notícias Xinhua.
Os dois governos apresentaram este ano uma proposta de paz entre Rússia e Ucrânia, que praticamente só teve uma sinalização positiva do presidente russo, Vladimir Putin, um aliado próximo de Xi. O líder russo considerou a proposta "equilibrada", mas a mesma foi rejeitada pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelensky. O plano também não recebeu o apoio dos Estados Unidos, nem da Europa.
Nesta quarta, o Brasil se somou a Chile, Colômbia e México, e juntos, os quatro países urgiram "evitar uma escalada armamentista" e um agravamento do conflito, após as novas ameaças nucleares de Moscou.
Xi também pediu um cessar-fogo em Gaza, em um dia em que os Estados Unidos vetaram no Conselho de Segurança da ONU um pedido de interrupção das hostilidades nesta região do Oriente Médio.
O presidente chinês foi recebido com pompa por Lula e a primeira-dama, Rosângela 'Janja' da Silva, no tapete vermelho do Palácio da Alvorada, ladeados pelos Dragões da Independência.
Os dois líderes, cujos países integram o Brics, assim como a Rússia, já haviam se encontrado esta semana na reunião de cúpula do G20, no Rio de Janeiro.
- "Estamos no melhor momento" -
As relações entre "China e Brasil estão no melhor momento da história", disse Xi, citado pela agência Xinhua.
Com US$ 160 bilhões em transações bilaterais em 2023 (cerca de R$ 775 bilhões, em valores da época), a China é o maior parceiro comercial do Brasil, que busca diversificar suas exportações com produtos de maior valor agregado.
Os dois governos assinaram mais de 35 acordos bilaterais em áreas como comércio, telecomunicações, agricultura, indústria e infraestrutura.
Um deles contempla a possível entrada no mercado brasileiro da empresa chinesa de satélites SpaceSail, concorrente da Starlink, do bilionário sul-africano Elon Musk, que fornece serviço de internet em áreas remotas do país.
Musk tem tido problemas com a justiça brasileira: sua rede social, X, foi suspensa este ano por 40 dias por não acatar ordens relativas ao combate à desinformação.
- Preencher o vazio -
A volta à Casa Branca de Donald Trump, que promete um retorno do protecionismo econômico nos Estados Unidos, poderia estreitar os vínculos de Pequim com países da região.
"Xi Jinping busca claramente preencher o vazio que surgirá com a eleição de Trump, que não valoriza o multilateralismo", disse Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas.
Antes da viagem de Xi, aventou-se a possibilidade de o Brasil assinar sua entrada na iniciativa "Belt and Road" (ou Nova Rota da Seda), um programa chinês de infraestrutura e cooperação internacional lançado em 2013, como parte de sua estratégia para expandir sua influência global.
Longe disso, os dois países só concordaram em estabelecer "sinergias" nesta área.
- Provérbio chinês -
Natalia Molano, porta-voz em espanhol do Departamento de Estado americano, afirmou à AFP que Washington incentiva o Brasil a "avaliar com os olhos abertos os riscos e benefícios de uma aproximação com a China".
"Como diz um provérbio chinês: quem usa sapatos é o único que sabe se esses sapatos realmente lhe servem", disse uma fonte diplomática chinesa em resposta.
"A China e a América Latina e o Caribe são os que têm a palavra final sobre o desenvolvimento do seu vínculo", acrescentou.
rsr/app/nn/aa/dd-lb/mvv
© Agence France-Presse