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Nas trincheiras da Ucrânia, promessas de paz de Trump são vistas com ceticismo

04/12/2024 09h43

Apesar de meses de combates intensos na frente da Ucrânia, Kostia não perdeu seu senso de humor, nem mesmo quando o tema é Donald Trump e suas promessas de resolver rapidamente o conflito com a Rússia. 

"Em 20 de janeiro é a posse de Trump. Em 21 de janeiro é o fim da guerra. Em 22 de janeiro espero estar comemorando meu aniversário em casa", afirma com sarcasmo o soldado ucraniano de 23 anos. 

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O presidente eleito dos Estados Unidos assegura que conseguirá um cessar-fogo em apenas 24 horas e, na Ucrânia, muitos temem que ele tente pressionar Kiev para aceitar as condições russas para a paz. 

Na frente oriental, os soldados que tentam conter o lento, mas implacável avanço russo na região do Donbass contemplam com muito ceticismo a possibilidade de um acordo rápido entre Kiev e Moscou. 

"É possível uma paz rápida", continua Kostia, agora em tom sério. "Mas apenas às nossas custas", interrompe Valeria, um companheiro de 22 anos de sua mesma companhia.  

Os dois jovens aproveitam um descanso com outros soldados a poucos quilômetros da cidade de Kurakhove, sob ataque das tropas russas. 

Trump não revelou nenhum detalhe de seus planos para levar os dois rivais à mesa de negociação, muito menos dos termos de um acordo que as duas partes podem aceitar. 

E, ao contrário de Joe Biden, ele não estimulou a vitória de Kiev e criticou repetidamente a ajuda militar dos EUA à Ucrânia.

Os temores sobre sua estratégia se agravaram depois que ele nomeou como emissário ucraniano Keith Kellogg, um general que instou Kiev a fazer concessões para terminar a guerra.  

- "Estão nos abandonando" -

Exaustos depois de quase três anos de guerra, a desconfiança reina entre soldados ucranianos. 

Kostia acredita que uma hipotética paz não irá parar a Rússia. "Conseguiríamos somente uma paz de curta duração, a guerra continuará", diz. 

Segundo ele, os aliados ocidentais estão deixando a Ucrânia cada vez mais sozinha ante um rival muito mais poderoso. 

"Já estão nos abandonando. Não importa se Trump é presidente ou não. Pactuarão com a Rússia outra vez. E seremos absorvidos", prevê. 

As tropas russas aceleraram sua ofensiva em novembro e tomaram cerca de 725 quilômetros quadrados do território ucraniano, principalmente na região oriental de Donetsk, de acordo com uma análise da AFP de dados do Instituto para o Estudo da Guerra dos EUA. 

É o maior ganho em um mês para Moscou desde março de 2022. 

"Estamos perdendo", diz Volodimir, destacado perto de Pokrovsk, uma cidade mineradora e importante centro de logística em Donetsk que está na mira das tropas russas. 

Ele tem 23 anos, mas parece muito mais velho após meses de combates impiedosos. "Os soldados já estão fartos. Todos têm famílias, entes queridos.... Todos querem voltar para casa", diz ele com uma voz sombria. 

Mas ele também não tem esperança de uma paz rápida. "A Rússia atacará novamente, não importa o que aconteça".

- "Eles voltarão para nos buscar" -

Muitos compartilham essa opinião, inclusive um ex-professor de história que usa o pseudônimo do escritor francês Alexandre Dumas.

O homem de 44 anos, indiferente à eleição de Trump, diz que não acredita "nos doces sonhos de paz em 24 horas".

"Assim que eles declararem um cessar-fogo, eu saio deste país. Porque eles voltarão para nos buscar, rearmados, em cinco ou dez anos", diz ele.

"É claro que estamos todos exaustos, mas temos que continuar lutando", insiste o soldado, que acredita que são os civis que estão pressionando por um acordo.

Mas Yuri, um civil que fugiu da cidade de Toretsk, também é contra uma trégua.

Sentado em um ônibus de evacuação com seu gato, o ex-mineiro de 56 anos está com o olhar perdido.

Sua casa foi bombardeada recentemente. Ele se lembra de ter que "cavar, cavar e cavar mais um pouco" para tentar, em vão, recuperar o corpo de seu filho.

Para ele, as promessas de uma paz rápida são um insulto.

"Eu não acredito nisso!", exclama. "Putin continuará até o fim da Ucrânia".

bur-brw/jdbh/pc/dd/yr

© Agence France-Presse

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