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Reeleição de Maduro é novo 'ponto de ruptura' na migração massiva da Venezuela

07/01/2025 11h31

O anúncio da reeleição do presidente Nicolás Maduro entre denúncias de fraude foi "o ponto de ruptura" para Susej Ramos, que faz as malas para deixar a Venezuela, um país que viveu um enorme êxodo migratório durante a última década.

"Vou embora no dia 2 de fevereiro", disse Ramos, uma enfermeira de 30 anos que vende roupas esportivas online para sobreviver.

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Cansada de remar contra a maré em uma eterna crise política e econômica, ela vinha amadurecendo a ideia de migrar com seu irmão e se juntar aos mais de sete milhões de venezuelanos que deixaram seu país desde 2014, de acordo com estimativas da ONU.

"Parei de trabalhar como enfermeira porque os salários não servem para nada (...). Se você paga o aluguel, não come; se você come, não paga o aluguel", lamenta. "Eu quero trabalhar para, você sabe, comprar uma casa, por exemplo".

"Aqui eu não tenho acesso a crédito. Não tenho acesso a nada", acrescenta.

As eleições presidenciais de 28 de julho, nas quais o líder da oposição Edmundo González Urrutia reivindicou a vitória sobre Maduro, foram o impulso final, "o ponto de ruptura", diz ela.

Ramos irá para a Espanha, com a ideia de aguardar a papelada para se mudar para os Estados Unidos, onde planeja se estabelecer permanentemente.

Um membro da família solicitou às autoridades dos EUA um "parole humanitário", uma autorização de residência temporária que permitiria que ela trabalhasse.

"Minha tia mora na Flórida há 10 anos. Ela tem sua residência lá e já tomou as providências e me disse onde posso fazer o curso (para validar meus estudos como enfermeira)", diz ela. "Como ainda não consegui, decidi ir para a Espanha por enquanto. Estou indo para Sevilha".

- Motivação econômica -

A reeleição de Maduro foi rejeitada pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por muitos países latino-americanos, em meio a temores sobre o impacto migratório do agravamento da crise.

O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, expressou preocupação com um possível aumento no número de migrantes venezuelanos que cruzam a perigosa Selva de Darién a caminho dos Estados Unidos.

Cerca de 300.000 venezuelanos fizeram essa rota em 2024, 41% a menos do que em 2023.

Carol Pedroso, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo e especialista em América Latina, considera que é realmente "possível" que o número de migrantes da Venezuela continue a aumentar, embora ela enfatize que a principal motivação para isso seja econômica, como no caso de Susej Ramos.

"As condições materiais são o grande determinante da migração venezuelana. O segundo fator, claro, é a própria expectativa de mudança ou não na política e o sentimento das pessoas de se sentirem ali de forma mais individualizada, perseguidas ou inseguras com a manutenção de Nicolás Maduro no poder", comenta Pedroso à AFP.

As tensões políticas injetam incerteza econômica com o retorno de Donald Trump à Casa Branca.

Trump ainda não anunciou sua política em relação à Venezuela. Em seu primeiro mandato como presidente dos EUA, ele impôs fortes sanções financeiras contra ao país, incluindo um embargo de petróleo.

Dessa vez, o republicano retorna ao poder com um forte discurso anti-imigrante, que incluiu acusações contra Maduro de enviar criminosos para desestabilizar seu país. Sua principal promessa de campanha: deportação em massa de imigrantes sem documentos.

- "Penso por dois" -

"Depois das eleições, as vendas caíram muito", diz Ramos sobre sua loja de roupas online.

"Tem sido terrível (...). Imagino que as pessoas estejam priorizando; elas não vão comprar roupas se as coisas estiverem piores, elas vão comprar comida", diz ela. "Posso fazer duas vendas por semana, quando costumava fazer 10 vendas por dia".

O irmão de Susej Ramos tem déficit de atenção e problemas psicomotores, o que tem sido outro fator decisivo na falta de políticas públicas para seu atendimento.

"Eles me disseram que lá (nos Estados Unidos) é mais fácil para ele conseguir um bom emprego com sua condição, porque a mentalidade é diferente", diz ela. "Quero abrir outra perspectiva para ele. Não penso somente em mim, mas por dois".

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© Agence France-Presse

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