Biden, o presidente que tentou afastar Trump

Joe Biden queria entrar para a história como o presidente que salvou "a alma" dos Estados Unidos ao afastar o seu inimigo Donald Trump, mas terá de ceder o poder após perder a luta contra a velhice e o populismo.

Na segunda-feira (20), o democrata de 82 anos entregará as chaves da Casa Branca ao republicano, seu antecessor e agora sucessor.

Ele deixa o cargo preocupado. Em um discurso de despedida, alertou a seus compatriotas que uma "oligarquia" com "uma riqueza, poder e influência extremas" está se formando no país e "ameaça" a democracia. 

"Agora é sua vez de ficar de guarda", disse, fazendo alusão aos magnatas de empresas tecnológicas que apoiam Trump, especialmente o homem mais rico do mundo, Elon Musk.

O 46º presidente dos Estados Unidos, que se descreve como amigo da classe operária e pede impostos mais altos para os super-ricos, controlou a pandemia, reanimou a economia e renovou as alianças internacionais. Também lançou grandes projetos de transição energética, reindustrialização e infraestrutura, deixando uma economia forte para seu sucessor.

Mas a retirada caótica do Afeganistão em 2021 foi um duro golpe para sua imagem, acentuando-se mais tarde quando a inflação disparou. 

Nem sua resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia nem seu apoio incondicional a Israel na guerra de Gaza conseguiram corrigir a impressão de fraqueza projetada por ele.

- Salvar "a alma" -

O democrata diz estar ciente de que "levará tempo para sentir o impacto" de seu legado. "Mas as sementes foram plantadas".

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Este católico fervoroso se sentia responsável por uma missão tanto espiritual quanto política: salvar a "alma" do país. 

Nascido na cidade de Scranton, na Pensilvânia, Biden é um exemplo de superação. Quando criança, ele era alvo de piadas devido à sua gagueira, que combateu recitando poesia. 

Sua vida foi marcada por tragédias pessoais. Ele perdeu a primeira esposa e a filha em um acidente de carro, seu filho primogênito Beau, em quem ele via um possível futuro presidente, morreu de câncer e seu segundo filho, Hunter, tinha problemas com álcool e drogas.

Mais tarde, casou-se novamente com Jill Biden, mãe de sua filha Ashley. 

Ele também demonstrou grande resiliência em seus 50 anos de carreira política. 

O democrata entrou para a política durante a Guerra do Vietnã, mas como era estudante de direito, escapou do combate. 

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Profundamente centrista, Biden sempre preferiu paletós a estampas psicodélicas e assistiu a manifestações pacifistas com desdém.

- "A magia dos Estados Unidos" -

O democrata chegou à presidência em sua terceira tentativa, e prometeu cumprir um único mandato para ser uma "ponte" para a próxima geração. 

Mas não concluiu sua promessa. Concorreu à reeleição apesar de sua idade e foi forçado a ceder o lugar para a vice-presidente Kamala Harris no meio da campanha.

Nos últimos tempos, a gagueira e as frases inacabadas no debate eleitoral de junho contra Trump pioraram a situação e ele acabou se tornando uma preocupação para o Partido Democrata. 

Em seus últimos dias no cargo, ele organizou uma transição civilizada que Trump lhe negou. 

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Em 1º de dezembro, concedeu um perdão presidencial ao seu filho Hunter, apesar de ter dito que nunca faria isso. 

"Para mim, a família é tudo", reconheceu o democrata na quarta-feira ao se despedir do país, que ele define com uma palavra: "possibilidades". 

"Somente nos Estados Unidos acreditamos que tudo é possível, como uma criança gaga de origem humilde (...) sentada atrás desta mesa no Salão Oval como presidente. Essa é a magia dos Estados Unidos", declarou.

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© Agence France-Presse

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