Rússia e EUA nomearão negociadores para pôr fim à guerra na Ucrânia

Washington afirmou, nesta terça-feira (18), que Rússia e Estados Unidos criarão equipes para negociar o fim da guerra na Ucrânia o mais rápido possível, após uma reunião entre as duas superpotências na Arábia Saudita, sem a presença de ucranianos ou europeus.

Os Estados Unidos destacaram que as nações europeias terão que fazer parte das negociações "em algum momento", após o primeiro encontro oficial entre altos funcionários americanos e russos desde que Moscou iniciou sua ofensiva contra o país vizinho, em 24 de fevereiro de 2022.

Alguns líderes europeus, alarmados após o presidente Donald Trump conversar na semana passada com seu par russo, Vladimir Putin, temem que Washington faça grandes concessões a Moscou nas negociações para encerrar a guerra e reorganize a segurança do continente.

Em visita oficial à Turquia, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, não hesitou em criticar o encontro em Riade, "novamente sobre a Ucrânia e sem a Ucrânia".

Zelensky pediu a realização de conversas "justas" que incluam a União Europeia (UE), o Reino Unido e a Turquia, que se ofereceu para sediar as negociações.

Questionado sobre as declarações de Zelensky, Trump afirmou que está "decepcionado".

"Estou muito decepcionado, ouvi que estão chateados por não terem um assento. Bem, você esteve lá por três anos... Você nunca deveria ter começado. Você poderia ter feito um acordo", disse.

Os chefes da diplomacia americana, Marco Rubio, e da russa, Sergei Lavrov, concordaram em "nomear suas respectivas equipes de alto nível para começar a trabalhar em uma via para encerrar o conflito na Ucrânia o mais rápido possível", informou o Departamento de Estado americano.

Washington acrescentou que as partes também concordaram em "estabelecer um mecanismo de consulta" e "pavimentar o caminho para uma futura cooperação em questões geopolíticas de interesse comum e nas oportunidades econômicas e de investimento que surgirão com a resolução do conflito na Ucrânia".

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Yuri Ushakov, assessor diplomático do Kremlin, confirmou que "equipes distintas de negociadores" seriam constituídas, acrescentando que um possível encontro entre Trump e Putin ainda não foi fechado.

- Defesa europeia -

Para a Rússia, a reunião em Riade representa uma jogada diplomática importante após três anos de isolamento sob a administração anterior na Casa Branca.

"Não nos limitamos a ouvir, mas nos ouvimos mutuamente, e tenho razões para acreditar que a parte americana entendeu melhor nossa posição", declarou Lavrov à imprensa.

Moscou esboçou algumas de suas perspectivas sobre as futuras conversas para pôr fim ao conflito, afirmando que sua resolução requer uma reorganização dos acordos de defesa europeus.

"Uma resolução duradoura e viável de longo prazo é impossível sem um exame detalhado das questões de segurança no continente", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

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A Rússia tem insistido há muito tempo na retirada das forças da Otan da Europa Oriental, pois considera que a Aliança Atlântica é uma ameaça à sua existência, argumento que usou para justificar a invasão à Ucrânia. 

Putin disse estar "disposto" a negociar com Zelensky "se necessário", segundo o Kremlin. A Presidência russa também reconheceu "o direito" da Ucrânia de ingressar na União Europeia, mas não na Otan.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, insistiu, nesta terça-feira, em que a UE quer "colaborar" com os Estados Unidos por uma paz "justa" na Ucrânia.

"Há outras partes que têm sanções [contra a Rússia], a União Europeia terá que estar na mesa em algum momento, porque eles também têm sanções", declarou Rubio após a reunião em Riade.

- Discordâncias -

O presidente francês, Emmanuel Macron, indicou que tem a intenção de realizar uma rodada de conversas com países europeus e não europeus na quarta-feira, após a reunião de emergência que organizou na última segunda-feira com alguns parceiros para tentar chegar a uma posição comum sobre segurança.

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Durante o encontro em Paris, no entanto, os aliados europeus discordaram sobre o envio de forças de manutenção de paz para a Ucrânia.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou que está disposto a considerar o envio de soldados britânicos para a Ucrânia.

Nesta terça-feira, Macron apontou que seria possível "enviar especialistas, ou até mesmo tropas em termos limitados, fora de qualquer zona de conflito, para apoiar os ucranianos e selar uma solidariedade", mas exclui o envio de forças "terrestres, beligerantes".

Para Lavrov, o envio de tropas de países membros da Otan, mesmo sob bandeiras nacionais ou da UE, é "inaceitável" para a Rússia.

Diante desse cenário, a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, alertou os Estados Unidos que "a Rússia tentará nos dividir. Não caiamos em suas armadilhas" porque trabalhando juntos "podemos chegar a uma paz justa e duradoura segundo os termos da Ucrânia".

De qualquer forma, Zelensky alertou que seu país "não reconhecerá" nenhum acordo que seja fechado sem sua participação e lamentou não ter sido informado oficialmente sobre a reunião em Riade.

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O enviado especial de Donald Trump para a Ucrânia, Keith Kellogg, que viajará para Kiev na quinta-feira, assegurou, no entanto, na segunda-feira, em Bruxelas, que os Estados Unidos não vão impor um acordo a Kiev para encerrar a guerra.

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© Agence France-Presse

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