Governo e Justiça da Espanha investigarão as causas do apagão massivo

O Governo e o Judiciário da Espanha, que citaram uma possível "sabotagem informática", anunciaram nesta terça-feira (29) que vão investigar as causas do apagão massivo que deixou a Península Ibérica sem energia durante horas na segunda-feira. 

"Serão tomadas as medidas necessárias para que isso nunca mais aconteça", garantiu o primeiro-ministro Pedro Sánchez em entrevista coletiva, ao anunciar a criação de uma comissão investigativa liderada pelo Ministério da Transição Ecológica. 

"Os técnicos da rede elétrica continuam analisando o sistema. Esperamos receber os resultados preliminares nas próximas horas, se não dias", explicou.

"Nenhuma hipótese será descartada até que tenhamos os resultados", observou. 

Paralelamente, a Audiência Nacional, jurisdição de Madri que trata de casos complexos, abriu uma investigação para apurar se houve "sabotagem informática", o que poderia constituir um "crime de terrorismo".

- "Desconexão do sistema" -

Horas antes, a operadora da rede elétrica na Espanha havia descartado a possibilidade de um ataque cibernético como causa do apagão que começou pouco depois das 12h30 de segunda-feira (07h30 no horário de Brasília). 

"Com base na análise que conseguimos realizar até o momento, podemos descartar um incidente de segurança cibernética nas instalações da rede", disse Eduardo Prieto, diretor da Rede Elétrica Espanhola, em entrevista coletiva.

Uma declaração ecoada pelo governo português: "Ninguém pode dizer qual foi a origem, mas já há elementos suficientes para dizer que não há evidências de manipulação no ciberespaço", declarou o primeiro-ministro, Luis Montenegro. 

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A União Europeia garantiu que "aprenderá as lições" deste colapso: "Em estreita colaboração" com os operadores da rede elétrica, Bruxelas analisará atentamente "as razões, o grau de preparação e as lições a serem aprendidas", declarou a porta-voz da Comissão, Paula Pinho.

Além disso, a operadora portuguesa REN negou ter emitido um comunicado compartilhado com as redes a ela atribuídas que apontasse um "fenômeno atmosférico raro" como causa da interrupção. 

Na segunda-feira, "nenhum fenômeno meteorológico ou atmosférico incomum foi detectado na Espanha", concordou a agência meteorológica espanhola. 

Sánchez desvinculou a falha à falta de energia nuclear na Espanha, rejeitando as críticas do partido de extrema direita Vox, que foram amplamente compartilhadas nas redes sociais. 

"Aqueles que estão vinculando esse incidente à falta de energia nuclear estão mentindo ou demonstrando sua ignorância", disse o líder socialista. 

O tema da energia nuclear tem sido objeto de debate há meses na Espanha, onde o governo anunciou o fechamento iminente de dois dos seus sete reatores restantes, que atualmente produzem 20% da energia do país, em comparação com 40% da energia solar e eólica.

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- Cinco segundos -

Na manhã desta terça-feira, as redes elétricas de Espanha e Portugal estavam totalmente operacionais. 

Como primeira explicação para o ocorrido, Prieto mencionou "uma forte oscilação nos fluxos de potência", acompanhada de "uma perda muito significativa de geração".

"Esta perda de geração ultrapassou a perturbação de referência" usada para projetar e operar os sistemas elétricos na União Europeia, o que causou "a desconexão do sistema elétrico" da Península Ibérica "do resto do sistema europeu" e seu colapso.

O apagão foi precedido por uma perda repentina de 60% da energia da rede "em apenas cinco segundos", disse o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez. 

Nas cidades espanholas, o retorno da energia foi acompanhado por gritos de alegria após um longo dia sem luz e, em muitos casos, sem internet ou celulares. 

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O retorno da eletricidade permitiu a retomada do tráfego ferroviário em várias rotas principais, incluindo as movimentadas rotas Madri-Barcelona e Madri-Sevilha, de acordo com a empresa ferroviária nacional Renfe. 

Na estação de Atocha, em Madri, a situação continuava complicada nesta terça-feira. A cada anúncio de partida, os viajantes aplaudiam, segundo um jornalista da AFP. 

- Jornada caótica -

O metrô de Madri operava normalmente na tarde desta terça-feira, e bares e lojas foram reabertos.

A maioria das escolas também recebia alunos, embora em alguns casos sem aulas, apenas para cuidar das crianças.

Ter um rádio portátil, pilhas e velas foi muito útil para muitos, como Valentín Santiago, de 48 anos, que disse que nunca vai abrir mão do botijão de gás. 

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Marcos García, um advogado de 32 anos que esperava o ônibus nesta terça-feira, destaca o quão evidente se tornou a "dependência absoluta dos sistemas tecnológicos". 

Um retorno total à normalidade era aguardado ansiosamente na Espanha e em Portugal após um dia caótico sem metrô, com ônibus lotados, trens parados e comunicações impossíveis. 

Tanto em Madri quanto em Barcelona, milhares de pessoas tiveram que atravessar a cidade a pé para chegar em casa. 

bur-rs-du/zm/aa/fp

© Agence France-Presse

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