Após vitória eleitoral, Carney promete unir Canadá para enfrentar Trump

O primeiro-ministro do Canadá, o liberal Mark Carney, prometeu nesta terça-feira (29) unir o país para enfrentar a guerra comercial e as ameaças de anexação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após uma vitória eleitoral que o deixou muito próximo da maioria absoluta no Parlamento.

O Partido Liberal obteve 169 assentos nas eleições parlamentares, mas não alcançou a maioria absoluta de 172, o que o obrigará a fazer acordos com outra força minoritária para que Carney se mantenha como primeiro-ministro.

Após uma campanha dominada pelas ameaças de Trump, Carney afirmou que há "um novo caminho a seguir" em um mundo "fundamentalmente mudado" pelos Estados Unidos, que se mostram hostis ao livre comércio.

"É hora de sermos ousados, de enfrentar esta crise com a avassaladora força positiva de um Canadá unido", declarou o premiê, que também enfatizou a necessidade de trabalhar sem distinção de partidos.

Após irromper no dia da eleição com suas ameaças de anexar o Canadá, Trump ligou nesta terça para Carney para parabenizá-lo e eles concordaram em se reunir em breve, segundo um comunicado do gabinete do primeiro-ministro.

Os líderes concordaram "na importância de que Canadá e Estados Unidos trabalhem juntos como nações independentes e soberanas", indicou a nota.

- Efeito Trump -

Há apenas alguns meses, o caminho parecia livre para os conservadores canadenses, liderados por Pierre Poilievre, voltarem ao poder após dez anos do governo liberal de Justin Trudeau.

Mas a volta de Trump à Casa Branca mudou o panorama. A guerra comercial promovida pelo republicano e suas ameaças de anexar o Canadá provocaram indignação entre os canadenses e transformaram em prioridade como lidar com os Estados Unidos.

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Carney, que substituiu Trudeau há apenas um mês, convenceu os canadenses de que sua experiência no setor financeiro, como presidente dos bancos centrais do Canadá e do Reino Unido, o ajudará a enfrentar a volátil ofensiva tarifária americana.

Diante de seus apoiadores na noite de segunda-feira, o premiê chamou o país à unidade para os "meses difíceis que se aproximam e que exigirão sacrifícios".

"Se Donald Trump não estivesse lá, os conservadores provavelmente teriam vencido", disse a cientista política Genevieve Tellier, da Universidade de Ottawa.

- "Trégua partidária" -

Poilievre, que focou sua campanha nas insatisfações da política interna que atingiram o governo de Trudeau, reconheceu a derrota e prometeu trabalhar com os liberais para contrabalançar a guerra comercial de Trump.

"Sempre colocaremos o Canadá em primeiro lugar", declarou a eleitores em Ottawa o conservador, que perdeu, inclusive, seu assento em Carleton, circunscrição rural próxima à capital federal.

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"Os conservadores trabalharão com o primeiro-ministro e todos os partidos pelo objetivo comum de defender os interesses do Canadá e alcançar um novo acordo comercial que deixe estas tarifas para trás", expressou.

Apesar da derrota, Poilievre conseguiu que os conservadores obtivessem seu melhor desempenho em várias eleições. Representam a segunda força política no Parlamento.

O líder do partido independentista Bloc Quebecois, Yves-Francois Blanchet, também pediu unidade e uma "trégua partidária" em um Parlamento que "terá que enfrentar Donald Trump".

"Sinceramente acredito que os quebequenses e canadenses esperam que o novo Parlamento seja estável e responsável durante as negociações" com Washington, disse Blanchet, cujo partido será a terceira força.

Os liberais obtiveram a maioria absoluta em 2015, mas governaram em minoria desde 2019.

- Apoio internacional -

Vários líderes internacionais também demonstraram predisposição em unir forças com Carney.

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A presidente do México, Claudia Sheibaum, o parabenizou no X, e afirmou: "Seguiremos trabalhando com nosso parceiro comercial".

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que está ansioso para "fortalecer" as relações entre os dois países, "aliados, parceiros e amigos mais próximos".

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou seu desejo de trabalhar com Ottawa para "promover o multilateralismo e defender o comércio livre e justo".

Até mesmo Pequim, que manteve relações tensas com o Canadá nos últimos anos, expressou a vontade de "desenvolver as relações China-Canadá com base no respeito mútuo, na igualdade e no benefício mútuo".

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, desejou que "novas oportunidades" se abram entre os dois países, que enfrentaram uma grave crise diplomática em novembro, depois que o Canadá acusou o ministro indiano do Interior de perseguir opositores sikhs em território canadense.

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© Agence France-Presse

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