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Segundo dia de júri de policial em São Paul tem depoimentos de testemunhas

Elaine Patricia Cruz - Repórter da Agência Brasil

28/02/2018 18h40

Doze testemunhas, sendo três delas da acusação, foram ouvidas hoje (28), entre as 10h30 e 17h10, no segundo dia do júri popular do policial militar Victor Cristilder Silva dos Santos, acusado de participação nas chacinas de Osasco e de Barueri, ocorridas no dia 13 de agosto de 2015, que provocaram 17 mortes. Com as quatro testemunhas de acusação ouvidas ontem (27), já são 16 o total de pessoas ouvidas. Amanhã (29), o júri prossegue com os depoimentos de três testemunhas de defesa e o interrogatório do réu. As testemunhas de acusação ouvidas hoje eram uma vítima e dois familiares de vítimas. Uma delas, o pai de uma adolescente que foi morta na chacina. Elas falaram sobre o dia dos crimes, mas nenhuma delas apontou quem foi o autor da morte. Durante o depoimento dessas testemunhas, o policial foi retirado da sala. Depois dessas testemunhas, a juíza Élia Kinosita Bulman determinou o intervalo para o almoço, e então começou a ouvir as testemunhas de defesa. Quatro delas eram policiais que trabalharam com Cristilder. Eles disseram que seria impossível Cristilder ter participado das chacinas porque ele estava no quartel neste dia, estudando para uma prova que faria para o posto de sargento. Segundo essas testemunhas, no dia dos crimes, Cristilder fez escala das 7h as 19h. Encerrado o horário de trabalho, ele permaneceu na base militar, como faz comumente, para evitar o trânsito na região na volta para casa. Segundo as testemunhas, Cristilder só deixou o local por volta das 22h30, horário em que as chacinas já teriam terminado. As testemunhas também afirmaram que não há controle de entrada e de saída no local, argumento que é utilizado pela acusação para afirmar que Cristilder pode ter deixado o quartel logo após seu horário de trabalho para cometer os crimes. Troca de mensagens Estes policiais também disseram que, naquela noite, Cristilder informou a eles que estava esperando a visita de um guarda municipal, que o procuraria para entregar um livro técnico, útil para a prova que iria prestar para o curso de sargento. Segundo a defesa, esse livro explicaria os dois sinais de joinha (emojis com sinal positivo) que foram trocados entre Cristilder e o guarda municipal naquela noite, entendido pela acusação como um acordo para combinar os horários de início e de término da chacina. Naquela noite, disseram os policiais, o guarda não apareceu para entregar o livro a Cristilder. Todos os policiais disseram ainda que ele era um bom policial. Também foi ouvido o capitão do Exército onde Cristilder trabalhou antes de entrar para a PM, que disse que ele era um ótimo militar. Ele também confirmou que nenhuma munição ou armamento foi roubado do Exército enquanto Cristilder lá trabalhava. Segundo a investigação, alguma das armas utilizadas nas chacinas eram do Exército. Outra testemunha ouvida foi o ex-advogado do réu, Charles dos Santos Cabral Rocha [que já trabalhou no mesmo escritório do atual defensor de Cristilder e que, atualmente, trabalha no escritório da advogada de um outro policial que foi condenado pela chacina de Osasco] e que reclamou de que os investigadores dificultaram o trabalho da defesa durante a apuração dos crimes. Um ex-vizinho do policial, para quem Cristilder trabalhou ajudando a vender galinhas nas ruas de Carapicuíba, também prestou depoimento, e disse que nunca soube que o apelido de Cristilder fosse Boy. "Conheço ele como Dedé", disse o vizinho. A defesa também chamou como testemunha um gerente de segurança do Supermercado Chama. Em seu depoimento, ele negou conhecer Cristilder. A acusação diz que o policial fazia bicos de segurança e que, inclusive, era o chefe de segurança desse supermercado, o que foi negado pela testemunha. Segundo essa testemunha, o único policial que faz bico de segurança para o supermercado é um policial reformado. Mãe de vítima Também foi ouvida a mãe de Michael, rapaz que foi assassinado no dia 8 de agosto de 2015, no episódio que ficou conhecido como pré-chacina. A mãe, de início, pediu para que Cristilder fosse retirado da sala enquanto estivesse depondo. Depois, indagada pela juíza sobre porque pediu que Cristilder fosse retirada da sala, ela negou que tivesse feito o pedido e a juíza então solicitou que o policial voltasse para o júri. A mãe olhou para Cristilder em dois momentos e, em ambos, disse não o reconhecer e que nunca soube que ele pudesse ter sido amigo do filho. Cristilder é apontado por uma testemunha como o policial responsável pela morte de Michael. Em todo o seu depoimento, indagada pela defesa e pela acusação, a mãe disse que não conhecia ou sabia o nome de nenhum amigo do filho e também disse não saber como ele foi morto. Ela disse ainda que não tinha conhecimento de que o filho tinha algum amigo policial conforme disse a testemunha protegida Beta, que estava ao lado de Michael quando ele foi assassinado naquela noite. Segundo Beta informou aos investigadores, Michael foi morto por um policial de apelido Boy [apelido de Cristilder e que mais tarde se descobriu também ser o apelido de um outro policial parecido com Cristilder] e que o assassino era amigo da vítima. O júri ocorre no Fórum de Osasco. Quatro homens e três mulheres vão decidir se condenam ou absolvem o policial por participação nas mortes. O policial é acusado de ter trocado mensagens no celular com um guarda municipal para avisar sobre o início da chacina. Além disso, ele teria dirigido um dos carros utilizados na chacina e efetuado disparos com armas de fogo contra as vítimas. Ele foi acusado por oito mortes e também por tentativa de homicídio. A expectativa é que o julgamento termine na sexta-feira com a fase de debates da defesa e da acusação, que terão uma hora e meia cada para sua argumentação. Só então o júri popular se reunirá para decidir se condena ou não o policial militar.