Camponeses do Pará relatam a deputados tortura durante regime militar
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados ouviu esta semana depoimentos de camponeses da região de Piçarra, no sudeste do Pará, que afirmam ter sofrido perseguição e tortura por parte de agentes da ditadura militar, após a chamada Revolução dos Perdidos. Eles reivindicam a condição de anistiados e a indenização do Estado brasileiro. Após o fim da Guerrilha do Araguaia, em 1974, os colonos paraenses teriam sido mantidos sob vigilância para que não houvesse uma possível retomada das ações de grupos de esquerda na região. Além da vigilância e violência militar, os camponeses contam que passaram a ter as terras desapropriadas e ocupadas por agricultores aliados ao regime militar. Diante disso, em 1976, eles organizaram a chamada Revolta dos Perdidos. Entraram em confronto com grileiros de terra e agentes de segurança. Cerca de 40 homens foram presos. Entre eles, o agricultor Crispim Manuel Santana, hoje com 64 anos. "A gente se revoltou porque tudo que a gente tinha estava ali. Eu fiquei preso em São Geraldo, uns quatro dias, mas para mim foi um mês porque a gente não se alimentava, dormia no chão, umas 40 pessoas em uma sala pequena. Uns deitavam, outros se levantavam, então, para mim, quatro dias passou um ano." O agricultor Sidnei Ferreira de Oliveira, na época com 17 anos, conta que chegou a ser treinado pelos militares para combater a guerrilha, mas logo depois foi acusado de comunismo e terrorismo. "Houve muitas prisão de senhoras, inclusive minha irmã, que estava nos dias de ganhar neném. Foi torturada, ganhou neném antes do tempo. Eu presenciei pessoas sendo torturadas, criança, senhor", relatou.
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