Procuradora explica esquema de fraude em fundo de pensão da Petrobras
A procuradora da República Isabel Cristina Groba Vieira disse hoje (23) que a construção do prédio que abriga a sede da Petrobras em Salvador (BA) foi a obra pela qual a construtora OAS mais pagou propinas a agentes públicos e privados em toda a região Nordeste. "Foi um esquema gigantesco", declarou a procuradora ao conceder entrevista sobre a 56ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na manhã de hoje pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) e apelidada de Operação Sem Fundos. Segundo o MPF, a construção do prédio, inicialmente orçado em R$ 320 milhões, acabou custando quase R$ 1.2 bilhões. Os recursos vieram do fundo de pensão dos trabalhadores da Petrobras, o Petros, cuja diretoria justificou o investimento na construção obtendo da Petrobras o compromisso de alugá-lo por 30 anos. Segundo a procuradora, o acordo com a estatal petrolífera foi costurado pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, que ocupou o cargo entre 2003 e 2012 - um ano após o prédio conhecido como Torre Pituba começar a ser erguido. De acordo com a procuradora, Duque recebeu propina em dinheiro vivo e mediante depósitos financeiros feitos por empresas de offshore, no exterior. Segundo a procuradora e investigadores da PF que explicaram detalhes da investigação à imprensa, outro problema do empreendimento baiano diz respeito ao processo de escolha das empresas contratadas para construir o prédio. De acordo com a procuradora, o processo foi fraudado para beneficiar as construtoras OAS e Odebrecht. Juntas, as duas empresas criaram uma terceira, a Edificações Itaigara, que subcontratou outras empresas para gerenciar o empreendimento (Mendes Pinto Engenharia) e para elaborar o projeto executivo da obra (Chibasa Projetos de Engenharia). "Só que, durante a fase de planejamento do empreendimento, representantes da Mendes Pinto e do Petros se reuniram e combinaram fraudar o procedimento que culminou com a contratação da OAS e da Odebrecht", disse a procuradora, acrescentando que o depoimento de delatores que colaboram com as investigações e a análise de documentos apreendidos, bem como a quebra de sigilo fiscal e telefônico de alguns dos suspeitos indicam que ao menos R$ 140 milhões foram desviados da obra para as contas de ex-dirigentes do Petros, da Petrobras e do Partido dos Trabalhadores (PT), como o ex-tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, cuja cunhada, Marice Correa, foi presa esta manhã, em caráter temporário. "A empresa Mendes Pinto recebeu, contratualmente, R$ 69 milhões para praticamente não realizar as atividades para as quais foi contratada. Além disso, [o esquema] movimentou R$ 68 milhões em propinas. Estamos, portanto, falando de quase R$ 140 milhões desviados do fundo e embutidos no valor do projeto de construção da Torre Pituba", comentou a procuradora, lembrando que a estatal petrolífera continua pagando aluguel a Petros e que o valor da locação do imóvel está baseado no alegado valor investido na construção. "Corrigido, o valor, hoje, ultrapassa os R$ 6,5 milhões mensais. Valor que, certamente, está sobrevalorizado porque o total pago em propinas foi embutido no custo da obra. Então, obviamente, a Petrobras está tendo prejuízos com esta operação", ponderou a procuradora. "A ousadia do esquema é chocante porque diz respeito a fatos que se estenderam de 2008 a 2016 - período durante o qual o fundo de pensões esteve sob a presidência de três diferentes pessoas. E a propina continuou sendo paga mesmo após a Operação Lava Jato ter avançado bastante, em 2015, 2016."
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