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Tragédia em Brumadinho

"Será que é minha irmã?", desabafa morador de Brumadinho ao ver helicóptero

30/01/2019 06h42

Dezenas de familiares se aglomeram todos os dias em busca de informações por desaparecidos após o rompimento de uma barragem da Vale, que deixou ao menos 84 mortos e 276 desaparecidos, em Brumadinho (MG). A cena se repete desde a última sexta-feira (25), quando ocorreu o acidente na Barragem 1 de rejeitos da Vale.

Um dos moradores é o mecânico Nelson José da Silva Junior. A busca é pela irmã mais nova Fernanda, de 32 anos. Ela comemorava a conclusão recente da tão sonhada faculdade de psicologia. Mas, infelizmente, não poderá participar da colação de grau.

"Ela estava tão feliz. Chegou a tirar todas as fotos. O pessoal da faculdade ligou pra nossa família, nós ficamos sem saber o que dizer. É muita tristeza", desabafa Nelson. A cada helicóptero que sobe e desce ali, fazendo resgates e buscas, Nelson fala, com lágrimas nos olhos: "Será que é a minha irmã?"

De olhar perdido, observando o mar de lama, ele relembra que nasceu e foi criado ali. São 36 anos aqui, ao lado da barragem. "Não imaginava [isso], né, porque é tudo fiscalizado. Não sabia que a situação era dessa forma. Muita gente que trabalhava lá próximo dizia que tinha perigo [de rompimento], que estava vazando, mas eu mesmo não sabia disso", diz.

Todos os moradores da região onde vivia Nelson precisaram sair do local assim que a barragem de rejeitos se rompeu. Ele estava trabalhando longe dali. A mulher e o filho, que estavam em casa, conseguiram fugir. Mas, a irmã que trabalhava na Vale continua desaparecida. "Ela trabalhava na medicina do trabalho. E até hoje não temos notícia, nada, nada. Já fomos a hospital, IML, já andei essas matas todas e não encontrei nada.''

Mapa Brumadinho - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL
Na porta de um dos centros de atendimento montados no município, dois irmãos buscavam, com fotos nas mãos, qualquer notícia da irmã Gislene, de 53 anos. Edir Lazaro do Amaral é comerciante e conta que ela estava dentro do refeitório da Vale na hora do rompimento da barragem. "Ela passou mensagens às 12h21 para algumas amigas. [Poucos minutos depois], uma vizinha viu a notícia e me avisou lá no restaurante. Até pediu para não avisar a minha mãe. Aí entrei em desespero", relembra.

Gislene é uma das 276 pessoas consideradas desaparecidas até o momento. Ela trabalhava há 17 anos na Vale e, segundo o irmão, comemorava a compra de um carro novo e ainda cuidava da mãe idosa. "A gente está muito chateado, chorando muito. Está uma tristeza danada. Nem estou abrindo o meu restaurante. Estamos neste sofrimento. Minha mãe é acamada, nós não tivemos condições de avisá-la de imediato, ela ficou sabendo pela televisão", conta.

Apesar da saudade e da tristeza, para Edir, o mais importante agora é conseguir enterrar a irmã. "A esperança nossa é encontrar pelo menos o corpo dela para a gente ter um enterro digno, porque ela não merecia essa morte", acrescenta emocionado.

Veja o caminho percorrido pela lama da barragem de Brumadinho

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