Coluna: Uma questão de mercado
A discussão continua. Semana passada falamos sobre o interesse do Flamengo em receber cota diferenciada para que os jogos dele sejam transmitidos pela TV. A resposta da emissora detentora dos direitos foi de que pagar a mais causaria um desequilíbrio na competição - no caso, o Campeonato Carioca. É um bom argumento, mas um estudo da Pluri Consultoria, divulgado recentemente, mostra que nem sempre existe essa preocupação. E que, na verdade, o interesse do mercado pesa na distribuição de valores.
O estudo abrangeu os oito principais estaduais do país - Paulista, Carioca, Mineiro, Gaúcho, Paranaense, Pernambucano, Baiano e Cearense. Ele mostra que estas competições custam, às emissoras detentoras de direitos de transmissão, R$ 379,6 milhões, distribuídos a todas as equipes participantes. E aqui começa o tal desequilíbrio, que se não repercute diretamente nos estaduais, certamente afeta o desempenho das equipes que disputam as principais competições nacionais.
Por exemplo: o Campeonato Paulista custa R$ 176 milhões, contra R$ 2,8 milhões pagos ao Baiano e R$ 1,7 milhão ao Cearense. O que isso significa? Os quatro grandes paulistas recebem, cada um, R$ 26 milhões só pelo Estadual. O Bahia, que está na Série A, R$ 900 mil; Ceará e Fortaleza, R$ 600 mil. Os paulistas ganham 46 vezes mais que os cearenses.
É evidente que cada Estadual tem um alcance diferente, incluindo aí o mercado publicitário. Mas se pensarmos no tal equilíbrio, as cotas pagas em apenas três meses já criam uma diferença enorme entre equipes que disputam a mesma competição, aliás, a mais importante do calendário - o Brasileirão.
Voltando a falar do Flamengo, a cota proposta ao rubro-negro do Rio era de R$ 18 milhões, a mesma destinada a Fluminense, Vasco e Botafogo. Se pensarmos que o time foi campeão brasileiro e da Copa Libertadores, será que a audiência dos jogos dele não será compatível com a estimada para os clubes paulistas, que vão receber R$ 8 milhões a mais?
Como se vê, é um tema que merece muitas discussões e que não é tão simples de ser explicado. Num país de dimensões continentais, em que torcedores de outras regiões do país torcem, também, por clubes do Sul e do Sudeste, falar em equilíbrio para pagar, quando não há equilíbrio na hora de receber, soa um pouco estranho.
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