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Em mês de romaria, público menor e comércio fechado em Juazeiro do Norte

21/09/2015 10h28

Juazeiro do Norte (CE) - Os organizadores da Romaria de Nossa Senhora das Dores, que reúne devotos de Padre Cícero, estimavam um público de cerca de 600 mil pessoas entre os dias 1o e 15 deste mês. A prefeitura calculou que metade esteve na cidade. O comércio contabilizou, nas últimas três semanas, 55 lojas fechadas. A redução do número de estabelecimentos e de devotos ocorreu, na avaliação de comerciantes, por três fatores: a crise financeira, a seca prolongada e o controle cada vez mais rigoroso em relação ao transporte de romeiros em paus de arara, nas rodovias federais de acesso a Juazeiro.

O sertão que enfrenta a atual crise econômica não é o mesmo de décadas passadas. Os devotos são agricultores de sítios com antenas parabólicas e energia ou de bairros de periferias de médias e grandes cidades do Ceará, Pernambuco, Piauí, Bahia e Alagoas, principalmente, inseridos na economia. As hospedarias provisórias montadas no passado por beatos deram lugar a pequenas pousadas de preços baixos. Os mutirões de farinha e carne seca que alimentavam a multidão de fiéis foram trocados por restaurantes.

As mudanças também ocorreram no transporte dos romeiros. Vans, micro-ônibus e ônibus vão, aos poucos, dominando o mercado. Em tempo de crise, porém, muitos devotos só conseguem chegar a Juazeiro em pau de arara, uma viagem geralmente gratuita - caminhoneiros transportam romeiros sem cobrar, em homenagem a Padre Cícero.

Esse transporte continua apenas nas estradas estaduais ou de terra, sem o controle da Polícia Rodoviária Federal. "Foi difícil juntar dinheiro para pagar a minha passagem e dos meus três netos", disse a diarista Maria Lúcia dos Santos, 42 anos, de Maceió. "Neste mês, perdi uma das três clientes que eu tinha. Meu orçamento caiu R$ 200."

Raimundo Donato da Silva, 68 anos, foi um dos migrantes do êxodo dos anos 1970. Trabalhou anos em montadoras no ABC, em São Paulo, até voltar a Juazeiro em 1986 par abrir um bar. "No outro tempo, a seca obrigava todo mundo ir embora. Hoje não, com esses benefícios do governo, o pessoal fica pelo sertão."

Cordel

A impaciência com as crises política e econômica transparece na literatura de cordel. A tradição dos romances de versos não poupa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff - e acusa o partido até pela estiagem. "Quando o PT assumiu/o Brasil ficou mudado/não tinha seca no sul/os terrenos eram encharcados/hoje está faltando água/é seca pra todo lado", diz o trecho de A fama do PT, de José Mathias Pinheiro, de Serrita (PE). Em outro verso, Dilma é parceira do diabo. "Dilma mentiu à vontade/que um presidente não faz/com propaganda enganosa/se pegou com Satanás/feriu a Constituição." Também há inspiração na Lava Jato: "O PT chegou ao fim/o povo não aguenta mais/acabou com o País/os bancos e Petrobrás/pegou fama de ladrão/que diabo você quer mais?"

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.