Topo

Ações para evitar arrastão nas praias do Rio dividem Beltrame e Paes

No Rio

23/09/2015 10h02

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB) e o secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, divergiram, na terça-feira (22), quanto à conduta diante dos arrastões na zona sul. Enquanto Paes rechaçou qualquer associação entre a condição social dos adolescentes e a prática de crimes, e disse que não iria "colocar as doces senhoras da assistência social para conversar com um sujeito com pau na mão", Beltrame declarou que assistentes sociais vão, sim, auxiliar a polícia no controle da ida dos jovens às praias.

Por causa dos roubos, foi antecipada em uma semana a Operação Verão, que começará neste sábado (26). "Nós não vamos tratar delinquentes e marginais, que vão para as ruas fazer baderna, como problema social. É um problema de segurança pública", defendeu Paes, em entrevista convocada para tratar exclusivamente do assunto. Ele disse que "não há jogo de troca de culpa" com Beltrame.

"Não nos cabe fazer antropologia e sociologia. Não vamos justificar (os assaltos) com os problemas sociais do Brasil. Você não vê isso acontecer na avenida Paulista nem nas praias de Pernambuco ou de Alagoas", afirmou. "Isso é falta de autoridade. A autoridade não está se fazendo presente. O Rio não pode perder-se em um debate esquizofrênico."

Na segunda-feira (21), depois de roubos em série na zona sul, Beltrame disse ser fundamental "trazer os órgãos de fiscalização municipal para que façam a sua função, a qual a polícia foi tolhida de fazer, que é a percepção de jovens em situação de vulnerabilidade", referindo-se à decisão judicial que impede a PM de deter pessoas sem flagrante. O prefeito evitou criticar Beltrame e pôs a Guarda Municipal à disposição da Polícia Militar para ajudar no controle das praias. "Não coloquei um capitão da PM no comando da Guarda à toa: é para ele obedecer a um coronel. O clima de terror que se espalha não é privilégio dos moradores da zona sul. Atrapalha todos os cariocas que frequentam as praias da cidade", disse Paes.

Ele acrescentou não temer prejuízo para os Jogos Olímpicos, daqui a 11 meses, por causa da repercussão internacional dos arrastões. "O que prejudica Olimpíada é estádio de natação não estar pronto."

Para Paes, a prática de crimes não tem relação com pobreza. "Isso é uma postura desrespeitosa com as pessoas mais pobres. Não é possível ter um jovem trepado no teto do ônibus e dizer que isso é vulnerabilidade social. Lá em casa, não é", ressaltou o prefeito.

No fim da tarde, depois de se reunir com os secretários municipais de Desenvolvimento Social, Adilson Pires (vice-prefeito do Rio, pelo PT), e de Ordem Pública, Leandro Matieli Gonçalves, Beltrame voltou a dizer que as ações da PM nas praias contarão com agentes sociais, para que sejam detectados adolescentes sem dinheiro, sem responsáveis e sob aparente efeito de drogas. "A prefeitura e nós vamos antecipar a operação e vamos fazer o trabalho parando carros, parando ônibus, dessa vez com outros órgãos que se façam necessários." Os secretários municipais haviam acabado de sair da entrevista em que Paes repetiu diversas vezes que não designaria assistentes sociais para auxiliar a polícia

Justiceiros

Beltrame reiterou também que a polícia agirá contra a ação de justiceiros, jovens da zona sul que estão se organizando no Facebook e pelo WhatsApp para agredir suspeitos. Ele negou que a polícia tenha feito vista grossa para a ação desses grupos no domingo, em Copacabana. A Secretaria de Segurança já teria elaborado, por meio de serviços de inteligência da PM e da Polícia Civil, um documento de 90 páginas que detalha a ação tanto de justiceiros quanto dos envolvidos nos arrastões. A Delegacia de Repressão a Crimes de Internet e a 12ª Delegacia, em Copacabana, investigam a ação desses grupos. Mas ninguém foi ouvido até agora.

Governador

No começo da tarde, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) deu declarações convergentes com as do prefeito e opostas às de Beltrame. "Vínhamos fazendo o policiamento com sucesso. Vamos continuar da mesma maneira. Se tiver ônibus com adolescentes que não pagaram passagem, estão descalços, de bermuda, sem documento, (a polícia) leva para a delegacia e os pais vêm buscar. Da última vez, prendemos 112 e vieram 5 pais buscar."

Pezão disse que conversou com o presidente do Tribunal de Justiça, Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, e anunciou que a política de apreensão de adolescentes será mantida. "Se o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e a Secretaria de Assistência Social forem para a delegacia ver se os menores são de risco, eles determinam. Mas a polícia não vai parar de fazer seu trabalho. Passamos nove fins de semana com sol a pino sem ter um problema de arrastão nas praias, enquanto a PM agiu como foi combinado." As informações são do jornal O "Estado de S. Paulo".