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No Rio, combate ao mosquito Aedes precisa ir além das zonas olímpicas

Nelson Almeida/AFP
Imagem: Nelson Almeida/AFP

Em São Paulo

25/01/2016 08h32

A intensificação das medidas de combate ao Aedes aegypti anunciada pela prefeitura do Rio poderá até diminuir o número de pessoas infectadas pelos vírus da dengue, chikungunya e zika durante os Jogos Olímpicos, mas será insuficiente para impedir que visitantes sejam infectados e levem esses vírus para seus países de origem.

Essa é a opinião de especialistas em infectologia ouvidos pela reportagem. De acordo com os médicos, uma ação bem-sucedida contra o mosquito requer recursos, empenho, amplitude e continuidade, fatores difíceis de convergir em pouco tempo.

"Quando conseguimos eliminar o mosquito, nos anos 60, foi por causa de um trabalho que já vinha sendo feito havia décadas. Não é em sete meses, pensando apenas em um evento, que vamos resolver o problema. Mas é claro que essas medidas são melhores do que não fazer nada", opina Celso Granato, professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

"Essas ações só terão algum efeito se forem feitas em uma área maior, e não só nos locais dos Jogos. O ideal seria que se cobrisse a maior área possível, mas acho difícil ter recursos humanos e financeiros para isso", diz ele.

Para Edimilson Migowski, professor de infectologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para ter eficiência a ação precisa ser feita "com competência" e ir além dos locais de competição.

"O Aedes costuma viver em ambientes urbanos e prefere espaços fechados, onde há pessoas, como residências. É importante vistoriar instalações olímpicas e pontos turísticos, mas o mais importante seria combater criadouros nos locais de hospedagem dos turistas, como hotéis e albergues", diz.

Inverno

Segundo os infectologistas, o fato de os Jogos Olímpicos ocorrerem durante o inverno não garante que o Rio estará livre da circulação dos vírus transmitidos pelo Aedes.

"Em um país tropical como o Brasil a circulação dessas doenças pode até diminuir nos meses mais frios, mas não para, porque não temos temperaturas muito baixas como no Hemisfério Norte. A transmissão continua no inverno, principalmente em Estados mais quentes, como o Rio e os do Nordeste", diz Granato.

O especialista afirma que são altas as chances de a Olimpíada aumentar a disseminação do zika vírus pelo mundo.

"Muitos turistas 'virgens ao vírus' virão para cá, serão contaminados e, quando voltarem aos seus países, poderão introduzir o vírus no local. No caso do Hemisfério Norte, há ainda o fato de agosto ser período quente. Seria um ciclo fechado. No sul da Europa e dos Estados Unidos já temos a presença do Aedes. Não acho difícil que haja surtos de zika nesses locais", afirma ele.

Migowski ressalta que o que dificulta ainda mais o controle da circulação do zika vírus no mundo é o fato de a maioria das pessoas contaminadas não apresentar sintomas. "Cerca de 80% dos infectados não vão nem saber que tiveram a doença, o que impossibilitaria uma vigilância maior das autoridades sanitárias de cada país."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.