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Futuro de Lula dependerá de Dilma, avalia petista

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em evento "em defesa da democracia", promovido pela CUT, em dezembro de 2015 - Danilo Verpa/Folhapress
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em evento "em defesa da democracia", promovido pela CUT, em dezembro de 2015 Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

31/01/2016 10h15

Um aspecto curioso chamou a atenção de pessoas que conversaram com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última semana. Embora tenha entrado na mira da Operação Lava Jato e do Ministério Público Estadual por causa de um apartamento tríplex no Guarujá, Lula só falava de economia, principalmente das expectativas quanto à reunião da presidente Dilma Rousseff com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, realizada na sexta-feira.

A alguns destes interlocutores Lula explicou o motivo da fixação com a economia. Ciente dos danos que as suspeitas de envolvimento com empresas investigadas na Lava Jato têm causado à sua imagem, o petista só vê chance de recuperar a reputação em curto ou médio prazo se Dilma corrigir o rumo da economia e chegar ao fim de seu mandato com índices razoáveis de aprovação. Nas palavras de um aliado, "Lula agora está nas mãos da Dilma".

O entorno de Lula avalia que tanto o ex-presidente quanto o PT estão de mãos atadas diante da ofensiva da Lava Jato e do MP paulista contra o petista. A decisão de abrir mão do tríplex no Guarujá seguiu orientações jurídicas e, no entender de assessores do ex-presidente, é absolutamente legal.

O PT, por sua vez, não pode fazer mais do que manifestar publicamente solidariedade ao ex-presidente diante do que considera como "agressões", mas não tem poder real para interferir no processo. Na reunião da Executiva do partido na última terça-feira, em Brasília, um grupo de dirigentes defendeu uma resolução política que trouxesse uma defesa explícita de Lula, mas o próprio ex-presidente abriu mão. O desagravo deve ficar para o aniversário do PT, nos dias 26 e 27 de fevereiro, no Rio de Janeiro.

Aliados ofereceram a Lula uma série de alternativas de defesa que passavam de alguma forma pelo Palácio do Planalto. Lula recusou. Segundo pessoas próximas, ele sabe que Dilma vê na Lava Jato a possibilidade de deixar uma marca positiva de seu governo e não está disposto a cruzar esta fronteira.

Embora tentem passar uma impressão de segurança jurídica em relação ao apartamento do Guarujá, auxiliares do ex-presidente começaram a dar sinais de dúvida na última semana. Aqueles que até a semana passada classificavam as acusações contra Lula de tentativas de criminalizá-lo politicamente, hoje usam a expressão "criminalização jurídica".

Aliados de Lula empenhados em reverter a situação esbarram em outra barreira: tanto o apartamento do Guarujá quanto o sítio usado pelo petista em Atibaia, cuja reforma teria sido paga pela Odebrecht, são assuntos estritamente pessoais, que nada tem a ver com questões partidárias ou governamentais como foi, por exemplo, o mensalão. Isso aumenta a dificuldade para abordar os temas.

Zelotes - Esse ponto fica ainda mais complicado quando se trata das investigações da Operação Zelotes contra Luís Cláudio, filho caçula do petista, cuja empresa, a LFT Marketing Esportivo, recebeu R$ 2,5 milhões da Marcondes & Mautoni, empresa investigada por fazer lobby pela suposta compra de uma medida provisória no governo Lula.

O ex-presidente evita o assunto até com auxiliares mais próximos e poucos ousam questioná-lo sobre o tema. No PT, prevalece a versão de que Lula não sabia do contrato e entregou o filho à própria sorte.

Recentemente, um aliado próximo de Lula esteve com Mauro Marcondes, dono da Marcondes & Mautoni, para levantar informações. O empresário garantiu que jamais conversou com o ex-presidente sobre a contratação da empresa de Luís Cláudio.

Mesmo assim, a legião de políticos que gravita em torno de Lula se sente "no escuro" e imobilizada enquanto vê o cerco se fechar em torno do principal símbolo do PT.

Pesquisas internas do partido deixam clara a erosão provocada pelas denúncias na imagem de Lula. Mas também mostram que frases infelizes do ex-presidente como "não tem uma viva alma mais honesta do que eu" e, principalmente, o mau desempenho do governo Dilma Rousseff têm efeito igual ou pior do que as denúncias.

Apesar da avalanche de acusações, o entorno de Lula mantém a confiança de que, ao cabo das investigações, o petista sairá limpo. Com isso, parte da erosão seria estancada. O mesmo otimismo não se repete quanto ao governo. Lula e boa parte do PT admitem em conversas reservadas que Dilma não "aprendeu a governar" e ainda age como ministra.

Por isso a fixação do ex-presidente com a reunião do Conselhão de sexta-feira. Para Lula, seria a chance de Dilma para dar uma guinada na política econômica e aproveitar o arrefecimento do pedido de impeachment para tirar o governo do atoleiro e chegar em 2018 em condições de permitir a Lula possibilidades de voltar ao Palácio do Planalto. Em conversa recente, o petista teria dito a Dilma que ela "precisa ser a presidente e não a ministra". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.