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Dilma reafirma que processo de impeachment é desejo de eleição indireta

27/04/2016 18h55

Brasília - A presidente Dilma Rousseff deu nesta quarta, 27, os primeiros sinais que pode ceder a pedidos da base aliada para propor a antecipação das eleições. Em discurso na abertura da Conferência Nacional de Direitos Humanos, ela classificou o impeachment de uma eleição indireta, disse que o "pecado capital" do processo foi a atuação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e lembrou o movimento das Diretas Já, em 1984. "Esse processo que leva ao impeachment disfarçado é uma eleição indireta", afirmou. "Portanto, não vamos deixar que encurtem o caminho para o poder através de eleição indireta falsificada", completou.

Aos gritos de "Fora Cunha" e "não vai ter golpe" dos presentes no evento, Dilma disse que o processo de impeachment contra ela "rouba" não apenas os 54 milhões de votos que a reelegeram em 2014, mas os 51 milhões que não votaram nela. "Milhões de brasileiros naqueles dias saíram de suas casas e colocaram os seus votos nas urnas. Todos eles terão seu voto roubado. Só tem um vencedor numa eleição, é o povo brasileiro. Por isso, não podemos desrespeitar as eleições diretas", afirmou.

Sem citar o grupo do vice-presidente Michel Temer, que costura um novo governo, Dilma afirmou que "eles" jamais vão discutir por exemplo uma legislação para a população LGBT, referindo-se a gays, lésbicas e transexuais. No seu discurso, Dilma ainda falou que o impeachment tenta impor a ela uma prática de contabilidade fiscal como crime, o que em outros governos não era considerado como tal.

"O processo de impeachment é uma meia verdade. Você faz uma meia verdade para encobrir sua mentira. Quando você faz o impeachment sem base legal, você está praticando um golpe. Golpe. É golpe", afirmou. "É claro que temos muitas formas de golpe. Temos aqueles feitos de armas nas mãos ou com tanques. O que se faz agora é com as mãos nuas, rasgando a Constituição", completou.

Antes dos afagos de Dilma à plateia formada por lideranças da área dos direitos humanos, em discurso, o jornalista Leonardo Sakamoto, que sempre atuou no combate ao trabalho escravo, lembrou das dificuldades do setor na época do governo Fernando Henrique Cardoso, demonstrou preocupação que entidades do setor sejam "caçadas" por um eventual governo de Michel Temer, mas disse que não poderia esquecer duas palavras que causaram problemas - Belo Monte -, referindo-se a uma das principais obras de infraestrutura do governo Dilma.