Documentos ligam Lula à trama para obstruir Lava Jato, diz Procuradoria
Na acusação, feita inicialmente pelo Procurador-Geral da República e reiterada pelo MPF do Distrito Federal após o caso ser remetido à Justiça Federal do DF com a perda de foro privilegiado de Delcídio, Rodrigo Janot afirma que Lula admitiu, quando foi ouvido durante a investigação, que chegou a tratar de "aspectos da Operação Lava Jato" em um dos encontros que manteve com Delcídio, mas negou ter participado ou mesmo saber de um esquema para comprar o silêncio de Cerveró.
A denúncia se baseia nas colaborações do senador cassado Delcídio Amaral (ex-PT, agora sem partido), do assessor de Delcídio, Diogo Ferreira, e também em documentos e relatórios da Polícia Federal que comprovaram os encontros dos envolvidos e os saques de dinheiro da família Bumlai em cinco pagamentos de R$ 50 mil.
Em depoimentos à Lava Jato, Delcídio afirmou ter tratado com Lula de estratégias para bancar despesas de Cerveró e sua família, como forma de evitar que ele contasse o que sabe sobre esquemas de corrupção na Petrobras que envolviam ele próprio, o pecuarista José Carlos Bumlai e o filho dele, Maurício Bumlai. Essas conversas teriam ocorrido em inúmeras reuniões entre o então congressista, que era líder do governo petista, e o ex-presidente.
De acordo com o aditamento da denúncia, feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR), Lula tinha consciência de que uma eventual delação de Cerveró poderia relacionar seu nome a esquema para que o PT obtivesse R$ 12 milhões, a partir de um empréstimo fictício feito por Bumlai no Banco Schahin.
Conforme a Lava Jato, como forma de quitar dívida de Bumlai, o Grupo Schahin foi contratado, de forma fraudulenta, para operar um navio sonda da Petrobras. "Nesse panorama, tem-se que Luiz Inácio Lula da Silva, Maurício Bumlai e José Carlos Bumlai tinham plena consciência de que a colaboração premiada de Nestor Cerveró poderia envolvê-los, não apenas no tocante à concessão do empréstimo, mas também e especialmente em relação à contratação irregular da Schahin para operar a sonda Vitória, considerando que Nestor Cerveró era o Diretor da Área Internacional na época dos fatos e tinha total conhecimento das ilicitudes", escreveu Janot.
Um documento apreendido no Instituto Lula demonstrou que em 8 de abril de 2015 Delcídio se encontrou com Lula na sede da entidade, em São Paulo. Nesse dia, conforme a delação do ex-congressista, o ex-presidente o exortou a "comprar o silêncio" de Cerveró. Dados do Senado mostraram que Delcídio voou a São Paulo na mesma data.
A quebra do sigilo de e-mails de funcionários do instituto revelou que Delcídio se reuniu com o ex-presidente também em 16 e 30 de abril; 19 de junho; e 31 de agosto de 2015.
Conforme a PGR, foi "precisamente no curso das tratativas da compra do silêncio de Cerveró e durante o período em que os pagamentos foram efetuados por Delcídio, José Carlos Bumlai e Maurício Bumlai".
Os investigadores sustentam que, entre as datas da primeira reunião com Delcídio e do primeiro pagamento a Cerveró, houve ainda diversas conversas por telefone entre Lula e Bumlai.
O primeiro pagamento, de R$ 50 mil, foi feito por Delcídio em 22 de maio de 2015, após receber o valor de Maurício Bumlai. A investigação mostrou que o valor foi sacado da conta de Maurício. No dia seguinte, Lula e Bumlai se falaram por duas vezes por telefone.
Já no período em que Delcídio buscava suporte financeiro para a família de Cerveró, a PGR verificou outros contatos entre o ex-presidente e Bumlai. Houve quatro telefonemas somente em 7 de abril de 2015, conforme a PGR.
"Há, portanto, diversos elementos que apontam, com segurança, para o envolvimento de Maurício Bumlai, José Carlos Bumlai e Luiz Inácio Lula da Silva na investida com o propósito de comprar o silêncio de Nestor Cerveró", sustenta Janot.
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