Gasto com saúde e ciência é investimento, diz nova presidente da Fiocruz
Em entrevista, ela ainda admitiu que a febre amarela não justifica uma corrida pela vacinação. Mas aponta que, de forma progressiva, a vacina contra a doença terá de entrar na carteira de vacinação e deverá ser incluída na política nacional de imunização. Para ela, porém, a inovação tem de ocorrer paralelamente ao tratamento de esgoto e a uma política de saneamento nacional.
Eis os principais trechos da entrevista:
Doenças tropicais como dengue, febre amarela e outras continuam a afetar o Brasil. O que pode ser feito para agir de forma mais eficiente?
Trata-se de um problema complexo que precisa ser respondido em várias frentes. A dengue afeta o Brasil há 30 anos e é uma das grandes preocupações. Mas precisamos associar uma política de saneamento, que é fundamental, com novas tecnologias de controle dos vetores. A política de saneamento é um dos grandes problemas enfrentados pelo Brasil. O que é ainda muito importante é um diagnostico preciso e nisso a Fiocruz tem liderado.
O Brasil pediu para usar estoque. Vacinar a população toda é uma boa solução ou deve ser um ato mais focado?
Alguns especialistas têm dito já há algum tempo o foco geográfico está progressivamente sendo revisto. Essa que é a questão. Não é uma emergência sanitária, pela própria característica da doença. Os focos são silvestres. Não se dão em área urbana, o que levaria a uma ação mais focada. Mas o fato é que hoje há uma grande circulação entre ambientes e há uma mudança nas áreas de matas. O desmatamento provoca uma consequência nas populações de macacos. Portanto, é um conjunto de fatores que exige um monitoramento permanente. A chave é adequando as estratégias de vacinação a isso. A tendência é que aquela faixa da população que ficava fora do campo de vacinação cada vez seja mais estreita. Não é uma política de emergência e não justifica um pânico, uma corrida em massa para a vacinação. Mas todos os especialistas e o Ministério da Saúde é para uma ampliação progressiva da vacinação.
Mas na avaliação da senhora seria bom uma vacinação da população inteira de alguns Estados?
Não é uma medida necessária e vários especialistas apontam isso. Mas o que se propõe também é uma progressiva ampliação da carteira de vacinação e incluir a vacina da febre amarela na política de imunização.
Mas o Brasil tem a capacidade de produzir vacina para abastecer suas necessidades? O governo acaba de recorrer aos estoques da OMS.
Historicamente, tivemos essa capacidade. Não apenas atendíamos ao Brasil, mas exportávamos. Nesse aumento, com o aumento da demanda, o que estamos fazendo é aumentar de maneira muito intensa essa produção e estamos em discussão com Ministério da Saúde para ampliar a produção atual. Hoje, já praticamente o dobro de uma capacidade que existia há dois anos. Foi algo muito intenso e a ideia é de que possamos produzir 70 milhões de doses, contra um total hoje de 30 milhões. Isso pode ser feito até 2018.
As limitações orçamentárias impostas pelo governo afetam a Fiocruz e esses planos?
É muito importante um orçamento assegurado para as ações de saúde. No caso da febre amarela, o compromisso do Ministério da Saúde é com continuidade do financeiro, dada a importância nacional. Mas eu diria que essa é a resposta desse momento. É importante também pesquisas que permitam o próprio aperfeiçoamento da vacina e também suporte para a atividade de pesquisa para o conjunto de problemas que afetam o Brasil, tanto as doenças negligenciadas, como outros problemas. Tudo isso requer recursos e, por isso, nós na Fiocruz, sempre temos uma linha de afirmar a importância de que as populações não sejam negligenciadas e também que tenhamos uma visão do gasto em ciência e tecnologia, do gasto em política social não como gasto, mas como investimento para o País.
Mas a senhora a está preocupada com eventuais cortes no setor da Saúde?
Sim, com certeza. Temos trabalho na linha da defesa, não apenas da instituição, mas do Sistema Unido de Saúde e da política de ciência e tecnologia.
A senhora esteve com a diretora-geral da OMS, Margaret Chan. O que existe entre a Fiocruz e a entidade para o futuro?
Podemos reforçar a colaboração para o futuro, tanto na área de doenças tropicais como pensando na resistência microbiana. Discutimos muito o fortalecimento do papel do Brasil e da Fiocruz no sistema de inovação global e a cooperação com os países africanos.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.