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'Cabeças pretas' do PSDB pressionam por desembarque

Pedro Venceslau e Vera Rosa, com colaboração de Igor Gadelha, Renan Truffi e Adriana Ferraz

São Paulo e Brasília

25/05/2017 13h25

A bancada do PSDB na Câmara está dividida sobre a permanência do partido no governo Michel Temer, destaca o jornal O Estado de S. Paulo. O grupo conhecido como "cabeças pretas", formado por jovens parlamentares do baixo clero, pressiona fortemente a cúpula da sigla a entregar imediatamente os cargos tucanos na administração.

O movimento "rebelde" ganhou uma adesão de peso: o deputado Carlos Sampaio (SP), vice-presidente jurídico do partido. "Penso que ser responsável com o país, hoje, é pensarmos imediatamente, de forma equilibrada e serena, numa transição que respeite o regramento constitucional. O presidente Michel Temer perdeu as condições mínimas de governabilidade", disse o parlamentar ao Estado.

Diante do avanço do grupo, o senador Tasso Jeiressati (CE), presidente interino do PSDB, foi chamado ontem para acalmar os ânimos na reunião da bancada, que conta com 48 deputados.

Por ora, a decisão é aguardar os próximos acontecimentos, mas o dirigente ouviu vários discursos exaltados. O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), também tenta conter o movimento. A ideia é ganhar tempo para articular uma saída política unificada da base e escolher um nome para disputar a eleição indireta em conjunto com o PMDB e o presidente Michel Temer.

A defesa de Temer pelos tucanos, porém, já não é mais tão enfática. "Se o presidente Temer por acaso tiver de sair, será por meio da Constituição. Não nos afastaremos um milímetro dela. Vamos seguir o livrinho", afirmou Tasso, referindo-se à possibilidade de eleição indireta no Congresso para escolher o sucessor de Temer.

Dos quatro ministros que o PSDB tem no governo, apenas o titular de Cidades, Bruno Araújo, compareceu ao encontro desta quarta. Quando as delações da JBS atingiram Temer, na semana passada, Araújo chegou a ensaiar um pedido de demissão. Deputado licenciado, o ministro foi convencido pelo presidente a ficar.

O PSDB e o DEM definiram que atuarão em bloco na crise. Enquanto os tucanos defendem o nome de Tasso em caso de eleição indireta, o DEM ventila a candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

"A decisão é sair unido, embora alguns achem que o partido deve sair já (do governo) e outros no próximo dia 6, após a votação (da cassação da chapa Dilma-Temer) no TSE. Tasso pediu a unidade de todos", disse Tripoli.

Ala jovem

Em outra frente, jovens lideranças do PSDB que ganharam força nas eleições municipais do ano passado também pressionam pelo rompimento do PSDB com a gestão Temer. "Não faz mais sentido continuar apoiando o governo Temer.", disse à reportagem o prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Orlando Morando.

Ele gravou em vídeo sua posição e distribuiu em um grupo de WhatsApp do PSDB. A iniciativa repercutiu na reunião da bancada. Outro nome "cabeça preta" que pede abertamente a renúncia de Temer é o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan. "Há um desejo da base do PSDB, de prefeitos, vereadores, deputados estaduais e alguns federais de sair da base do governo", disse o tucano.

Os diretórios estaduais do PSDB no Rio Grande e Rio de Janeiro se posicionaram pela saída do PSDB do governo.

O diretório de São Paulo ameaçava seguir o mesmo caminho, mas foi contido pelo governador Geraldo Alckmin, que está afinado com a cúpula nacional do partido.

Drive-thru

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), negou nesta quarta-feira que tenha engavetado os pedidos de impeachment do presidente Michel Temer protocolados na Câmara, com base na delação premiada da JBS.

Segundo ele, uma questão "tão grave como essa não pode ser avaliada num drive-thru". "Quanto tempo se discutiu, se passou aqui na crise do governo Dilma?", afirmou.