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Doria abre Museu de Arte de Rua e tem dia de grafiteiro

Doria, participou na manhã deste domingo (28) da inauguração da primeira etapa do Museu de Arte de Rua na zona norte da capital paulista - Bruno Rocha/Estadão Conteúdo
Doria, participou na manhã deste domingo (28) da inauguração da primeira etapa do Museu de Arte de Rua na zona norte da capital paulista Imagem: Bruno Rocha/Estadão Conteúdo

Fabiana Cambricoli

São Paulo

28/05/2017 21h08

Após apagar pichações e murais na Avenida 23 de Maio, e iniciar uma polêmica com artistas de rua nos primeiros dias de sua gestão, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), quem diria, teve neste domingo um dia de grafiteiro.

Sua estreia na arte de rua aconteceu em um muro da Rua Doutor Moacyr Vaz de Andrade, na Vila Gustavo, zona norte paulistana. Ali foi inaugurada na manhã de domingo a primeira área do MAR (Museu de Arte de Rua), projeto da Secretaria Municipal de Cultura que selecionou grafiteiros para colorir muros públicos.

Vestindo máscara, luvas pretas e camiseta do patrocinador da ação, uma marca de tintas, o prefeito empunhou um spray de cor vermelha para iniciar seu primeiro desenho. Ele pintou um grande coração, remetendo ao símbolo de um de seus projetos mais conhecidos: o São Paulo Cidade Linda.

A calça jeans e o sapatênis que costumam compor o look do gestor nas agendas mais informais não o impediram de subir em uma escada para terminar a criação e inserir acima do coração as letras S e P. Ao "assinar" a obra, o prefeito fez questão de mostrar que o conflito com os artistas de rua ficou no passado. Na mesma parede, deixou registrada a inscrição "J.Doria / Grafite é Arte".

Ao lado dele, jovens grafitavam dez murais. Ao contrário do prefeito, a maioria não estava preocupada com o cheiro da tinta ou em sujar as mãos - trabalhavam com o rosto e os braços descobertos. Desenhos de animais e pinturas que remetem à miscigenação brasileira e valorizam a cultura hip hop foram algumas das temáticas. A única regra imposta aos grafiteiros no edital municipal que criou o MAR era que os desenhos não tivessem apologia a práticas ilícitas, como violência e uso de drogas.

"Esse é o primeiro Museu de Arte de Rua. Foram os grafiteiros que escolheram (a área), assim como todas as demais áreas (que receberão o museu). A escolha é deles, a arte é deles e o que eles escolherem e onde escolherem, a Prefeitura viabiliza e o museu é implementado e passa a ser um ponto de visitação na cidade", declarou Doria.

Segundo o secretário de Cultura, André Sturm, também presente no evento, o primeiro edital do MAR levará pinturas para outros sete endereços, além do da zona norte. Cada coletivo de artistas selecionado para colorir os espaços vai receber entre R$ 10 mil e R$ 40 mil, dependendo do tamanho do muro e do número de grafiteiros envolvidos. As despesas com tintas e com os cachês dos muralistas serão pagos pela empresa patrocinadora.

Os grafiteiros presentes no primeiro MAR pareciam ter deixado no passado o conflito que tiveram com o prefeito no início da gestão. Autor de um dos desenhos apagados na 23 de Maio, o grafiteiro Deley, de 18 anos, por exemplo, estava entre os artistas que pintavam o muro da zona norte neste domingo. "Na época, eu achei que (apagar os grafites) foi uma falta de respeito e de diálogo, mas decidi participar do projeto porque considerei que é uma oportunidade para mostrar o valor da arte."