Livro relata mundo das mini TVs na Amazônia
Antenas da floresta é um rico painel de histórias sobre a produção de TV feita, em muitos casos, na raça, sem recursos, com vídeos de fundo de quintal. Jornalistas sem formação acadêmica e comunicadores autodidatas usam as miniemissoras legalmente nas brechas de um mercado com regulação especial. A autora conta que a região tem um regime próprio de operação do setor.
"Há duas categorias de retransmissoras de TV no Brasil: as da Amazônia Legal - apelidadas de mistas, por poderem atuar parte do tempo como geradoras - e as do resto do País, que apenas repetem o sinal emitido pelas geradoras", explica ela no livro.
Elvira diz que inicialmente pretendia mapear a propriedade dessas pequenas produtoras de conteúdo do "fundão" nacional. Experiente no assunto, que conhece bem das coberturas jornalísticas diárias desde os anos 1990, quando cobriu o setor para o jornal Folha de S.Paulo, ela montou um banco de dados sobre os donos de 1.737 canais.
"Identificar os proprietários das pequenas retransmissoras exigiu a busca de documentos e de informações em juntas comerciais, cartórios e nos bancos de dados públicos da Anatel, da Receita Federal e do Congresso Nacional", afirma. O levantamento, relata na obra, "mostrou que, a despeito do avanço dos políticos e das igrejas na radiodifusão, os empresários ainda formam o bloco principal entre os proprietários, com 718 canais, que correspondiam a 41% do total autorizado pelo governo até 2015".
O bloco dos políticos e seus parentes próximos vem em segundo lugar, "com 373 canais, 21% do total". Na sequência, "o Poder Executivo - federal, estadual e municipal - com 340 canais, 20% do total, e as igrejas, com 16% (271 canais), no quarto bloco".
O livro revela que sete senadores são do ramo: Romero Jucá (PMDB-RR), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Jader Barbalho (PMDB-PA), Acir Gurgacz (PDT-RO), Wellington Fagundes (PR-MT), e os maranhenses Edison Lobão (PMDB) e Roberto Rocha (ex-PSB, hoje no PSDB). Mas Elvira confessa que se "encantou" mesmo foi com histórias que encontrou quando, entre 2015 e 2016, visitou Mato Grosso, Maranhão, Tocantins e Pará. Ela fez mais de 200 entrevistas, que usa no livro para contar casos de exercício de poder político oculto, violência e bastidores da cobertura policial - como a prisão do sujeito que vendeu urubu como se fosse galinha. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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