'O País entrou na primeira República', diz antropólogo Roberto DaMatta
Qual a avaliação que o sr. faz da situação do Rio, onde os comandantes da política local nos últimos 20 anos estão presos?
Quando se tem um chefe de governo envolvido em escândalos de corrupção nesse nível, isso desmonta não só a administração estadual mas toda a política de eleição livre e competitiva, que é o coração da democracia. O eleitor olha e diz: vou votar para quê? Os próximos candidatos têm que se apresentar de maneira diferenciada em termos de programa e com o compromisso de honrar o papel para o qual pretendem exercer se eleitos.
Como o sr. viu o papel da Assembleia Legislativa, que chegou a soltar os deputados presos?
Temos urgentemente que discutir no Brasil os limites dos papéis e dos poderes. O caso da prisão dos deputados do Rio é um conflito de princípios. É fundamental reorganizar o Brasil política e juridicamente para a gente saber quem é que tem a última palavra. O país entrou na primeira República. Aquilo que foi feito está sendo desmantelado. Não se sabe mais - e é uma questão de princípios - se deputados têm imunidade ou não. Claro que têm, mas a imunidade é política e não absoluta para lhes dar direito de roubar a própria instituição. É trair seu próprio papel.
Qual é a solução?
A coisa mais urgente é fazer uma ampla e profunda discussão destes valores. Parece que estamos desmantelando toda uma estrutura. Por isso o paralelo com a primeira República, onde só acontecia revolução, revolta e desobediência e as relações entre Legislativo, Executivo e Judiciário eram completamente malucas. Precisamos fazer essa discussão.
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