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Casamento coletivo igualitário reúne 22 casais em SP

A cerimônia teve beijos, abraços e declarações de "eu te amo" - Werther Santana/Estadão Conteúdo
A cerimônia teve beijos, abraços e declarações de "eu te amo" Imagem: Werther Santana/Estadão Conteúdo

Priscila Mengue

São Paulo

27/11/2017 07h53

Olhos nos olhos. Uma mão sustentava o microfone enquanto a outra segurava firme a pessoa amada. Para alguns, faltou ar; para outros, sobraram lágrimas. Um a um, 22 casais repetiram o gesto na manhã de domingo (26), no Club Homs, na Avenida Paulista, durante o Casamento Coletivo Igualitário, primeiro evento do tipo realizado pela Prefeitura de São Paulo.

A cerimônia teve beijos, abraços e declarações de "eu te amo", como a do professor de Matemática Gilson de Araújo, 54, que começou os votos com "Robson, meu melhor amigo", referindo-se à relação surgida há dez anos na internet. "Tinha segundas, terceiras, quartas e quintas intenções, mas demorou para conquistá-lo", brinca.

A aproximação ocorreu em 2010, quando o metalúrgico Robson Bezerra da Silva, de 35 anos, resolveu trocar Pernambuco por São Paulo para curar uma desilusão amorosa. Ele se hospedou na casa de Araújo e nunca mais saiu.

Para a confeiteira Carla Francine, 28, o momento foi ao mesmo tempo "terrível" e "a melhor sensação". Ela conheceu a também confeiteira Tatiani Stolf, 24, há um ano, em um grupo no Facebook sobre feminismo negro.

O primeiro encontro foi em um samba e os demais seguiram musicais, desde o pedido de casamento (em um show de Liniker, ao som de Tua) até a despedida de solteiro (na festa Sarrada no Brejo). "A gente não se desgrudou desde que se conheceu", diz Carla.

Para elas, a superstição de não ver a noiva antes do casamento foi ignorada: não só compraram juntas as roupas e os sapatos (dourados, combinando), como Carla fez a maquiagem da esposa. Da casa onde moram, cada uma saiu com um buquê de flores na mão.

Simbolismo

A cerimônia também foi encarada como um manifesto por reunir apenas noivos gays, lésbicas, bissexuais e transgênero. "É uma forma de quebrar tabus. A gente está mostrando que se ama e que não tem nada de errado nisso", comenta a bartender Joyce Seccoe, 35 anos, que se casou com o auxiliar de produção Cris Duarte, 29, que é trans.

Como o determinado, o casal levou oito convidados para a cerimônia, dentre amigos e familiares. "Nem todo mundo aceita, por isso acho que a maioria (dos convidados) acaba sendo de amigos mesmo", aponta Joyce.

Para o recepcionista Bruno Rodrigues, 28, casado com o ajudante-geral Lucas Elizeu, 23, o evento foi a realização de um sonho atrasado pelos gastos de terem se mudado há dois meses. "Estava certo disso, até porque não casei pensando em me separar, me casei pensando que é para a vida inteira", disse.