Diretor da Transpetro 'era mantido pelo partido do senador Crivella', diz Machado
O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, delator da Operação Lava Jato, afirmou nesta segunda-feira (5) ao juiz federal Sergio Moro, que um diretor financeiro da estatal "era mantido pelo partido do senador Crivella", do PRB. O depoimento de Machado, em ação penal sobre propinas a um ex-gerente de Suporte Técnico de Dutos e Terminais Norte-Nordeste da Transpetro, durou cerca de 40 minutos.
Durante a audiência, a procuradora da República Jerusa Burmann Viecili perguntou a Machado se ele tinha "conhecimento de outros cargos que eram mantidos por outros partidos políticos dentro da Transpetro".
"Tinha o caso do diretor financeiro que era mantido pelo partido do senador Crivella", afirmou Machado. Marcelo Crivella é hoje prefeito do Rio de Janeiro.
No fim do depoimento, o juiz da Lava Jato quis saber de Sérgio Machado se "não havia outros executivos da Transpetro arrecadando para outros partidos".
"Que eu saiba havia, como eu falei, o diretor financeiro da Transpetro que tinha uma relação com o senador Crivella. Agora, eu nunca tomei conhecimento de arrecadação dele", relatou.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura do Rio, que informou que a demanda deveria ser encaminhada ao PRB.
A Executiva Nacional PRB negou a indicação. "A indicação não era e nunca foi do PRB. Era indicação do senador. O partido nem tinha conhecimento", diz nota.
Machado protagonizou em 2016 um capítulo de grande tensão da Lava Jato, quando gravou conversas com os quadros mais importantes do MDB, como o ex-presidente José Sarney e o senador Romero Jucá (RR), em que ambos revelaram preocupação com os rumos das investigações que supostamente pretendiam barrar.
'Fui indicado para a Transpetro pelo PMDB'
O ex-presidente da Transpetro falou ao juiz Moro como testemunha de acusação e de defesa. Ele afirmou que, para permanecer no cargo, "a regra vigente era que você tinha que dar contribuição, distribuir propina àquelas pessoas que te colocaram no cargo".
"Aquilo que o político chamava com nome bonito: contribuição política. Para que eu pudesse permanecer no cargo, eu após as licitações escolhia algumas empresas que pudessem me pagar propina e com isso eu pudesse permanecer no cargo", relatou.
"[Propina] era destinada principalmente àquelas pessoas que me colocaram no cargo, que eu fui indicado para a Transpetro pelo PMDB, mas principalmente pela bancada de senadores do PMDB."
Segundo o delator, as empresas sabiam que ele só permaneceria no comando da Transpetro se "atendesse reivindicação daquele grupo político" que o colocou no cargo.
"Se eu não atendesse a reivindicação daquele grupo político, eu ia ser tirado. Ao ser tirado, elas [empresas] perderiam aquela boa relação que tinham com o presidente da Transpetro que iriam assegurá-las que nas novas licitações elas estariam presentes. Excelência, a única coisa que eu podia fazer, que eu fazia, eu não indicava nenhuma empresa para participar da licitação. Isso era feito de forma independente pelo setor de Engenharia e Serviço, mas quando eu via uma relação que constava alguma empresa que não me pagasse, que parou de me pagar propina, eu podia retirar aquela empresa. E era esse o receio que as empresas tinham, que eu pudesse fazer com elas e como elas tinham uma boa relação comigo, elas tinham o maior interesse em continuar pagando para manter relação e continuar ganhando obra na Transpetro."
Moro perguntou a Sérgio Machado se ele ficava com parte da "contribuição política". O ex-presidente da Transpetro confirmou.
"Ficava, Excelência. Dessa contribuição política eu fiquei com a sobra que tinha no Brasil de 2 milhões anuais que eram destinados aos políticos e fiquei com uma parte que foi depositava no exterior de cerca de 73 milhões", afirmou. "[O dinheiro] foi todo devolvido no meu acordo", disse.
Machado foi um dos primeiros delatores a gravar conversas com alvos de sua delação. Para se livrar da prisão, o ex-presidente da Transpetro registrou áudios de diálogos com os caciques do PMDB, os senadores Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR) e o ex-presidente José Sarney, nas quais predominou suposta tentativa de obstrução da Lava Jato.
Machado entregou em maio de 2016 à Procuradoria-Geral da República as gravações dos encontros com Renan, Jucá e Sarney. Nessas reuniões, os senadores e o ex-presidente teriam demonstrado intenção de tramar contra a Lava Jato. Jucá sugeriu "estancar a sangria", em referência à maior operação já desencadeada no País contra a corrupção.
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