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Aliados de ex-presidente conduzem acordo com delegado da PF

Ricardo Galhardo e Marcelo Godoy; Colaboraram Cleide Silva, Andre Ítalo, Luciana Dyniewicz e Francisco Carlos de Assis

Em São Paulo

07/04/2018 08h02

Conhecida a decisão de Luiz Inácio Lula da Silva de não se apresentar à Justiça, advogados do ex-presidente e a direção do PT abriram um canal de negociação com a cúpula da Polícia Federal. O responsável pelo primeiro contato foi o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, que cancelou uma viagem para a Espanha e passou toda a sexta-feira (6) na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, onde Lula está desde a noite do dia anterior. A partir de então, as negociações foram conduzidas, pelo lado de Lula, por três pessoas cujos nomes não foram divulgados.

Em nome da PF, as conversas foram lideradas pelo delegado Igor Romário de Paulo. Diante do impasse, ele afirmou que a possibilidade de entrar à força no sindicato era "remota". "A prioridade é evitar confronto, o que faria inflar ainda mais os ânimos", disse.

Segundo petistas, por volta das 15h a PF foi informada que Lula não se entregaria em Curitiba, contrariando a ordem de prisão assinada pelo juiz da 13º Vara da cidade, Sergio Moro. Os emissários do ex-presidente alegaram falta de tempo hábil para viabilizar a viagem.

Na verdade, foi uma decisão política. Lula não queria passar a impressão de ter se "curvado" ao juiz Moro e à força-tarefa da Lava Jato. Além disso, movimentos sociais que participaram das mobilizações em defesa de Lula fizeram chegar ao ex-presidente posicionamento contrário à rendição do petista. Alguns deles disseram que estariam dispostos a resistir fisicamente ao cumprimento do mandado de prisão.

Pessoas que participaram das conversas disseram que a radicalização de aliados do ex-presidente faria parte de uma estratégia para tentar apressar o julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) sobre a prisão em segunda instância no Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com estas fontes, o fim da prisão em segunda instância interessaria a adversários políticos do ex-presidente Lula tanto no Congresso quanto no governo.

Segundo relatos que pessoas que estiveram com o ex-presidente, Lula teria alternado momentos de emoção e até choro. Apesar da expectativa, ele acabou não discursando em um carro de som no local.

Tropa de Choque

Desde a noite de sexta-feira, o comando da Segurança Pública se preparou para a "resistência de Lula e dos petistas". Dois pelotões do 3º Batalhão da tropa de choque foram enviados pelo comandante-geral, coronel Nivaldo Restivo, para São Bernardo do Campo.

Eram cerca de 60 homens com um caminhão lançador de água com a ordem de atuar somente em caso de quebra da ordem e se o policiamento territorial não fosse suficiente para restabelecê-la.

Todos o restante do Comando de Policiamento de Choque permanecia em prontidão em São Paulo. Não havia ordem então para que a tropa capturasse o líder petista, mas sua presença na região do ABCD servia como um instrumento de dissuasão.

À tarde, o comando da Segurança Pública foi informado que Lula não ia se entregar. O ex-presidente só deixaria a sede do sindicato após missa em memória de sua mulher, dona Marisa Letícia, que deve se realizar hoje na sede do sindicato. O petista ainda tentava permanecer preso em São Paulo em vez de ser levado para Curitiba.

Empossado na sexta-feira no cargo, o governador Márcio França disse que "ordens judiciais são para ser cumpridas". "A gente não pode achar bonito nem gostoso ter um ex-presidente da República com uma dificuldade desse tamanho. Mas ordens judiciais não são para ser discutidas, são para ser cumpridas", disse França.

A ideia é que Lula se apresente neste sábado (7), em "campo neutro", depois da missa em homenagem ao aniversário de 68 anos de dona Marisa Letícia.