Topo

Laudo de janeiro de 2017 já apontava risco de incêndio em prédio que desabou

Laudo mostra quadro de luz em prédio que desabou - MPF-PR/SP
Laudo mostra quadro de luz em prédio que desabou Imagem: MPF-PR/SP

Bruno Ribeiro

Em São Paulo

03/05/2018 07h19

Um laudo de sete páginas, feito pela Prefeitura de São Paulo ainda em janeiro do ano passado, atesta que o Edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou na terça-feira (1º), após pegar fogo, "não reunia condições mínimas de segurança contra incêndio", por causa das instalações elétricas precárias. O documento serviu de base para que o Ministério Público Federal enviasse, ainda no ano passado, uma recomendação à Superintendência do Patrimônio Público da União (SPU/SP) para que fosse feita uma "reforma estrutural emergencial" no prédio do Largo do Paiçandu, que acabou não sendo realizada.

A recomendação pedia, entre outros pontos, que se instalassem dispositivos como extintores. O inquérito da Procuradoria da República afirma que, ao receber a recomendação das obras de emergência, o superintendente da SPU, Robson Tuma, respondeu que havia iniciado uma negociação para o repasse do imóvel à prefeitura.

Segundo a Procuradoria, a superintendência "informou ainda que a reforma e demais medidas recomendadas pelo MPF seriam comunicadas ao ente municipal", que também poderia fazer a desocupação da área.

Tuma não foi localizado nesta quarta-feira (2) para comentar o caso. O MPF abriu dois inquéritos, um de improbidade administrativa para apurar responsabilidades pela tragédia, e outro para acompanhar realocação e possível indenização das vítimas.

Ao confirmar que a prefeitura já sabia das condições precárias do imóvel, o prefeito Bruno Covas (PSDB) afirmou nesta quarta que "o laudo fala por si". Para ele, a prefeitura vinha fazendo o que lhe cabia na situação.

"Se a prefeitura não quisesse participar do problema, não teria procurado o governo federal. Não se furtou de resolver o problema", afirmou, ao comentar que a Secretaria da Habitação havia feito seis reuniões, já neste ano, após o convênio com a SPU, com os moradores do prédio que ruiu.

Técnicos apontaram que a parte elétrica possuía 'uma série de inadequações' - MPF-PR/SP - MPF-PR/SP
Técnicos apontaram que a parte elétrica possuía 'uma série de inadequações'
Imagem: MPF-PR/SP

Análise

Na vistoria de janeiro do ano passado, os técnicos da prefeitura apontaram que a parte elétrica do prédio tinha "uma série de inadequações". O documento traz anexa uma foto em que é possível ver disjuntores instalados em uma placa de madeira, com vários fios expostos. Abaixo, escrito a mão, "está expressamente proibido mexer nos disjuntores". Há outras cinco imagens exibindo fios elétricos expostos.

Os técnicos anotaram também o fato de não terem encontrado nenhum extintor de incêndio nos dez andares visitados. "O sistema de hidrantes encontra-se inoperante, não havendo mangueiras e acessórios necessários ao funcionamento."

As falta de condição de se escapar de um eventual incêndio também foram descritas no relatório, que citou a falta de luzes de emergência, de alarmes e também de corrimão nas escadarias.

Vistorias

A partir de segunda-feira, a prefeitura começará a vistoriar cerca de 70 prédios ocupados por movimentos de moradia, "a maioria na região central", segundo Bruno Covas. A ideia é negociar, com os movimentos, a entrada dos técnicos da Defesa Civil e da Secretaria Municipal da Habitação. Constatada a necessidade de intervenções, os técnicos poderão propor mudanças aos próprios moradores.

Mas o Secretário Municipal da Segurança Urbana, José Roberto Rodrigues, afirmou que, dependendo do quão críticas forem as condições dos edifícios, a Prefeitura poderá buscar formas judiciais de garantir a interdição dos edifícios. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".