Para especialistas, Datena pode atrair eleitores em busca do novo
Ricardo Caldas, professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB), acredita que a população brasileira tem "sede" de novos nomes porque os existentes no cenário atual estão desgastados. "O fenômeno dos outsiders veio para ficar e as pessoas realmente querem isso. Por isso, o Datena tem um patrimônio muito grande", explica.
Para Caldas, nomes como os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Alvaro Dias (Podemos) e Jair Bolsonaro (PSL) tentam adotar um discurso de outsider por serem de legendas de menor expressão, mas não estão fora do sistema político. Ciro e Marina, por exemplo, são ex-ministros, enquanto Alvaro Dias é senador pelo terceiro mandato consecutivo e Bolsonaro acumula sete mandatos na Câmara dos Deputados.
"Hoje as pessoas buscam nomes que não estejam envolvidos no sistema político. Muitos gostariam de ser 'zero quilômetro', mas não são. A questão é diferenciar o discurso da prática de um outsider", afirma.
Datena chegou a ser filiado do Partido dos Trabalhadores (PT) entre 1992 e 2015, quando deixou a legenda para entrar no Partido Progressista (PP), de Paulo Maluf. Na época, o apresentador cogitava disputar a Prefeitura de São Paulo, mas acabou desistindo. Em setembro de 2017, filiou-se ao Partido Republicano Progressista (PRP) e, desde abril de 2018, está no DEM.
Em meados deste mês, interlocutores do partido disseram avaliar até a possibilidade de lançar uma candidatura do apresentador à Presidência, como revelou o site BR18. Dentro da legenda, há quem sugira também a opção de ser vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin (PSDB).
"Eu me proponho a ser candidato ao Senado. Agora, se pintar a possibilidade de ser candidato à Presidência da República, talvez eu tente ajudar o meu País. Quero ser candidato para ajudar o povo", afirmou Datena ao Estadão em 15 de junho.
Para o professor e cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Datena se insere no perfil do outsider por ser de fora do meio político, ter grande visibilidade na mídia e levantar a bandeira contra a violência, tema cada vez mais sensível.
"O discurso dele combina com a sensação de desamparo da população com tanta criminalidade. É um elemento que incomoda e fragiliza a sociedade e todo o discurso direcionado para isso tende a ter uma recepção muito boa", afirma.
Em maio, uma pesquisa do Ibope/Band mostrou que o apresentador tinha 24% das intenções de voto, atrás do vereador Eduardo Suplicy (PT), com 30%.
Projeção política
Prando avalia que a candidatura deve dar maior projeção e robustez política a Datena. "Caso eleito, ele conseguiria desenvolver um pouco de traquejo e vivência política até para pensar em voos mais altos no futuro."
O cientista político diz também que a candidatura pode fortalecer a imagem da sigla nacionalmente. "Serve para dar uma projeção para o partido pela visibilidade enorme e pelos ganhos políticos muito evidentes". No entanto, o cientista político ressalta que Datena terá de se adaptar às lideranças, à dinâmica e aos elementos institucionais de um partido. "Será preciso negociar e discutir muito para se firmar naquele espaço."
Cláudio Couto, cientista político e coordenador do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, também acredita que a candidatura de Datena fortalece o DEM. Hoje, o partido tem uma bancada de 43 deputados federais e cinco senadores, tornando-o um aliado atraente para qualquer legenda.
"Ter um candidato tão competitivo é um grande passo importante para o fortalecimento partidário", diz. Para Couto, há no Brasil hoje um ambiente de rejeição à classe política e propício para candidatos com agenda focada na segurança, caso de Datena.
Para Couto, o apresentador consegue angariar votos de diferentes perfis de eleitores e sua entrada na política pelo Senado poderia ser o início de uma plataforma mais ampla no futuro.
Na avaliação de Vera Chaia, cientista política da PUC-SP, Datena sai na frente de outros candidatos por ser conhecido por grande parte do eleitorado e ter posições muito claras em relação a temáticas como a maioridade penal e o desarmamento, temas que sensibilizam o eleitorado. "Ele não precisa de marqueteiro porque sabe o que quer e sempre falou muito disso", diz.
Para Vera, os assuntos levantados pelo pré-candidato do DEM podem impactar outras legendas também. "Ele pode não só ter uma votação expressiva como também é capaz de influenciar os outros candidatos", avalia.
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