Topo

"Marta percebeu que as pessoas sentiram por ela ter saído do PT", diz Suplicy

Rodrigo Félix Leal/Estadão Conteúdo
Imagem: Rodrigo Félix Leal/Estadão Conteúdo

Daniel Weterman

São Paulo

05/08/2018 18h10Atualizada em 06/08/2018 08h54

Ex-marido da senadora Marta Suplicy, o vereador da capital paulista Eduardo Suplicy (PT) avalia que a saída de Marta do MDB e da vida partidária ocorre após ela ter percebido que os eleitores lamentaram sua saída do PT, em 2015.

"Acho que decorre muito das situações difíceis que ela acabou vivendo por ter saído de um partido que tanto a havia apoiado", disse Suplicy, que é candidato ao Senado nas eleições de outubro.

A senadora se desfiliou nesta sexta-feira do MDB, partido em que estava desde setembro de 2015 após ter deixado o PT. Ela está no último ano do mandato no Senado.

Para o vereador, Marta decepcionou seus eleitores ao votar pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e a favor da reforma trabalhista proposta pelo governo Michel Temer. "Pelo que eu percebo, muitas pessoas ficaram sentidas com ela. Acho que ela deve ter percebido isso e talvez achado melhor (sair)", declarou o político.

Para os filhos e netos, Suplicy acredita que a decisão foi positiva, pois agora Marta passaria a ter mais tempo para se dedicar à família.

Não fugindo de seu roteiro de décadas, Eduardo Suplicy afirma que vai procurar conversar com Marta para que ela, mesmo fora de cargos públicos, defenda sua proposta de instituir a chamada Renda Básica de Cidadania no país.

Carta aos eleitores

Em carta endereçada aos seus eleitores escrita nesta sexta, Marta Suplicy anunciou que não concorrerá à reeleição como senadora e a desfiliação do MDB. Em seguida, diz não ser “novidade que os partidos políticos brasileiros, de forma geral, encontram-se fragilizados, acuados e sem norte político”.

Segundo ela, os partidos “não conseguem dar respostas à crise de credibilidade que se abateu sobre eles e nem tampouco estão empenhados na mudança de posturas que os levaram à mais grave crise de suas histórias”, além de se movimentarem apenas com o objetivo de aumentar as bancadas no parlamento.

“Neste momento, creio que poderei contribuir mais para mudanças atuando na sociedade civil do que continuando no parlamento. Permanecerei participando politicamente da vida pública brasileira. A partir de 2019, não mais como parlamentar, mas em todas as trincheiras que me levem ao lado da defesa dos interesses dos mais pobres, dos injustiçados e na luta pelo empoderamento das meninas e das mulheres”, escreveu.

Antes, Marta foi filiada ao PT por 34 anos, desde 1981. Nesse período, foi deputada federal por São Paulo, de 1995 a 1999, e prefeita da capital paulista, de 2001 a 2004.

Marta foi ministra do Turismo entre 2007 e 2008, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e da Cultura, de 2012 a 2014, na gestão de Dilma Rousseff (PT). Em 2016, já no MDB, a senadora votou a favor do impeachment da petista.

A última eleição disputada por Marta foi para a prefeitura de São Paulo em 2016, vencida por João Doria (PSDB). Ela obteve 587.220 votos e ficou em quarto lugar, atrás de Doria, Fernando Haddad (PT) e Celso Russomanno (PRB).

Veja a íntegra da carta de Marta:

Carta aos eleitores

"Muitas vezes, vi-me em tempos de travessia. Em alguns deles, acreditei ter luzes no outro lado do rio. Agora, com toda a energia necessária para continuar remando, tomei a decisão sobre o futuro da minha vida política, encarando a realidade de frente, para poder seguir com coerência, ousadia e coragem.

Anuncio que não concorrerei à reeleição a senadora da República pelo Estado de São Paulo e comunico a minha desfiliação do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

Não é novidade que os partidos políticos brasileiros, de forma geral, encontram-se fragilizados, acuados e sem norte político. Não mais conseguem dar respostas à crise de credibilidade que se abateu sobre eles e nem tampouco estão empenhados na mudança de posturas que os levaram à mais grave crise de suas histórias. Orientam suas movimentações políticas pela lógica exclusiva de fazerem crescer suas bancadas parlamentares com o objetivo perverso e mesquinho de fortalecerem-se na divisão e loteamento de cargos e espaços de poder.

A relação de grande parte dos partidos e de parlamentares com o Executivo na base de nomeações e vantagens levou ao insuportável “toma lá dá cá”, afrontando todos os padrões de dignidade e honradez da sociedade. Esse sistema faliu e precisa ser, urgentemente, reformado.

O Congresso Nacional, hoje, na sua maioria, não tem se colocado a favor das causas progressistas, fundamentais para o avanço da sociedade. Ao contrário, tornou-se refém de uma agenda atrasada dos costumes da sociedade, negando-se a reconhecer e a regulamentar as relações entre as pessoas de forma a contemplar as diversidades das sociedades modernas e a respeitar os direitos individuais do ser humano.

Quero agradecer aos 8,3 milhões de paulistas que me deram a oportunidade de, nos últimos 8 anos, trabalhar como senadora defendendo as bandeiras que me levaram à vida pública: o combate às desigualdades e às injustiças sociais, a militância pelos direitos de cidadania das mulheres e da população LGBTI e pela igualdade de oportunidades para todos.

Neste momento, creio que poderei contribuir mais para mudanças atuando na sociedade civil do que continuando no parlamento. Permanecerei participando politicamente da vida pública brasileira. A partir de 2019, não mais como parlamentar, mas em todas as trincheiras que me levem ao lado da defesa dos interesses dos mais pobres, dos injustiçados e na luta pelo empoderamento das meninas e das mulheres.

Estou convencida de que o Brasil precisa de um projeto nacional de desenvolvimento estruturado que abranja setores fundamentais para o crescimento do país. Temos de aumentar, significativamente, a produção e a riqueza. Isso possibilitará todo brasileiro e toda brasileira terem educação de qualidade, saúde, segurança e um emprego para trabalhar e viver com dignidade.

São Paulo, 03 de agosto de 2018.
Senadora Marta Suplicy"

Marta Suplicy anuncia que não tentará reeleição

Band News