Topo

Interventor nega mudança de estratégia em operação no Rio

Tânia Monteiro

Brasília

21/08/2018 23h00

O comandante militar do Leste e interventor federal da Segurança Pública do Rio de Janeiro, general Walter Braga Netto, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que "não houve mudança de estratégia" no enfrentamento ao crime organizado. Na segunda-feira, 20, houve a entrada de militares das Forças Armadas nos Complexos da Maré e do Alemão, na zona norte, o que levou a duas baixas no Exército.

"O que mudou é que o trabalho de inteligência está mais aprimorado", declarou o general Braga Netto, ao explicar que as Polícias Militar e Civil do Rio estão agora mais treinadas, atuam em conjunto com as Forças Armadas, sob um comando único, e estão enfrentado o crime "com eficácia". Antes, comentou, "os bandidos estavam acostumados a dar tiros e nada acontecia. Só que, agora, isso mudou. Existe uma política de enfrentamento da bandidagem." De acordo com fontes do Estado, a ação com "surpresa" foi o diferencial da operação.

Nesta terça-feira, 21, de acordo com o comando de intervenção, não houve tiroteios na região. Na segunda, as operações foram realizadas simultaneamente nos complexos da Maré e do Alemão. Nas diversas operações realizadas nesta segunda, no Rio, cinco suspeitos foram mortos - as investigações ainda estão sendo realizadas. Somado às ocorrências também em Niterói, o saldo da segunda-feira foi de 56 presos, quatro adolescentes apreendidos, resgate de nove fuzis e 14 pistolas, além de três granadas e 1045 cartuchos variados.

De acordo com o general Braga Netto, todo o trabalho foi feito com auxílio da inteligência "que, a cada dia, está se aprimorando mais". Ele citou que os bandidos resolveram enfrentar as tropas estaduais e federais e estes militares, ao contrário do que acontecia antes, estão reagindo e partindo para o confronto.

O general lembrou ainda que o pessoal está motivado e treinado e isso torna o trabalho mais efetivo. "Não houve mudança de estratégia para colocar o Exército ou PM à frente das operações. Cada ação tem um desenho cuidadosamente traçado. O trabalho de ontem (segunda) contou com a Polícia Civil e um respaldo muito bom da inteligência, que apontou os alvos", prosseguiu. Ele explicou também que esta operação foi muito maior do que outras, porque a região é perigosa já que no Alemão funciona o quartel-general do Comando Vermelho.

O general respondeu às críticas de que, se o comando da intervenção usasse a inteligência para auxiliar as operações, o confronto seria evitado. "Isso é uma bobagem. Isso não existe", avisou o responsável pela intervenção no Rio. Ele esclareceu que a inteligência "clareia" o trabalho e permite que as forças policiais cheguem com mais precisão aos alvos. Na avaliação do comando, com a situação que existe hoje no Rio, com o Estado completamente "deteriorado" e tantas facções fortemente armadas, o enfrentamento acaba acontecendo naturalmente.

Nas operações anteriores, justificou o general Braga Netto, era feito um cerco e a estabilização. Desta vez, ocorreu o mesmo, mas a operação tem maior proporção por causa do tamanho da área e pelo fato de haver uma Unidade Pacificadora (UPP) em funcionamento. Segundo o general, 4,2 mil homens participaram da operação de segunda-feira e este número é semelhante ao usado em outras ações.

Elemento surpresa

De acordo com informações obtidas pelo jornal O Estado de S. Paulo, a diferença da operação desta segunda, que levou a várias baixas é que houve o "elemento surpresa" e um trabalho integrado, como já estava sendo feito em outras comunidades. "Não houve mudança de estratégia. O que houve é que nós os surpreendemos pelo trabalho de inteligência muito bem feito e, ao surpreendê-los, tendo em vista o volume de ilícitos que há ali e números de criminosos, de toda ordem, em uma área densa de criminalidade, houve um desfecho de maiores proporções", comentou um dos militares envolvidos na operação.

O comando lembra que a polícia está se requalificando e disposta ao enfrentamento. Apesar das mortes de militares das Forças Armadas, as operações de busca, apreensão, cumprimentos de mandados com execução de prisões vão continuar. Com o trabalho de operação mais aprimorado, as tropas federais podem chegar de forma mais eficaz aos pontos a serem atacados, levando ao confronto e até a mortes.

Para os militares, é preciso desmistificar a ideia de que operar com inteligência significa não precisar ter operação convencional, principalmente se há disposição dos criminosos de aterrorizar a sociedade e partir para o confronto com as forças policiais. Mesmo lamentando a morte dos dois integrantes do Exército, os militares reiteram que as operações prosseguirão para capturar os bandidos, drogas e armas. Esses mesmos militares lembram que o risco é inerente à atividade policial e à vida nas Forças Armadas.

Os militares se incomodam também com as críticas de que eles não têm uma política de enfrentamento e explicam que este enfrentamento tem sido feito pelos bandidos. Eles lembram que muitos criminosos, ao se verem encurralados, se entregam, e estes não são mortos.