Candidatos perdem R$ 33 milhões ao guardar dinheiro em casa
Conforme dados informados à Justiça Eleitoral, o montante chega a R$ 673 milhões e representa 17% de todas as modalidades de aplicações dos candidatos. Ao todo, eles possuem R$ 3,9 bilhões de patrimônio em investimentos.
Especialistas em finanças ouvidos pela reportagem desaconselham a prática de deixar dinheiro em caixa parado, sem rentabilidade. Betty afirmou que o porcentual é ultrajante e que, se os valores estivessem alocados numa aplicação básica atrelada à taxa Selic, renderiam pelo menos R$ 33 milhões em juros pagos para daqui a um ano, em valores reais, descontados o imposto de renda e a inflação.
"Os candidatos estão se dando ao luxo de não ganhar R$ 33 milhões no período de um ano. Quem é maluco de perder essa oportunidade? Por que essas pessoas têm tanto dinheiro parado e com que finalidade?", questiona Betty. "É muito alto, um ponto fora da curva, na média de uma carteira ter 17% em dinheiro. Não me parece razoável", afirma o professor de Finanças Fábio Gallo, da PUC-SP e da FGV-SP.
Nos cálculos, os especialistas consideram parados também valores em moeda estrangeira, declarados como em posse dos candidatos ou depositados no exterior.
Como o jornal O Estado de S. Paulo revelou, 2.390 candidatos declararam neste ano ter R$ 304 milhões em espécie, apenas em moeda nacional, sendo que 36 deles informaram ter quantias que variam entre R$ 1 milhão e R$ 5,3 milhões no colchão. O Tribunal Superior Eleitoral e a Receita Federal suspeitam de lavagem de dinheiro e caixa 2 de campanha.
"Hoje em dia é raro algum lugar que você precise de dinheiro em moeda. Cartão de crédito resolve tudo", diz Marcio Reis, diretor de pesquisas econômicas do aplicativo GuiaBolso. "Vejo dois cenários: ou a pessoa não acredita muito na economia e está se protegendo; pode ter algum lado de fraude e a pessoa que é muito informal."
A aplicação mais comum entre as modalidades usadas pelos candidatos é a renda fixa, embora eles tenham um perfil mais arrojado e assumam mais riscos com o dinheiro próprio do que a média do investidor brasileiro. Os candidatos que mais investem em opções clássicas da renda fixa (como CDB e RDB, entre outros) são Fernando Marques, empresário do setor farmacêutico e candidato a senador pelo Solidariedade no Distrito Federal, e o engenheiro João Amoêdo, candidato a presidenta da República pelo partido Novo nas eleições 2018. Ambos são os mais ricos a disputar as eleições. Marques colocou em renda fixa R$ 117 milhões dos R$ 668 milhões informados como patrimônio. Amoêdo, por sua vez, informou ter alocado em renda fixa R$ 217 milhões de seus R$ 425 milhões em bens. No conjunto de candidatos, a renda CDB e RDBs representam 23% das opções de investimento, com um montante de R$ 923 milhões, o maior isoladamente.
"Diante da incerteza eleitoral, a manutenção em recursos conservadores é uma estratégia cautelosa e protetiva. Ativos de renda variável tendem a ser muito mais voláteis às pesquisas e, em tempos de eleição, podem acabar sendo inadequados, especialmente àqueles que têm pouca tolerância ao risco e às oscilações ou, ainda, para aqueles que não podem se dar ao luxo de perder dinheiro, caso precisem vender com urgência seus ativos num mau momento", pondera Betty.
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